Em uma conversa por áudio, de junho deste ano, via Whatsapp, o subtenente da reserva da Polícia Militar do Rio Fabrício Queiroz demonstrou preocupação a respeito das investigações que tramitam no Ministério Público do Rio. O ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL) é suspeito de fazer rachadinha — prática em que servidores de gabinetes devolvem parte dos salários para parlamentares.

— O MP está com uma pica do tamanho de um cometa para enterrar na gente e não vem ninguém agindo — disse Queiroz. A gravação, na íntegra, foi obtida pelo Globo com uma fonte que pediu sigilo de sua identidade e possui um total de 43 segundos.Uma parte desse áudio foi revelada neste domingo pelo jornal Folha de S. Paulo.

No diálogo, com um interlocutor não identificado, Queiroz faz uma comparação de seu caso com os rumos da investigação sobre Adélio Bispo, autor do atentado contra o presidente Jair Bolsonaro, no dia 6 de setembro de 2018.

Antes de enviar o áudio, Queiroz manda uma mensagem para o mesmo interlocutor. Nela, diz acreditar que alguém contratou Adélio para cometer o crime — apesar de a investigação da Polícia Federal ter concluído que ele agiu sozinho. Na sequência, no áudio ao qual O Globo teve acesso, Queiroz indica que deseja se empenhar para saber um eventual mandante do crime.

— Se eu não estou com esses problemas aí, a gente de bobeira, não ia ter que fazer muita coisa, com eles lá em Brasília, podia estar aí igual a você aí, andando e ia dar para investigar, infiltrar, botar um “calunga” no meio deles, entendeu? Para levantar tudo. A gente mesmo levantava essa parada aí [quem contratou Adélio] — diz. Em seguida, Queiroz reclama da falta de apoio:

— O cara lá (Adélio) tá hiper protegido. Eu não vejo ninguém mover nada para tentar me ajudar aí. Vê, tal. É só porrada cara, o MP está com uma pica do tamanho de um cometa para enterrar na gente e não vem ninguém agindo — completa.

Procurado, o advogado Paulo Klein, que atua na defesa de Fabrício Queiroz, afirmou, por nota, que “ele não tem qualquer vínculo com deputados ou senadores em Brasília”. Segundo ele, “a única conclusão possível para o que se extrai do áudio clandestino e ilegal é que ele não tem qualquer vínculo com deputados ou senadores em Brasília”. Na nota, Queiroz diz que “sequer é possível precisar a data e o contexto da conversa que, repita-se, descreve uma situação hipotética”.

Klein disse ainda que o requerimento da bancada do Psol na Câmara dos Deputados para que Queiroz preste esclarecimentos aos deputados teria “como objetivo criminalizar uma conversa travada em âmbito privado e constitui mais uma tentativa espúria de criar um fato político para atacar o governo”.

Frederick Wassef, advogado de Flávio Bolsonaro, afirmou, também por nota, que “sem ter acesso aos supostos áudios, a defesa do senador Flávio Bolsonaro não pode confirmar a autenticidade desse material. Só será possível se manifestar após ter acesso, na íntegra, a todo o conteúdo das mensagens, saber qual a origem, quem é o interlocutor e em que contexto e período essas afirmações foram feitas”. Wassef diz ainda que “o áudio não cita o senador Flávio Bolsonaro e nem permite saber a qual procedimento do MP essa pessoa se refere. Não se pode associar esse áudio e seu conteúdo ao senador Flávio Bolsonaro”. Informações do O Globo