Após o Youtube instalar um novo sistema de inteligência artificial que aprende com o comportamento do usuário e pareia vídeos com recomendações, canais de extrema-direita despontaram na plataforma. Uma investigação do jornal New York Times aponta que essa tecnologia contribuiu para a radicalização do cenário político brasileiro.

Como exemplo, eles apresentam o caso do adolescente Matheus Dominguez, de 17 anos, que foi direcionado pelo Youtube ao canal do professor amador de violão Nando Moura, um dos expoentes dessa nova fase da plataforma. Em seus vídeos, Moura critica feministas, professores e políticos influentes, que acusa de espalharem conspirações.

Com isso, o jovem Matheus foi fisgado e, do canal de Moura, foi chegando a outros de extrema-direita, um deles o do então deputado federal Jair Bolsonaro (PSL).

Outro usuário assíduo da plataforma é Mauricio Martins, vice-presidente do PSL em Niterói. Para ele, a maior parte da base eleitoral de Bolsonaro foi influenciada pela plataforma, assim como ele próprio. “Antes disso, eu não tinha formação ideológica”, afirmou à publicação.

De acordo com o jornal norte-americano, esse sistema de pesquisas e recomendações do Youtube parece ter sistematicamente desviado usuários para canais de extrema-direita e de conspiração no Brasil. Professores ouvidos relataram alunos fascinados por teorias sem fundamentação técnica ou teórica e que ainda os gravam sem autorização. Já os pais entrevistados afirmam que, ao acessar as páginas dos filhos, se deparam com um amontoado de desinformação, a exemplo de vídeos sobre a disseminação do vírus da zika por meio de vacinas.

Diante desse quadro, o pesquisador de mídias digitais Zeynep Tufecki classificou o Youtube como “um dos mais poderosos instrumentos de radicalização do século XXI”.

Em resposta, representantes da empresa contestaram a metodologia do estudo e disseram que a plataforma não privilegia nenhum ponto de vista ou direciona os usuários para o extremismo. Por outro lado, eles admitiram algumas descobertas e prometeram realizar mudanças. O porta-voz Farshad Shadloo disse que o Youtube tem “investido pesadamente em políticas, pesquisas e produtos” para reduzir o espalhamento de desinformações prejudiciais.