TV Globo

A presença de quatro jogadores argentinos vindos da Inglaterra provocou, no domingo (5), a suspensão do jogo entre Brasil e Argentina pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. O Jornal Nacional teve acesso a documentos que mostram que eles entraram em campo mesmo depois de o Ministério da Saúde ter recusado um pedido de excepcionalidade para que pudessem jogar.

Os agentes da Anvisa e da Polícia Federal entraram em campo para retirar quatro jogadores argentinos: Emiliano Martínez, Emiliano Buendía, Lo Celso e Cristian Romero. CBF e Associação de Futebol Argentino lamentaram o ocorrido e disseram que foram surpreendidas pela ação da Anvisa, pouco mais de quatro minutos depois do início da partida.

Um relatório da Anvisa detalha várias tentativas de notificar oficialmente os jogadores de que eles tinham que fazer quarentena. A primeira foi no sábado (4), mas eles já tinham saído do hotel para o treino. No domingo, antes da partida, a tentativa de notificação foi bloqueada pelos dirigentes da AFA. No estádio, houve uma outra tentativa das autoridades brasileiras e, mais uma vez, os argentinos se negaram a assinar a autuação.

Segundo a Anvisa, eles descumpriram uma portaria do governo federal, de junho deste ano, que determina que, para entrar no Brasil, o viajante que passou por Reino Unido, Irlanda do Norte, África do Sul ou Índia, nos últimos 14 dias, tem de assinar um documento dizendo que está ciente de que terá de cumprir quarentena ou isolamento de 14 dias.

Os quatro entregaram um documento como se não tivessem passado por nenhum desses países. A informação foi desmentida pelos passaportes dos quatro que atestavam passagem pela Inglaterra. No dia anterior à partida, no sábado (4), às 17h, foi feita uma reunião entre os órgãos de saúde, Conmebol, CBF e delegação argentina.

No encontro, foi reforçada a recomendação de que os jogadores não poderiam comparecer ao treino previsto para aquele dia até que fosse solicitado formalmente o pedido de excepcionalidade de circulação no país, e que o mesmo pudesse ser analisado pelo Ministério da Saúde e que houvesse um posicionamento final da Casa Civil. E a Conmebol e a delegação da Argentina foram orientadas a formalizar o pedido de excepcionalidade com a máxima urgência, para que a análise da documentação fosse viável antes da realização do jogo.

O pedido de excepcionalidade de circulação no país já foi aplicado antes no Brasil. Em junho, nas partidas pelas Eliminatórias da Copa, o governo brasileiro havia aberto uma exceção para jogadores brasileiros vindos da Inglaterra, que foram dispensados da quarentena, mas que tiveram de ir direto para a concentração.

O relatório da vigilância aponta que as recomendações não foram seguidas pela delegação argentina. Os quatro jogadores não permaneceram no hotel no sábado, e o pedido de excepcionalidade não foi feito ao governo brasileiro. A Casa Civil informou que não houve qualquer solicitação anterior ao voo de entrada dos jogadores no Brasil, impossibilitando qualquer tipo de atuação da Casa Civil.

O Jornal Nacional teve acesso com exclusividade a uma troca de e-mails iniciada no sábado, às 18h30, em que a Associação de Futebol Argentino solicita a um órgão da Anvisa autorização para que os atletas permanecessem no Brasil em caráter de excepcionalidade. Em seguida, o Ministério da Saúde e a Casa Civil foram envolvidos nos e-mails. A resposta definitiva do governo veio na tarde de domingo.

Em um ofício também obtido pelo Jornal Nacional, o Ministério da Saúde, às 15h09, menos de uma hora antes do início da partida, negou o caráter de excepcionalidade porque as medidas necessárias para essa autorização, que devem ser adotadas antes, foram ignoradas. O documento é assinado pelo secretário-executivo adjunto do Ministério da Saúde, Alessandro Glauco dos Anjos de Vasconcelos.

A suspensão do jogo repercutiu na imprensa esportiva internacional, que falou em vexame e caos no clássico entre Brasil e Argentina. O presidente da Fifa, Gianni Infantino, classificou o ocorrido como loucura. Em nota, a entidade disse que vai analisar os relatórios oficiais da partida. Cabe à Fifa decidir o que será feito, já que este era um jogo válido pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo.

Na tarde desta segunda-feira (6), também em nota, a CBF confirmou as informações da Anvisa e reforçou que enviou para a Associação de Futebol Argentino as normas sanitárias do Brasil em três datas diferentes. A Polícia Federal abriu inquérito para investigar se os quatro jogadores argentinos cometeram crime de falsidade ideológica e descumpriram medidas sanitárias. Os quatro foram ouvidos, no domingo à noite no aeroporto, antes de embarcar. Segundo a PF, eles não foram deportados, apenas notificados para sair do país. G1