Em seu segundo Carnaval, banda prova que não é uma alienígena em dia repleto de pagode no Campo Grande. Quem está no circuito e não é um desavisado percebe logo quando o Àttooxxá está chegando. Do nada, no meio da multidão, começam a aparecer dezenas de jovens com o mesmo visual: camisa de botão e short bem curto feitos de uma mesma estampa, geralmente florida mas com certeza muito, muito colorida.

Esse é o visual adotado como marca pela própria banda, uma veterana em festas de casas de dança pequenas em bairros como o Rio Vermelho, mas uma novata no Carnaval. Estourou no ano passado, com aquela música que você talvez não reconheça pelo nome – Elas Gostam – mas com certeza sabe o refrão – Popa da Bunda.

Em seu segundo Carnaval, o grupo formado por garotos soteropolitanos tem um desafio um tanto pesado para quem tem poucos anos de carreira: mostrar que são muito mais do que a alardeada Popa da Bunda, eleita música do Carnaval em 2018.

Mas voltemos ao circuito do Campo Grande neste domingo (3). Mesmo sem perguntar a ninguém você provavelmente encontraria a concentração do trio do Àttooxxá. Basta seguir os foliões reluzentes de glitter. Aí vai outra dica ‘xeque’: siga as mulheres. Sim, porque elas são o público majoritário da banda. Um choque enorme em relação às outras bandas de pagode.

Há uma explicação para isso, garantem as foliãs do Àttooxxá: “As letras trazem um lance de empoderamento forte. Eles respeitam as mulheres, diferentemente de outras bandas do mesmo gênero, e trazem uma mensagem de valorização da autoestima do gueto”, diz Milaine Almeida, que é baiana, mas vive em São Paulo.

“Eles com certeza já romperam o estigma da Popa da Bunda. Isso de terem só uma música famosa ficou para trás. Eles já chegaram lá em São Paulo, por exemplo”, completa Catarina Melo, outra baiana que mora na capital paulista.

Essa mensagem a que Milaine se refere fica clara quando a banda começa o aquecimento e inicia o desfile pelo Campo Grande. Telões enormes de LED na frente e nas laterais do trio berram ‘respeite as minas’. Que logo se transforma em ‘respeita as monas’ e em ‘respeite as manas’.

O choque para quem não conhece o Àttooxxá fica ainda mais gritante considerando que, por aquele mesmo Campo Grande, haviam passado mais cedo bandas do pagode tradicional, como Psirico, La Fúria e Parangolé. Com suas trocentas influências de música eletrônica, a música deles é uma releitura da releitura da releitura do pagode. E que sacode do mesmo jeito.

“Véi, é Àttooxxá véi! É de f*, vamo seguir também” grita um folião suado de ter seguido o Psirico, trio que passou pelo Campo Grande pouco antes pelo Campo Grande. O seu amigo, do lado, faz cara de quem não conhece o grupo, mas que curtiu o som e se joga.

Guitarrista e um dos líderes da banda, Chibatinha reconhece que esse tipo de reação ainda é comum. “Elas Gostam (Popa da Bunda) foi um grande divisor de águas pra gente, que nos abriu muitas portas. Mas desde então fomos correndo vários festivais de música e acho que agora estamos colhendo os frutos desse trabalho de divulgação”.

No sábado (2) eles já haviam dado uma amostra do tamanho que a banda vem adquirindo. Num trio pipoca na Barra-Ondina, arrastaram uma multidão tocando ao lado de ícones da música eletrônica como Major Lazer.

Os vídeos da massa que seguiu o trio no Circuito Dodô surpreenderam a própria banda: “Só depois que eu vi as imagens foi que eu fiquei muito emocionado. Porque na hora ali a gente fica concentrado em tocar e não se liga muito, né? Mas depois eu vi que a galera colou mesmo”, confessa Chibatinha.

E assim seguiu o trio pipoca do Àttooxxá em seu segundo ano consecutivo. Aglutinando ainda mais gente que já os conhece, mas surpreendendo cada vez mais pessoas ao dizerem: ‘prazer, somos um pagode diferente, se gostou cole com a gente’ segundo informações do Correio da Bahia Foto: Jefferson Peixoto/Secom