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O brado retumbante não tocou como esperavam os manifestantes que foram às ruas no domingo (26). Não que as mobilizações pró-governo tenham sido pequenas. Apenas ficaram aquém da promessa daqueles que tentam encampar, com certo ineditismo, uma bandeira em defesa de um governo. As ruas estavam tomadas, porém não da maneira como a mobilização pretendia – mesmo que neguem que o objetivo não foi alcançado.

A pauta difusa e imprecisa acaba limitando o alcance da “manifestação autêntica do povo” – como se outras fossem menos legítimas. Ainda que o êxito não tenha sido pleno, é certo que a defesa do presidente Jair Bolsonaro, da reforma da Previdência e mesmo do pacote “anti-crime” de Sérgio Moro ganhou repercussão dentro de um movimento fragilizado pela ausência das principais lideranças.

Até não faltaram ataques ao Congresso Nacional ou ao Supremo Tribunal Federal (STF), como propuseram alguns manifestantes, tímidos mas existentes. Apenas porque as vozes mais audíveis acabaram por adotar uma postura mais comedida, frente aos possíveis impactos negativos de uma guerra declarada às instituições republicanas.

Bolsonaro e seu entorno mais próximo sabiam do risco em aderir a uma movimentação cujas bandeiras incluíam questionamentos ao Estado democrático de direito. Por isso recuaram de aparecer em público nas diversas cidades que registraram atos. O máximo visto foram os chamados papagaios de pirata, eleitos na onda bolsonarista, que se acham parte de uma revolução, mas são, na verdade, coadjuvantes nesse processo político.

Por isso, talvez, tenham sido os mais ardorosos aliados a darem a cara a tapa, algo arriscado em um momento de baixa para o presidente. Decerto, não dá para ignorar que tenha havido uma mobilização expressiva para tentar blindar o governo da errática condução da articulação política.

Assim como também não dá para fingir que existiu um risco grande de romper a linha tênue que ainda tenta manter o Congresso Nacional imbuído a votar projetos como a reforma da Previdência, mesmo que a passos de tartaruga.

Os parlamentares, alvos de críticas dos bolsonaristas, parecem estar mais preocupados com a manutenção do tecido político do que Bolsonaro e sua trupe. Talvez aí resida a razão para o recuo do presidente, que chegou a incitar a mobilização, porém acabou deixando “o povo” ir às ruas.

Parte das bandeiras hasteadas pelos atos deste domingo são necessárias, ainda que ajustes sejam importantes. Ame-se ou odeie-se os deputados e senadores, são eles os responsáveis por impedir que Bolsonaro instale a vontade absoluta de um monarca, algo que, tirando alguns gatos pingados, não passa pela cabeça da maioria dos brasileiros.

Ver pessoas nas ruas, mesmo que neste caso remeta muito mais ao chavismo venezuelano do que os caras pintadas na Era Collor, não deixa de ser uma bela representação de democracia. No entanto, saibamos todos que o eventual efeito dessa mobilização deve ser menor do que qualquer ato contra o governo.

Não que eventualmente eles sejam maiores ou melhores. Apenas adotam pautas mais palatáveis e fáceis de mobilizar. Especialmente quando um governo recorre a um pedido de defesa das ruas. Se estivesse tão bem quanto prega, não veríamos qualquer um dos lados circular por aí. Bahia Notícias Por Fernando Duarte