O deputado estadual Alex Lima (PSB) é um defensor ferrenho do legado das administrações petistas e, nesta entrevista concedida ao Política Livre na quinta-feira (4), diz não ver muita moral no principal adversário do grupo que integra, ACM Neto (DEM), para críticas ao que vem sendo feito no estado desde 2007, quando o hoje senador Jaques Wagner (PT) assumiu o governo, sendo sucedido, a partir de 2015, por Rui Costa. Lima diz que Neto é o “velho passado”, enquanto vê os sinais da modernidade em Wagner.

O parlamentar vê uma crise de identidade no seu partido – evidenciada durante a votação em primeiro turno da PEC dos Precatórios, quando, nacionalmente, a sigla se dividiu – mas aponta coerência dos membros que compõem a bancada federal atualmente, os deputados Marcelo Nilo e Lídice da Mata – essa entrevista foi concedida antes de virem à tona as divergências sobre orientação de voto entre Rui Costa, que chamou os parlamentares que votaram favoravelmente à PEC de “traíras”, o senador Otto Alencar (PSD) e o deputado Cacá Leão (PP), que afirmaram que o voto favorável à matéria foi precedido de acordo com o governador.

Apesar das dificuldades causadas pelo fim das coligações, Lima crê que a bancada do PSB vai aumentar para três o número deputados federais. O socialista vê com preocupação a antecipação do jogo eleitoral, mas acredita que um dos maiores riscos ao sistema democrático é o que chama de “sequestro do Orçamento” pelo Congresso Nacional como forma de viabilizar o velho “toma lá, dá cá”.  “Nós estamos piorando muito o nosso sistema político”, declara o parlamentar.

Alex Lima, que não disputará as eleições de 2022 devido ao enfrentamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e à depressão, diz ter tirado um peso da consciência ao revelar publicamente o problema. Ele salienta que mudou sua atuação parlamentar: “Hoje eu tenho me debruçado muito sobre esses temas, sobre esses transtornos e as questões psicológicas da humanidade”.

Confira abaixo a íntegra da entrevista:

Falando do tema da semana, o PSB aqui no Estado votou junto com o PT, atendendo ao apelo do governador Rui Costa para que se votasse contra a PEC dos Precatórios, mas nacionalmente o PSB se dividiu. Qual será o rumo do partido a partir dessa votação?

Eu vejo uma crise de identidade [no PSB] desde a morte do nosso líder, o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos. É preciso entender qual é o posicionamento que o PSB quer ter nacionalmente. Não dá pra ficar a cada votação jogando de uma forma. Eu quero parabenizar a atuação da deputada Lídice da Mata e do deputado Marcelo Nilo, porque, mais do que atender a um pedido do governador Rui Costa, eles foram de encontro ao que eles sempre defenderam. Mas o que está acontecendo é que Brasília virou um grande centro de distribuição de emendas e, a cada votação dessa, as emendas são destinadas de acordo com a votação, no famoso “toma lá, dá cá” que o presidente Bolsonaro dizia que não teria, mas que nunca antes na história desse país, parafraseando o ex-presidente Lula, se viu tanto.

Aqui na Bahia, no caso, seria algo estimado entre R$ 9 bilhões e R$ 10 bilhões de recursos para a Educação que serão agora parcelados. Como o senhor vê o impacto ou prejuízo de não ter esse valor assegurado pelo STF já em 2022?

A Bahia faz, talvez, o maior investimento em educação da história de nosso estado em estruturação de sua rede; quase R$ 1 bilhão em obras que o governo do estado tem ou já licitadas ou em processo de licitação, mas evidentemente que precisa equipar essas escolas com pessoal, com material humano e, sem dúvida alguma, esse valor ajudaria muito na modernização e no projeto de educação que o governador Rui Costa tem semeado aqui na Bahia. É por conta desse tipo de decisão [da votação em primeiro turno da PEC dos Precatórios] e a política se afasta cada vez mais das pessoas e a população se sente cada vez menos representada.

