O Ministério Público da Bahia (MP-BA) denunciou à Justiça, de janeiro a junho deste ano, 15.079 casos de violência contra mulheres. Esse número corresponde a 82 denúncias diárias, um aumento de cerca de 14% em comparação com 2020, quando 26.469 denúncias foram feitas, uma média de 72 por dia.

Uma das vítimas é uma enfermeira, que foi atacada a facadas pelo ex-marido no bairro de Brotas, há menos de um mês. A tentativa de feminicídio aconteceu durante a manhã, na Avenida Dom João VI. Desde então, o agressor está foragido da polícia.

O crime foi gravado pela câmera de segurança do prédio da família da vítima. Nas imagens é possível ver que o homem se aproxima da enfermeira, quando ela já tinha interfonado para a mãe abrir o portão.

A gravação mostra que a vítima ela tentou se proteger, levantado as mãos. Ela foi ferida cinco vezes, em golpes que atingiram a perna, as mãos e a região do peito. Ferida, ela atravessou a rua para fugir do agressor e caiu desmaiada.

“Ele tinha a escala de trabalho, então ele sabia a hora que ela chegava aqui no prédio. Se posicionou, colocou o carro próximo aqui da residência. Quando ele viu ela chegando aqui no prédio, ele atravessou a rua, veio em direção a ela. Ela ainda perguntou: ‘O que é que você quer?’ Aí ele desferiu o primeiro golpe na mão da minha filha”, conta Raimundo Gonçalves, pai da vítima.

A enfermeira terminou o casamento por causa das violências sofridas, quando o relacionamento ia completar cinco anos. Dois dias antes da tentativa de feminicídio, o agressor procurou a família para se reaproximar da vítima. Antes de ficar desacordada, a vítima chegou a gritar por socorro. Pessoas que passavam na rua tentaram ajudá-la e o zelador do prédio ouviu a situação, e levou a vítima para o hospital.

“Eu ouvi alguém pedindo socorro, mas não imaginava que era ela. Quando eu cheguei aqui, vi a sacola, e reconheci logo que era dela. Aí quando eu olhei [para o outro lado da rua], estava cheio de gente, ela estava no chão. Aí me chamaram: ‘Vá com ela, vá com ela para o HGE [Hospital Geral do Estado]’”, conta Daniel Zeferino.

Depois do ataque, os médios responsáveis por cuidar da vítima disseram à família que ela nasceu outra vez. A enfermeira passou por cinco cirurgias, e está na casa dos pais, onde se recupera dos fermentos no corpo. O estado emocional, no entanto, ainda preocupa a família.

“Ela está com o psicológico arrasado, e o físico também não está bem ainda. Não tem nem um mês que aconteceu isso. Então o físico e o emocional estão horríveis. Está complicado para a gente lidar com essa situação, porque o emocional dela está nos preocupando. Claro que nós estamos tomando os cuidados e as providências”, disse o pai da vítima.

O caso foi registrado na delegacia, que já ouviu a vítima e testemunhas. A prisão do agressor, Fabrício Ferreira da Silva, também foi pedida e ele é considerado foragido. Ainda segundo a polícia, a Justiça também concedeu medidas protetivas em favor da vítima.

Fabrício e a vítima se conheceram por meio de amigos em comum. Com o tempo de relacionamento, a família dela passou a desconfiar dele, por causa das brigas e discussões, mas nunca souberam de agressão física, antes do ataque. Uma amiga da vítima, que não quis se identificar, contou que também estranhava a relação, e que a enfermeira relatava comportamentos agressivos.

“Ela sempre relatava para mim sobre as atitudes agressivas, sobre o quanto ele era agressivo com ela. Em discussões, em gritar, em ofender, em manipular. Quando finalmente Fernanda conseguiu sair desse relacionamento, ela comentou pouco antes do acontecimento que estava sendo seguida”.

Antes do ataque e da separação do casal, os pais aconselharam a enfermeira a sair da casa onde moravam com o suspeito, em Vila de Abrantes, em Lauro de Freitas, cidade vizinha a Salvador. A vítima saiu da casa há cerca de um mês e o ataque a facadas aconteceu logo em seguida.

Depois da tentativa de feminicidio, a família descobriu que o agressor já tinha passagem pela polícia. Agora, os familiares estão preocupados porque sabem que ele está solto, e tem sido visto em redes sociais.

“Como é que uma pessoa está online, se comunicando com as pessoas, mudando o perfil do seu celular, e a polícia não consegue rastrear o celular desse cidadão? Ela, como minha sobrinha, a gente imagina como é estar nossa filha em uma situação dessas. É muito complicado”,disse Manoel Gonçalves, tio da vítima. G1