O modelo das Forças Armadas ocupando uma área, como o Complexo do Alemão ou da Maré, no Rio, está enterrado. Ao menos na atual gestão. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou que os militares continuarão a atuar “sob demanda”, usando seu grande contingente para o cerco de áreas em apoio às polícias e na área de inteligência.

 

O modelo anterior, segundo ele, tinha como único resultado “dar férias para os bandidos”. Em entrevista ao Estadão, ele fez seu balanço sobre o uso das ações dos militares em missões de Garantia de Lei e Ordem (GLO) no País. Ao ser questionado se esta tendência de participação da FAB é sustentável a longo prazo, Jungmann fez suas ponderações.

 

As informações são do Estadão Conteúdo. “O que eu tenho observado é que predominam, no caso das GLOs, as ações ligadas à greve de polícia, que é uma questão de segurança pública, e de combate à violência urbana. Somando os dois dados chega-se a 36% [o ministro refere-se à consolidação dos dados feitos pelo Ministério da Defesa], o que representa a emergência na área da segurança pública do País nas últimas duas décadas”.

 

“Representa também uma opção do constituinte, que deixou 80% das responsabilidades da segurança pública com os Estados. A União ficou com 20%, com o combate ao tráfico internacional de drogas e armas. E não se criou nenhum corpo intermediário entre as Forças Armadas e as forças regulares da segurança pública para que atuasse nas situações extraordinárias, excepcionais, onde você tem a falência ou incapacidade dos governos estaduais de manter a segurança. O que eu quero dizer com isso? Estou pensando nos Estados Unidos, que têm a Guarda Nacional, que é exatamente esse corpo que desempenha esse papel”.

 

O ministro destacou ainda que na ausência de uma Polícia Militar Federal no Brasil, o que se tem “é um arremedo, que é a Força Nacional, que cumpre sua função, mas precisa ser permanente, senão você tem a banalização da GLO”. Ele diz ainda que a “banalização” da GLO não é boa para as Forças Armadas e o país, já que tais instituições não têm “treinamento e muito menos vocação para substituir as polícias”.

 

O ministro comentou ainda o emprego das Forças nas penitenciárias. “Um em cada três presos – e nós já fizemos mais de 30 varreduras – está armado. Ou seja, os nossos presídios e penitenciárias são peneiras e são home office do crime organizado. Esse é um dos problemas centrais da nossa segurança: nós não somos capazes de cortar o comando de quem está preso e, aliás, grande parte dessas gangues surgiu no sistema penitenciário, que é uma espécie de incubadora do crime organizado”, enfatizou, acrescentando que a atual conjuntura da segurança pública em alguns estados, sem novos concursos públicos para polícia e sistemas prisionais saturados, contribui para este quadro.

 

“Se nós [Exército] vamos para policiamento das ruas, isso isoladamente é dar férias aos bandidos. Quando você põe as tropas nas ruas, o crime se retrai. Porque ele sabe que nós não podemos ficar lá muito tempo. Seja porque ele sabe que a lei não permite, seja porque é muito caro. Quando nós saímos, eles voltam. Ou seja, você não golpeia a capacidade operacional do crime”, afirmou Raul Jungmann.