Falando da disputa eleitoral, poucas vezes se observou uma antecipação da corrida eleitoral como se está vendo agora. Que análise o senhor faz dessa antecipação tão drástica das pré-campanhas para 2022?

Eu vejo com muita preocupação e com muito desânimo. Acho que nós estamos piorando muito o nosso sistema político. Se aquele modelo lá dos protestos de 2013, quando se pregava uma nova política, uma nova forma de fazer política, eu acho que nós envelhecemos e pioramos muito o nosso modelo. Estamos num caminho extremamente perigoso para as relações democráticas. Para se ter uma ideia, e não vou citar nome de deputado, tem deputado que tem tanta emenda para distribuir que já está lançando candidatos a estadual. O que está havendo é que o parlamento brasileiro sequestrou o Orçamento e a partir daí tudo virou negociação. Esse “tratoraço” que o governo federal faz para aprovar medidas preocupantes e levam o Brasil ladeira abaixo.

Indo para a segurança pública, o pré-candidato do DEM, ACM Neto, bate bastante nessa questão da segurança pública, também aponta os índices baixos da educação baiana no Ideb, por exemplo. De que forma os aliados do governador e do pré-candidato Jaques Wagner podem responder a esses pontos que são levantados pela oposição?

Primeiro que o ex-prefeito de Salvador não tem condições morais para levantar críticas em relação à segurança pública. O grupo político dele, quando esteve no poder, usava a Secretaria da Segurança Pública para grampear a amante [Adriana Barreto] do ex-senador Antônio Carlos, então a segurança pública para eles se resumiu a um projeto de família. E olhe que estamos falando de algo de mais de 20 anos e, de lá para cá, o crime realmente se tornou organizado. As necessidades que se tinham há 20 anos – e olha que, nos governos carlistas, estamos falando de uma polícia que era sucateada, que não tinha viaturas para rodar, que não tinha coletes, munição e tinham o pior salário do Brasil – quando não havia essa organização das organizações criminosas que hoje geram pânico em todo o país. A verdade é que, hoje, o país perdeu essa batalha para o tráfico de drogas e eu não vejo condição moral no ex-prefeito para criticar, pois fizeram da segurança pública um projeto pessoal.

E a educação?

Com relação à educação, não se podem resolver problemas históricos de um dia para o outro. Mas há quanto tempo a educação na Bahia ficou sucateada? Será que as escolas que estavam destruídas e estão sendo reconstruídas pelo governador Rui Costa ficaram assim a a partir da chegada do PT, ou são prédios antigos, de administrações antigas que nunca foram olhados com atenção? Eu acho que são problemas muito sérios e que precisamos ter compromisso de não fazer politicagem em cima disso: tanto da educação quanto da segurança. Vamos propor, vamos ver onde erramos e fazer nossa ‘mea culpa‘, mas não vejo condição de criticar de quem hoje se vende como moderno, mas é o velho passado de sempre.

Mas o senhor não acha que o senador Jaques Wagner deveria estar mais presente a essas viagens ao interior, pois ACM Neto tem feito viagens toda semana ao interior do estado? Há até críticas de aliados do senador Wagner nesse sentido.

Na verdade, o ex-prefeito de Salvador dispõe de tempo, pois não tem função pública, está sem mandato e acho que ele faz um movimento acertado de conhecer a realidade. Mas ele erra na antecipação da campanha. Ele poderia estar visitando os municípios para dialogar com a comunidade e conhecer um pouco da Bahia. Com relação ao governador Jaques Wagner, ele está exercendo um mandato. Agora representou o Congresso Nacional na COP26, na Escócia. Ele tem atribuições que o mandato impõe. Mas é evidente que, na hora da corrida eleitoral, se tem uma pessoa que representa modernidade é o governador Jaques Wagner, pois foi ele que modernizou as relações políticas na Bahia, trazendo nossa forma de diálogo com a sociedade civil. Nós vivíamos uma ditadura aqui na Bahia, sob a era do chicote na mão e o dinheiro na outra, como se dizia antigamente. Na hora certa, o senador vai entrar em campo, vai mostrar o que fez em seu governo, também reconhecer onde não pudemos avançar, mas que temos um grupo político para viabilizar aquilo que não foi feito ainda.

