(Wendel de Novais/CORREIO)

Amigo da família de Cristal Pacheco há 13 anos, o eletricista naval Fábio Nascimento Rodrigues de Oliveira, 54 anos, procurava palavras nesta terça-feira (1º) para tentar explicar como estão os pais da jovem, Sérgio e Sandra, após a adolescente de 15 anos ser morta em uma tentativa de assalto no Campo Grande. Fábio estava no Instituto Médico Legal (IML) resolvendo as burocracias para liberar o corpo da jovem, já que os pais não estão em condições de cuidar do assunto.

“Não tenho palavras para dizer como está Sandra. Digo assim, morreu junto com Cristal. O que pode dar força agora a Sandra é porque ainda tem Fernanda (filha mais nova). Mas também me pergunto, e Fernanda, que viu a irmã morrer, como vai ficar? Aí digo, vai encontrar consolo na mãe, porque a mãe estava perto dela e viu quando a irmã morreu”, lamenta.

Ele disse que não gostaria de estar ali representando o amigo dessa maneira, em uma situação tão dolorosa. “O pai não teve condições de vir, a mãe não teve condições de vir. Estamos aqui representando a família num momento em que não gostaria de estar. Não queria estar aqui onde estou nesse momento. Não é agradável, não é bom, estou me segurando aqui pra não cair em prantos porque sou emotivo, chorão, sou um banana mesmo. É difícil, não tem palavras para dizer. Não tenho palavras para dizer o estado que se encontra Sandra. Mas posso dizer uma coisa: não desejo a ninguém, nem para meu pior inimigo”.

O enterro do corpo de Cristal está marcado para 16h30 no Cemitério Campo Santo.

Amigos relembram
Estudante do 9º ano do Colégio das Mercês, Cristal estava a caminho da escola, acompanhada da mãe e da irmã quando foi baleada no peito, durante uma tentativa de assalto.

“Minha filha é amiga de Cristal desde os dois anos de idade. Ela está muito abalada de perder a amiga, assim como a escola toda quando soube da notícia”, relatou a dona de casa Eliene de Brito Alves, 43, amiga da família.

“Cristal era uma menina inteligente, estudiosa e estava no 9° ano. Era uma menina cheia de sonhos, se dedicava demais aos estudos dela e, hoje, foi tudo levado, né?! Dela e dos pais”, lamentou a dona de casa.

Ainda segundo Eliene, os alunos que transitam por ali viraram alvo dos assaltantes. “Eles ficam deitados aqui na praça, enrolados e fingindo que estão dormindo. Esperam a gente passar e chegam de faca, de canivete e até sem nada, mas vêm amedrontando a gente”, descreveu.

A insegurança da região era o que motivava os pais da adolescente a acompanharem as filhas todos os dias até a escola. “Estavam as duas acompanhadas da mãe e do pai. Sempre se preocuparam com a segurança de Cristal e Fernanda, buscando e levando. No entanto, nem isso impediu ela de morrer nos braços dos pais”, explicou Eliene. Ainda segundo ela, não houve reação à abordagem.

Mãe de alunos da escola, Eliene diz que o policiamento na região deve ser reforçado. “Tenho dois filhos lá, nos preocupamos e viemos pedir segurança para essa região durante o dia todo, mas principalmente de manhã cedo e início da noite. Não dá para seguir assim”, cobrou a dona de casa.

Entenda o caso
A adolescente Cristal Rodrigues Pacheco, 15 anos, que seguia para a escola, foi morta durante uma tentativa de assalto, a pouco metros da sede do Comando Geral da Polícia Militar.

Moradora do Corredor da Vitória e estudante do Colégio das Mercês, a adolescente estava acompanhada da mãe e da irmã quando foi abordada. Segundo informações iniciais, no meio da ação, uma das suspeitas, que carregava uma pistola calibre 653, colocou a arma no peito da vítima e disparou contra ela antes de fugir.

O crime aconteceu em frente ao Palácio da Aclamação, próximo ao Campo Grande. Cristal não resistiu aos ferimentos e morreu antes mesmo de ser atendida, ainda com o uniforme da escola. A mãe e a irmã de Cristal não sofreram ferimentos e estão em casa.

Em nota, a Polícia Militar informou que foi acionada por volta das 7h através do Cicom. Equipes do 18º BPM, unidade responsável pelo policiamento da região, foram até o local e já encontraram a estudante baleada.

Os policiais acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que constatou a morte da vítima. A área foi isolada até a chegada do Departamento de Polícia Técnica (DPT) e da Polícia Civil, que investigará o crime. Correio da Bahia