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A Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) confirmou mais um caso da Haff, conhecida como a “doença da urina preta”, nesta última sexta-feira (13). De acordo com a pasta, o novo registro ocorreu em Dias D’Ávila, cidade da região metropolitana de Salvador. Com essa confirmação, o número de notificações registradas só este ano da doença chega a 13.

Segundo a Sesab, o paciente está internado em um hospital privado em Salvador. Não há informações sobre o estado de saúde dele. Na última quinta-feira (12), três casos foram confirmados em Camaçari, que fica também na região metropolitana.

“Nós não temos elementos suficientes para descrever a estrutura química dessa toxina ou como ela atua no organismo; se ela é produzida no corpo do peixe ou se o peixe já consome alimento. A gente não sabe”, disse Franciso Kelmo, diretor do Instituto de Biologia da Ufba. Na ocasião, a Sesab explicou que todas as pessoas eram residentes da cidade e que relataram consumo de pescado. Não há detalhes sobre o estado de saúde dessas pessoas.

Ainda de acordo com a Secretaria, o Centro Informação Estratégica em Vigilância em Saúde da Bahia (CIEVS) alerta que a doença de Haff é uma síndrome de rabdomiólise (ruptura de células musculares) sem explicação, e se caracteriza por ocorrência súbita de extrema dor e rigidez muscular, dor torácica, falta de ar, dormência e perda de força em todo o corpo, além da urina cor de café, associada a elevação sérica de da enzima CPK, associada a ingestão de pescados.

A secretaria explicou que a doença pode evoluir rapidamente para insuficiência renal e pode levar a morte caso não seja tratada. A Sesab explicou ainda que, em agosto de 2020, Entre Rios, a cerca de 140 quilômetros de Salvador, registrou a ocorrência de três casos suspeitos de doença de Haff com relato de ingestão de pescado.

A secretaria explicou que cinco pessoas da mesma família comeram o peixe e, sete horas depois, um homem de 53 anos apresentou sintomas de fortes dores no corpo, tontura, náuseas e fraqueza. Outros familiares apresentaram os mesmos sintomas.

Ainda de acordo com a Sesab, em Salvador, nos meses de setembro e outubro, duas unidades hospitalares notificaram a ocorrência de casos da doença de Haff, totalizando seis pacientes que apresentaram início súbito de dor muscular de origem não determinada.

Desde dezembro de 2016, quando surgiram os primeiros casos, a Bahia registra uma morte em virtude da doença de Haff, ocorrida em 2017. Em 2017, vários casos da doença foram registrados na Bahia. Na época, os médicos concluíram, por exclusão, que os casos ocorreram por intoxicação após a ingestão de peixe, o que desencadeia a chamada doença de Haff.

O estudo se baseou no resultado das amostras de fezes, urina e sangue de 15 pacientes analisados. Quatorze das 15 pessoas que relataram os sintomas informaram que consumiram peixe – a maioria olho de boi (Seriola spp) e badejo (Mycteroperca spp). A 15ª pessoa disse que comeu comida baiana, o que possivelmente poderia incluir essas espécies.

Os primeiros registros da doença eram associados a ingestão de peixes de água doce. Agora, mais recentemente, apareceram casos após o consumo de dois tipos de peixe de água do mar: o badejo e o olho de boi.

“Nós temos o monitoramento na região de Camaçari e de Mata de São João. Nós vamos procurar fazer um senso das populações dessas duas espécies de peixes e ver se a gente consegue identificar os principais elementos da dieta e, quem sabe, dar alguma pista para o pessoal da química”, contou Francisco Kelmo.

O secretário de Saúde da Bahia, Fábio Vilas Boas disse que está emitindo alerta por causa do crescimento. “Nós estamos emitindo alerta para os profissionais de saúde para ficarem atentos as pessoas com esses sintomas. Com esse alerta é possível que comecem a procurar outros casos suspeitos. Toda vez que você emite alertas as pessoas prestam mais atenção e os médicos devem estar atentos e notificar”

Origem

Os primeiros casos de doença de Haff foram descritos pela primeira vez em 1924, na Rússia e na Suécia, e envolveram o consumo de diferentes peixes de água doce. Nos Estados Unidos, ocorreram relatos no Texas, em 1984, após o consumo de búfalo de água doce cozido (Ictiobus cyprinellus) e, em 1997, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) relataram seis casos adicionais de doença em pacientes da Califórnia e do Missouri.

Em 2001, dois casos foram registrados após a ingestão de salmão atlântico cozido na Carolina do Norte e, em 2014, foram publicados relatos de casos individuais. A China também relatou algumas ocorrências da doença em 2010, devido à ingestão de lagostins.

No Brasil, um surto de 27 casos de doença de Haff já ocorreu em 2008, durante 4 meses no estado norte do Amazonas. Os peixes de água doce pacu-manteiga (Mylossoma duriventre), tambaqui (Colossoma macropomum) e pirapitinga (Piaractus brachypomus) foram os causadores.

Há uma diferença entre os casos anteriores da doença e o mais recente na Bahia: de acordo com Bandeira, os peixes consumidos desta vez são de água salgada, ao contrário dos relatos anteriores nos Estados Unidos, Suécia, Rússia e inclusive no Brasil.

Orientações gerais para população:

• Aos primeiros sintomas, busque uma unidade de saúde imediatamente e identifique outros indivíduos que possam ter consumido do mesmo peixe ou crustáceo para captação de possíveis novos casos da doença.

Aos profissionais de saúde:

• Observar a cor da urina (escura) como sinal de alerta e o desenvolvimento de rabdomiólise, pois neste caso, o paciente deve ser rapidamente hidratado durante 48 a 72 horas.

• Evitar o uso de anti-inflamatórios.

• Na ocorrência de casos suspeitos, recomenda-se exame para dosagem de creatinofosfoquinase (CPK), TGO e monitorização da função renal. G1