Não dá para dizer que ninguém sabia – como tantas vezes o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já recorreu ao expediente. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sempre foi uma ameaça iminente para a administração federal. Parte disso é resultado da fragilidade do Executivo à época em que Jair Bolsonaro comandava o Palácio do Planalto. Outra parte é responsabilidade do próprio Lula, que subjugou a ameaça que Lira é.

As recentes votações na Câmara – MP da Esplanada e o Marco Temporal, para ficarmos restritos ao dia de ontem – mostram que o deputado alagoano segue como o homem mais poderoso da República. Acuado, o governo tenta, agora, recuperar o tempo perdido na articulação para tentar se manter viável do ponto de vista estrutural.

Politicamente, ainda é cedo falar que Lula está fragilizado. Porém tapar o sol com a peneira sugerindo que tudo são derrotas do Planalto é não enxergar um palmo à frente dos próprios olhos. São consecutivas vitórias de Arthur Lira e uma trupe de parlamentares que transcende a própria denominação “centrão”. Um Legislativo superpoderoso é interessante para os deputados, que legislam em causa própria desde que são eleitos para o Congresso. Então, empoderar Lira confiando na moderação dele foi uma aposta equivocada que começa a render os frutos em momentos cruciais para a viabilidade da gestão federal.

Se é possível enxergar um lado positivo nesse processo, o Senado tem sido menos passível desse tipo de pressão varejista por cargos e emendas. Não que tudo sejam flores para o governo por lá. Todavia, a negociação com um menor número de parlamentares diminui os riscos de revezes, tais quais temos visto na Câmara dos Deputados.

Não existe uma vacina única para a possibilidade de crise entre o governo Lula e Arthur Lira. É preciso que o governo entenda como melhorar a articulação política – e isso passa por uma reavaliação do modus operandi de Rui Costa na Casa Civil e a própria atuação de Alexandre Padilha na Secretaria de Relações Institucionais. A última vez em que o Brasil testemunhou uma queda de braços com um presidente da Câmara com projeções autocráticas tivemos um impeachment controverso. Lula vai pagar para ver? Por Fernando Duarte (BN)