As mudanças no secretariado de ACM Neto em Salvador mostram um rascunho da estratégia política que o prefeito adotará nos próximos dois anos, quando deve indicar o candidato à sucessão. Ao colocar o vice Bruno Reis numa função mais executiva, o gestor da capital baiana tenta, ao mesmo tempo, testá-lo publicamente e garantir um respaldo para o nome dele na disputa. No entanto, abre espaço para um plano B com Léo Prates, ainda que a hipótese seja muito remota.

É uma aposta do prefeito em dois ex-assessores que tiveram carreira exitosa no Legislativo e que almejam lugar ao sol. Dentro do grupo político do gestor da capital baiana, o nome de Bruno Reis é considerado consolidado como a aposta de ACM Neto para sucedê-lo. Isso remonta à época em que ele foi alçado à condição de vice-prefeito, em 2016, desbancando nomes como do hoje deputado federal João Roma (PRB) e do atual presidente do Esporte Clube Bahia, Guilherme Bellintani.

Reis venceu essa primeira prova de fogo e colocou o nome em alta – ainda que tenha brigado com o MDB, que deu guarida para a indicação dele para o posto há cerca de dois anos. O vice, todavia, tem o desafio de tentar construir uma unidade dentro desse grupo em um cenário que favorece o lançamento de múltiplas candidaturas para ampliar as respectivas bancadas na Câmara de Vereadores.

Até o momento, partidos como PSDB e PRB sinalizaram a possibilidade de saírem com postulações ao Palácio Thomé de Souza e o MDB não deixa de ser uma força política para construção de uma chapa majoritária, mesmo após o encolhimento em 2018 na Câmara dos Deputados. O tucanato não possui nome efetivamente competitivo até então e o PRB poderia bancar uma candidatura para demarcar posição, tendo até mesmo o deputado federal João Roma como opção.

O pernambucano radicado na Bahia, no entanto, não tenderia a romper relações com o padrinho que bancou sua votação para o Congresso Nacional, já que ACM Neto dá sinais de que Bruno Reis é favorito no processo eleitoral de 2020. Na mensagem ao Legislativo, as referências do prefeito ao vice foram em tom de loas e apontava que Bruno Reis teria um espaço de destaque a partir de agora.

Em abril de 2018, quando ACM Neto preferiu ficar no Palácio Thomé de Souza ao invés de concorrer ao governo da Bahia, o segundo na linha sucessória submergiu e houve quem apostasse no naufrágio dele. Para quem acompanhou o processo, Reis era um dos principais interessados na renúncia do gestor da capital baiana e não tornou pública qualquer insatisfação por não ascender ao comando da prefeitura.

Segundo interlocutores próximos ao grupo, o vice tem a faca e o queijo na mão para se tornar o nome de ACM Neto para disputar as eleições de 2020 como herdeiro político do prefeito. Agora, ao se manter em alta como titular da Secretaria de Infraestrutura e com as costuras na colcha de retalhos partidária, Bruno Reis depende muito mais de si do que de outros para estar com o nome nas urnas nas próximas eleições.

PS: ACM Neto apostou na memória curta do eleitor ao manter uma indicação do MDB no primeiro escalão. Em 2018, o prefeito praticamente defenestrou qualquer aproximação com a legenda. Felipe Lucas como secretário não deixa de ser um afago compensatório. Este texto integra o comentário desta quarta-feira (6) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM, Clube FM e RB FM. Por Fernando Duarte