© Marcelo Camargo/Agência Brasil/Arquivo

Responsável pelos processos criminais que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF), a nova vice-procuradora-geral da República, Ana Borges, reorganizou as investigações do 8 de janeiro na PGR desde que assumiu o posto número 2 da PGR, há pouco mais de um mês. A vice-PGR seguiu o entendimento de que os atos golpistas não foram um fato isolado, mas sim a “eclosão de acontecimentos anteriores” apurados em outros inquéritos.

“Nenhum ato acontece sem mentor”, disse Ana Borges ao g1 – na primeira entrevista desde que assumiu o posto no fim de setembro. A procuradora foi escolhida como vice pela procuradora-geral da República interina, Elizeta Ramos, que substitui Augusto Aras até uma nova indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Não cuido especificamente da investigação do 8 de janeiro, mas posso falar como Ministério Público: o que é investigado são os fatos. Se surgirem indícios de autoria e materialidade contra o ex-presidente (Jair Bolsonaro), ele não tem imunidade e não tem isenção. Vai ser denunciado como qualquer cidadão que praticar um crime”, afirmou Ana Borges.

“Agora, ele não vai ser perseguido, porque a história do Brasil já mostrou que o Ministério Público não pode escolher alvos. O Brasil já teve essa história e tem que aprender suas lições”, acrescentou. A atual vice-PGR é crítica dos métodos da Lava Jato desde o auge da operação, quando a Polícia Federal prendeu o então ex-presidente Lula.

As declarações de Ana Borges foram dadas ao g1 dias depois de uma entrevista à revista “Veja” na qual o subprocurador-geral Carlos Frederico Santos, encarregado das investigações sobre os atos golpistas na PGR, classificou como “fraca” a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

Santos é um dos candidatos ao comando efetivo da PGR – e marido de Ana Borges, hoje número dois do órgão. O acordo de delação de Cid foi firmado com a Polícia Federal sem participação da PGR, e foi homologado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes no início de setembro.

A crítica de Santos ao conteúdo da delação repercutiu mal entre investigadores da PF, como noticiou o blog da Andréia Sadi. Para esses investigadores, o subprocurador se mostrou ressentido porque o Ministério Público não participou da elaboração do acordo. G1