O Ministério Público da Bahia (MP-BA) recebeu relatos de crimes de abusos sexual, importunação e violação sexual mediante fraude de quatro pessoas contra o líder religioso do templo espírita Amor Supremo, que em Salvador possui sede no bairro do IAPI. A defesa do médium diz que as acusações são falsas. As denúncias foram enviadas pela Ouvidoria das Mulheres, do Conselho Nacional do MP. Das quatro vítimas, três são mulheres, que afirmam que abusos foram praticados pelo médium Kléber Aran Ferreira da Silva, de 46 anos. Até esta quinta-feira (24), o MP-BA ainda não havia oferecido denúncia contra o suspeito.

O G1 conversou com o advogado do médium, Pedro Acioli, que disse que os denunciantes combinaram a história como forma de se vingar do médium, por não terem uma promoção na hierarquia do Templo Amor Supremo. “Essas pessoas que denunciaram são pessoas que se conhecem, que eram voluntárias do centro, ou seja, desmistifica a ideia de que elas não se conheciam, que eram pessoas diferentes falando a mesma história, o que daria veracidade ao fato. São pessoas que combinaram o discurso, se conhecem, saíam todas juntas com o médium, com a esposa dele. Todos saíam, bebiam fora, enfim. Eram amigos, na realidade”, disse ele.

O templo espírita Amor Supremo tem sedes em vários estados do país, como Pernambuco, Rio de Janeiro, Sergipe e Minas Gerais. O médium Kléber Aran é conhecido por afirmar incorporar espíritos, como a entidade do médico alemão Adolph Fritz, conhecido popularmente como Dr. Fritz, responsável por tratamentos e cirurgias espirituais. Segundo a promotora de Justiça que coordena o Grupo Especial de Defesa da Mulher e da População LGBT (Gedem), Sara Gama, os relatos foram recebidos e serão distribuídos para que promotores tomem as medidas cabíveis. Ela não detalhou o teor das denúncias.

“Nós temos uma notícia que foi trazida até nós, e a partir dessa notícia o nosso procedimento é que haja deliberação internamente, a distribuição desse material, para que algum promotor com atribuição na área criminal possa tomar as providências que julgar necessárias. O que nós temos hoje, e nós fomos recepcionados através da Ouvidoria das Mulheres, do Conselho Nacional do Ministério Público, são quatro relatos – três mulheres e um homem – dando notícias a respeito de possíveis crimes de abusos sexual, importunação, violação sexual mediante fraude”, explicou ela.

“São vários tipos [de crime] que a gente pode encaixar. Ainda é uma notícia desse fato e o procedimento agora é justamente de que o Ministério Público vai tomar os passos devidos para fazer a representação [da queixa]”, – Sara Gomes, promotora do MP. Apesar do MP-BA não dar detalhes sobre o teor dos relatos, o advogado de Kléber Aran disse que os atendimentos do médium nunca eram feitos individualmente, e que esse fato poderia desmentir as denúncias.

“Nunca houve qualquer atendimento individual do médium com qualquer pessoa, seja homem ou mulher. Todos os atendimentos eram feitos de maneira coletiva. Os atendimentos de Dr. Fritz [entidade espírita] são feitos em galpões, ele vai passando nas filas e atendendo. E as terapias que são feitas de seis em seis pessoas. O médium nunca fica sozinho com as pessoas. Falaram que ele cometia esse atos ilícitos em hotéis. Isso é de muito fácil comprovação. Que hotel ele se hospedava? Quem eram as pessoas que subiam? Existe um registro na entrada das pessoas. É muito fácil pegar uma câmera de segurança, um registro documental do hotel, para poder comprovar”.

“Isso nunca foi trazido para o Ministério Público porque não existe essa prova. As únicas coisas que existem são depoimentos de pessoas que combinaram as falas, se conhecem e têm o interesse real de derrubar o médium, porque o médium não oportunizou que elas crescessem no centro” – Pedro Acioli, advogado do médium.
O advogado disse ainda que medidas serão tomadas contra as pessoas que fizeram as denúncias ao Ministério Público, porque, segundo ele, se tratam de relatos caluniosos.

“Nós estamos tomando as medidas cabíveis contra essas pessoas. Essas pessoas que estão praticando esse crime, essa calúnia que está sendo feita contra Aran, essas pessoas vão responder pelos atos. Elas vão responder por calúnia, difamação, injúria e associação criminosa. No mínimo isso. Claro que a gente vai analisar o que tem mais, e a gente já está tomando providências para representar contra essas pessoas no Ministério Público, ou até apresentar a queixa-crime se a gente achar mais pertinente”, afirmou. A promotora Sara Gama explicou que vítimas de qualquer tipo de abuso sexual podem procurar o Ministério Público para fazerem denúncias.

“A primeira coisa é que a vítima não tem que ter vergonha de ter sido vítima. Esse é um dos grandes obstáculos que nós encontramos quando nós temos pessoas que sofreram algum tipo de violação de natureza sexual, sobretudo. Elas se sentem constrangidas, envergonhadas. O que eu posso dizer, em termo de Ministério Público, em termo de recepção dessas mulheres, é que elas vão ter todo o amparo. Inclusive dentro da nossa estrutura nós temos psicólogos e assistentes sociais que poderão encaminhá-las, caso elas necessitem. Porque elas são vítimas e, como vítimas, têm que ter o amparo da lei”, disse. G1