Voltando ao PSB, houve essa mudança na legislação eleitoral com a ratificação do fim das coligações. Como o senhor vê as possibilidades do PSB nas eleições para deputados estaduais e federais?

Aumenta sem dúvida a dificuldade. Eu, particularmente, sou a favor dessa mudanças, pois as coligações, de alguma forma, desconfiguravam o jogo político. Cada partido tem que fazer sua parte [nas eleições] e, a partir daí, os partidos que não tiverem condições de existir formarem as federações ou até mesmo fazer as fusões como ocorreu entre o Podemos e o PHS, só para ficar em um dos exemplos.

Mas o senhor acredita em manutenção das bancadas?

A minha expectativa é que a gente monte uma chapa forte, pois a Bahia não pode abrir mão de ter dois deputados federais do quilate da deputada Lídice da Mata e do deputado Marcelo Nilo, que são experientes, combativos e que estão antenados com os problemas da Bahia e as dificuldades que a Bahia enfrenta. Enquanto partido temos esse desafio de fazermos as filiações e estimular as candidaturas para que possamos, quem sabe, fazer mais um federal e ampliar a bancada em Brasília.

Recentemente, em encontro com a imprensa, o senhor falou do enfrentamento pessoal contra o TDAH e a depressão e anunciou que não será candidato à reeleição em 2022. O que o motivou a fazer esse anúncio e o que mudou na atuação do senhor após revelar isso ao público?

Eu venho de uma família que não tem tradição política no estado: não sou filho, neto ou sobrinho de deputado que chegou à Assembleia Legislativa. Comecei na política, como se diz, no braço. Mostrando, em minha região, a importância de se ter um representante e consegui, aos 30 anos, chegar à Assembleia  om 46.604 votos. Fizemos uma atuação e um trabalho que foi aprovado pelos baianos e conseguimos praticamente dobrar nossa votação: tive 82 mil votos no pleito recente. Então eu senti que chegou o momento em que eu precisava ser verdadeiro com as pessoas. Vinha sofrendo com TDAH há algum tempo, piorei a minha crise de ansiedade e, junto com ela, desenvolvi a depressão e não tinha mais força para enfrentar um pleito eleitoral.

Como essa situação te inquietava?

Eu ficava me perguntando se era justo eu sair pela porta do fundo da política, por preconceito ou por vergonha de assumir a minha fragilidade, por sentimentos que, na minha avaliação, não comungam com minha personalidade. Não poderia esconder isso das pessoas que confiavam na gente, pois faço política muito próximo, abraçando as pessoas, olhando no olho e construindo relações duradouras. Não poderia chegar para essas pessoas e mentir, dizer que não sou candidato porque não quero ser ou porque decidir sair do ramo. Preciso falar a verdade e as pessoas precisam entender, pois quem me conhece sabe que sou apaixonado pela política. Tenho atividade pecuária familiar, mas nunca foi a minha paixão; e as pessoas não podiam ver essa chama se apagar dentro de mim e não ter a exata noção daquilo que eu estava vivendo. Tirei um peso da minha consciência, pois hoje olho no olho das pessoas da mesma forma como quando pedia voto.

E isso mudou algo em sua atuação no Parlamento?

Hoje eu tenho me debruçado muito sobre esses temas, sobre esses transtornos e as questões psicológicas da humanidade, sobretudo dos baianos e tenho estudado para apresentar ou propor ações que venham a ajudar pessoas. Políticos às vezes passam a imagem de super heróis, de inatingíveis e as pessoas passaram a entender que somos feitos de carne e osso, somos falhos, temos limitações e fragilidades. Eu sinto que agora tenho olhar mais voltado para essas bandeiras, numa atuação que eu não tinha anteriormente. (Política Livre)