Não precisa nem ser um dos 15 mil passageiros que usam diariamente o sistema ferry boat para perceber que o caos, na verdade, já está passando da fase de anúncio. Basta uma busca rápida no Google para perceber os sinais. Na última segunda-feira, duas embarcações colidiram no Terminal de Bom Despacho. Há algumas semanas, funcionários protestaram por falta de segurança no ambiente de trabalho. No final do ano passado, passageiros levaram um susto com uma nuvem de fumaça saindo do porão de uma embarcação. Responsável pelo serviço, a Agerba se cala enquanto os usuários navegam em um mar de transtornos.

Entre esses 15 mil passageiros, é uma tarefa árdua encontrar alguém que não tenha uma reclamação a fazer. As principais queixas estão relacionadas às filas inUsuários do ferry boat reclamam de filas e de sucateamento das embarcações; a expectativa é de um caos ainda maior no sistema durante o Carnaval de Salvador Navegando em transtornos termináveis, à quantidade de ferries disponível, à conservação da lataria deles e às condições dos banheiros das embarcações, que não têm sequer papel higiênico.

Se o cenário já é preocupante em dias normais, para o Carnaval a expectativa é de um caos ainda maior. Até o fechamento desta matéria, não havia sequer a divulgação de um planejamento para tentar oferecer aos usuários um serviço mais digno nos dias da festa, mesmo com a previsão de que o fluxo de pedestres triplicasse, como acontece nos feriados prolongados.

A solução para os transtornos, na avaliação dos usuários, é a construção da esperada Ponte Salvador-Itaparica. Só que é nesta estrutura também onde se apoiam os gestores públicos para justificar o abandono das embarcações. O raciocínio é simples: “não vamos investir no ferry porque a ponte vem aí”. O resultado é que os baianos e turistas seguem sem ponte e sem serviço de travessia com o mínimo de qualidade.

O Jornal da Metropole enviou oito questionamentos para a Agerba sobre a situação do sistema, mas nenhum deles foi respondido. Já a Internacional Travessia, que gere o ferry boat, informou que as embarcações passam por manutenção sempre que necessário e periodicamente são realizadas reformas gerais. A empresa recomendou procurar a Agerba quando indagada sobre a compra de novos ferries, mas a estatal está em silêncio.

Quem são os responsáveis?

Nomeado no segundo mandato de Rui Costa (PT), Carlos Henrique de Azevedo Martins está no comando da Agerba há quase quatro anos. No período, não houve sequer a aquisição de novas embarcações. Irmão do senador Angelo Coronel (PSD), Carlos Henrique sempre sustentou um perfil reservado, longe dos holofotes. Entre 2009 e 2013, foi diretor da Junta Comercial da Bahia (Juceb), mas acabou demitido pelo então governador, Jaques Wagner (PT). À época, a imprensa noticiou que a exoneração havia sido de surpresa.

A Internacional Travessias, que é uma subsidiária da Internacional Marítima, também tem sido responsável pelo caos do sistema ferry boat nos últimos anos. A empresa maranhense é criticada até mesmo por funcionários, que se queixam da falta de segurança. Segundo os empregados, eles têm sido vítimas de agressões e humilhações por parte dos usuários, que também reclamam do serviço oferecido.

Passado antigo

Foi na década de 1970 que o então governador Luiz Viana Filho inaugurou o sistema ferry-boat. Na época, a chegada das embarcações foi elogiada, pois a promessa era oferecer maior acessibilidade aos baianos. Era um sonho conectar o Recôncavo Baiano com a Ilha e a capital do estado. A viagem inaugural foi feita pela embarcação Agenor Gordilho em dezembro de 1972. O ferry, que transportava 600 passageiros, foi afundado em 2020, na Baía de Todos os Santos.

Hoje, são sete ferries em serviço. Os mais novos têm 13 anos: Anna Nery e Dorival Caymmi. Mas boa parte tem mais de 40 anos de fabricação. A última compra ocorreu em 2013, quando o então secretário de Infraestrutura, Otto Alencar, anunciou a aquisição dos dois equipamentos da empresa portuguesa Frontier Happy por R$ 27 milhões, cada um. De lá para cá, nenhum outro foi comprado. Metro1