© Marcello Casal JrAgência Brasil

Andar com dinheiro no bolso é coisa do passado – e de um passado distante. Antes mesmo do PIX facilitar a vida de quem vende e de quem compra, as maquininhas de cartão já iniciaram a obsolescência do papel moeda. Na Bahia, na última década, o aumento da quantidade de maquininhas foi de 562%: enquanto em 2012 eram 201.169, esse número pulou para 1.331.837 em 2022. Os dados são do Banco Central do Brasil.

Renato Cunha, especialista em meios de pagamentos, explica que as maquininhas começaram a ocupar o protagonismo entre as formas de pagamento a partir da queda da exclusividade que as empresas Visanet (atual Cielo) e Redecard tinham sobre elas, em 2010. Depois disso, o mercado de meios de pagamentos se abriu e diversas empresas começaram a fornecer máquinas de cartão.

“As vendas em cartão de crédito e débito vem crescendo exponencialmente, e com a facilidade de bancos digitais, hoje em dia pouca gente anda com dinheiro. Logo, se um estabelecimento não aceita cartão, fatalmente verá seu faturamento definhar. E os principais motivos para o uso são entregar facilidade de pagamento ao cliente e aumentar o faturamento, atendendo uma demanda que não para de crescer”, diz Cunha.

Antes associado principalmente a lojas, o uso dessa ferramenta de pagamento tem crescido também como uma opção para profissionais independentes. Manuela Corrêa, 23, entra no índice de profissionais que adotaram a maquininha no seu trabalho. Cabeleireira, a jovem aceita pagamentos em cartão há três anos, e diz que a decisão veio por necessidade de melhorar o atendimento.

“Diversas clientes tinham dificuldade em sacar dinheiro e, antes do PIX, as transferências levavam de um a dois dias para cair na minha conta. Assim, a maquininha foi uma forma de facilitar para mim e para as clientes. É uma segurança para o empresário, porque ali consegue ter um controle de pagamentos, além de poder oferecer opções de parcelamento para o comprador”, conta. Atualmente, sua única reclamação quanto às máquinas são as taxas altas.

Segundo o economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon-Ba) Edval Landulfo, a adoção das maquininhas por mais vendedores e estabelecimentos “une a fome e a vontade de comer”: os prestadores de serviço querendo vender e os clientes tendo mais possibilidades de pagamento. Entretanto, ele alerta para os perigos de não analisar com cuidado essa condição.

“Claro que é um benefício essa antecipação na compra do bem, mas não é utilizado da forma correta. Tanto lojistas com a antecipação do recebimento desse valor muitas vezes não passam os juros da antecipação para os clientes para não perder vendas, de forma que, se não tiver uma margem legal de venda acaba comprometendo o lucro, como o consumidor também não se preocupa muito em fazer uma análise de quanto de juros está sendo cobrado na operação”, diz.

Se antes as máquinas tinham a inserção e passar o cartão como as únicas opções, hoje é possível apenas aproximar o cartão, seja ele material ou virtual, e até gerar QR codes para PIX. Cunha explica que essa mudança vem de uma necessidade de evolução com o passar do tempo, para incluir mais dispositivos de segurança.

“A inserção é um método que tem uma limitação para a inclusão de medidas de segurança, por isso veio o pagamento por NFC [por aproximação], que agora tem um token de validação que é diferente para cada venda, nunca se repete. Quando é feito em um cartão virtual pelo celular, além do token, também é usada a senha do próprio smartphone. E como as máquinas de cartão são pontos de venda, precisavam ter integrações às novas tecnologias, não só o QR Code do PIX mas também das carteiras digitais”, afirma o especialista.

Confira o número de maquinhas na Bahia por ano:

2022: 1.331.837
2021: 955.830
2020: 690.372
2019: 533.392
2018: 407.604
2017: 213.678
2016: 231.843
2015: 258.649
2014: 255.039
2013: 218.684
2012: 201.169 Correio da Bahia