Alex Pazuello/Semcom

“As pessoas não percebem que o inverno está chegando”, disse o médico e cientista Miguel Nicolelis, fazendo referência a série Game of Thrones. Nicolelis é uma das vozes mais fortes a favor do isolamento social como principal forma de combater a pandemia de covid-19, doença causada pelo coronavírus. Em entrevista ao Extra, Nicolelis lembra que o primeiro pico da pandemia ocorreu justamente durante os meses de junho e julho, invernodo ano passado. Com a situação fora de controle agora, o cientista teme que as próximas semanas signifiquem uma catástrofe ainda maior, com as pessoas saindo às ruas, enchendo bares, praias. Já são 400 mil mortos, que, na previsão do cientista, podem se transformar em 500 mil ainda em junho. “Eu não tenho muita dúvida disso”, diz Nicolelis.

“Até semana passada, morreram mais pessoas nos primeiros quatro meses de 2021 do que no ano inteiro passado. E tem outra estatística que eu levantei pouco tempo atrás, é que em abril nós vamos ter o menor diferencial entre nascimentos e mortes da história do Brasil. Já teve o menor, que foi uma diferença de 47 mil nascimentos a mais que mortes em março. Em 2019, a média mensal era de 126 mil nascimentos a mais do que mortes. Em abril, está na casa dos 15 mil. Estamos correndo o risco de termos mais mortes do que nascimentos no Brasil pela primeira vez na história”, revelou o cientista ao jornal Extra.

Para Nicolelis, o Brasil ainda corre o risco de enfrentar um colapso funenário. Ele criticou a “estratégia sanfona” de isolamento no país, onde você abre e fecha o comércio e atividades não essenciais com o passar o tempo. “Você nunca controla o vírus, nunca está à frente. Só reage a dinâmica. Isso gera uma previsão catastrófica. Talvez junto com o primeiro-ministro do Reino Unido (Boris Jhonson), lá no início, foram as piores do G-20. E agora estamos vendo a Índia. Outra catástrofe. A Índia deve ter uma subnotificação de dez a 20 vezes dos mortos. Imagine que devem estar morrendo 40 mil pessoas lá diariamente. E aqui no Brasil desde o começo foi uma catástrofe. A crônica da morte anunciada. Existe uma cadeia de erros crassos”, analisou. (Correio da Bahia)