Moradores da vila de Matarandiba, que fica na cidade de Vera Cruz, na Ilha de Itaparica, fizeram, de forma irônica, um bolo para “comemorar” um ano do surgimento da cratera gigante que se formou misteriosamente na região e que cujas causas, até hoje, seguem sem explicações.

A brincadeira, conforme os moradores, foi para chamar a atenção das autoridades e também da empresa multinacional americana Dow Química, que explora a área onde o buraco surgiu. A população da região se sente ameaçada por conta da cratera, que vem aumentando nos últimos meses, e quer que providências sejam tomadas.

O bolo de chocolate usado no ato pelos moradores tinha, na cobertura, uma imagem da cratera. Eles filmaram a “comemoração” com um celular. Desde que foi descoberta, a cavidade tem aumentado de tamanho.

Na última medição feita pela Dow Química no final de fevereiro, o buraco tinha 90,7 metros de comprimento, além de 40,9 metros de largura e 36,4 metros de profundidade. Quando foi descoberta, a cratera tinha 46 metros de profundidade, 69 metros de comprimento e 29 metros de largura.

Estudos

No final de maio, o Ministério Público Federal na Bahia (MPF) informou que vem debatendo o possível aparecimento de outras crateras que possam oferecer risco à população e ao meio ambiente na região.

Ainda conforme o órgão, integrantes do MPF se reuniram com representantes da Dow Química e do Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) para tratar, ainda, do risco de aumento da cavidade, a partir do inquérito civil público que apura o surgimento do fenômeno, chamado sinkhole.

O órgão informou que segue apurando o caso e cobrando as providências necessárias aos órgãos competentes. Segundo o MPF, os estudos feitos pela mineradora apontam que não há riscos para a população da vila, ou na área de operação da multinacional.

Funcionários da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), uma empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia, confirmaram que, com base nos dados levantados, não há risco para a população de Matarandiba.

A companhia não garantiu por completo a ausência de riscos, considerando as características dos fatores geológicos, que seriam impossíveis de serem previstos com 100% de precisão.

No encontro, o Inema informou que recebeu novas solicitações de exploração de poços pela Dow Química na região, mas não vai conceder licenças até 2020, quando haverá a conclusão dos estudos feitos pela empresa, sobre a cratera.

A Dow Química apresentou recursos tecnológicos que tem usado para monitorar a geologia da ilha, e se colocou à disposição para custear os estudos necessários para esclarecer o surgimento da cratera.

O MPF informou ainda que ficou acordado que o Inema tem 20 dias para encaminhar a documentação relativa às notificações expedidas sobre a cratera, e a não concessão do licenciamento de novos poços.

Além disso, a Dow Química também terá que encaminhar – no mesmo prazo – os vídeos com a visualização de toda a área em que atua na região e os estudos realizados por encomenda da empresa e que ainda não foram apresentados ao MPF.

A Agência Nacional de Mineração (ANM), que também participou do debate, terá que encaminhar os relatórios de fiscalização dos últimos 10 anos de exploração do sal-gema (cloreto de sódio) na ilha e a CPRM ficou com a responsabilidade de informar a possibilidade de continuar os estudos do local, assim como o prazo para sua finalização.

O que diz a Dow Química?

Por meio de nota, a empresa informou que a comunidade de Matarandiba está segura, assim como a atual área de exploração de sal-gema da Dow e os acessos à ilha, e que a nova formação de uma cratera – fenômeno sinkhole – é improvável.

Segundo a Dow, essas conclusões foram tomadas a partir do estudo geomecânico concluído em novembro do ano passado. A mesma conclusão foi obtida pela CPRM – Serviço Geológico do Brasil e ambos os estudos foram apresentados à Agência Nacional de Mineração (ANM).

Apesar dos dados comprovarem que as áreas estão fora de risco, desde a descoberta da cratera, a Dow disse que utiliza tecnologias de monitoramento que oferecem informações em tempo real dos movimentos do solo na área.

Essas tecnologias e são capazes de antecipar qualquer evento que possa colocar a comunidade e seus empregados em risco, conforme a empresa. O estudo para descoberta das causas do fenômeno seguem em andamento, agora restritos às áreas próximas da cavidade. G1