Nesta última terça-feira (4), uma explosão na região portuária de Beirute deixou mais de 100 mortos, de acordo com o governo do Líbano. A causa suspeita é uma explosão de 2,7 mil toneladas de nitrato de amônio, substância utilizada como fertilizante. Os riscos do armazenamento incorreto desse material são conhecidos, de acordo com especialista. O produto já foi responsável por tragédias na França, na China e nos EUA.

Acidentes anteriores com o nitrato de amônio:

  • 16 abril de 1947, Estados Unidos: Uma explosão de 2,3 mil toneladas de nitrato de amônio a bordo de um navio francês estacionado no porto no Texas deixou 581 mortos e mais de 5 mil feridos. Centenas de edifícios foram destruídos e a área portuária foi devastada;
  • 28 de julho de 1947, França: Os estoques de mercadorias do cargueiro norueguês ‘Ocean Liberdade’ em Brest (incluindo mais de 3 mil toneladas de nitrato de amônio) pegaram fogo durante seu descarregamento no porto. O navio explodiu matando cerca de 30 pessoas e deixando milhares de feridos;
  • 08 de janeiro de 1998, China: 24 trabalhadores em Xinping foram mortos e 60 ficaram gravemente feridos na explosão em uma fábrica de fertilizantes na província de Shaanxi;
  • 21 de setembro de 2001, França: A explosão do estoque de nitrato de amônio da fábrica AZF, em Tolouse, provocou a morte de 31 pessoas e deixou 2,5 mil feridos. Os investigadores consideraram como causa uma ‘mistura infeliz’ de produtos incompatíveis antes da explosão. Em 2012, a companhia Grande Paroisse, proprietária da fábrica, foi condenada pelo tribunal por ‘homicídio culposo’;
  • 24 de abril de 2004, Coreia do Norte: 161 mortos e 1,3 mil feridos após a colisão entre um trem que transportava petróleo e vagões carregados de nitrato de amônio, causando uma série de explosões;
  • 28 maio de 2004, Romênia: 18 foram mortos e três feridos em uma explosão acidental de um caminhão em Mihailesti, leste do país;
  • 17 de abril de 2013, Estados Unidos: Uma explosão atingiu uma fábrica de fertilizantes na cidade de West, no Texas, e deixou mortos e dezenas de feridos.

Usado para a produção de alimentos, o nitrato de amônio precisa ser armazenado com restrições, de acordo com Guilherme Marson, professor doutor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) e da Sociedade Brasileira de Química (SBQ).

“Não se armazena [nitrato de amônio] em grande escala com segurança. É necessário dividir o produto em pequenas porções para conter um possível estrago. E, principalmente, produzir e já transportar para onde será utilizado”, disse.

Segundo o químico, o nitrato de amônio não é um explosivo por si só. Ele se apresenta como um pó branco ou em grânulos solúveis em água e é seguro, desde que não aquecido ou em contato com alguma faísca. A partir de 210 °C, decompõe-se e, se a temperatura aumentar para além de 290 °C, a reação pode se tornar extremamente explosiva.

“Temperatura, faísca, um início de chama. O calor causa a decomposição, libera nitrogênio, oxigênio e água, eles expandem porque são gases (a água em fase gasosa, é claro). Rapidamente, eles produzem uma onda de choque. É um movimento mecânico dos gases, uma esfera que vai em todas as direções”, explicou Marson.

Os gases liberados têm a mesma massa do nitrato de amônio, mas o volume pode ser mais de 10 mil vezes maior. Marson explica que não é possível impedir a força da explosão, já que o mecanismo acontece rápido e em efeito dominó. G1