Pré-candidato do PSOL ao governo da Bahia, Kleber Rosa criticou os adversários que lideram a disputa pelo estado – ACM Neto (União Brasil) e Jerônimo Rodrigues (PT).

“Assim, se o PT falhou, e a meu ver falhou, na necessidade de buscar resolver esses problemas de garantia e inclusão, a volta do carlismo é a pior alternativa, porque (o carlismo) na verdade é uma política convicta de que é necessário beneficiar pequenos grupos políticos em detrimento da inclusão da maioria vulnerável da população. Por isso a gente apresenta uma alternativa popular, que retome as esperanças de combater a desigualdade, mas que a gente não sucumba as velhas oligarquias que não têm compromisso com o povo”, declarou o socialista, em entrevista à Tribuna.

Kleber Rosa até fez elogios a Jerônimo, mas disse que, se o petista for eleito para o governo da Bahia, pode ter um perfil semelhante à do governador Rui Costa (PT).

“Embora Jerônimo seja essa figura forjada na luta popular, nos movimentos sociais, mas a gente precisa refletir até onde ele está se descolando ou não do que foi a experiência de Rui Costa na Bahia. Nesse sentido, eu particularmente estou vendo um pouco de afirmação do mesmo modelo. É o que eu percebi até agora. Mas a eleição está começando ainda, a gente faz ajustes e tal. A gente fica na expectativa para ver para que lado ele vai”, pontuou.

Tribuna – Qual a leitura que o senhor faz da atual situação da Bahia?  O que o estado tem de mais carência? 

Kleber Rosa – Olha, nós temos críticas, sobretudo, no que diz respeito à opção política que foi feito por Rui Costa que é de agregar setores do campo conservador, inclusive, pessoas do campo carlismo, do velho carlismo, isso terminou desconfigurando aquilo que a gente imaginava e desejava que fosse um governo do PT. À luz inclusive do que foi o governo de Lula, com viés de inclusão social, como teve um programa de habitação, como o “Minha Casa Minha Vida”, como teve um programa de valorização do salário-mínimo, o próprio Bolsa Família, ou seja, programas de combate à fome, de combate à desigualdade, de promoção, de distribuição de renda, de garantia do direito à moradia. A expectativa nossa para um governo na Bahia, petista, mas, sobretudo, analisando o Rui Costa era que ele refletisse um pouco isso, ainda que com os limites que a gente identificou no governo Lula. Mas o governo (Rui Costa) é muito alinhado com pautas dos setores mais conservadores, fazendo gestos de privatizações, como é o caso da Embasa, com a privatização de áreas públicas, inclusive, beneficiando setores da construção civil. Isso na verdade é uma marca geral do governo. Então, para nós, o problema maior é justamente o governo não ter apresentado uma política de inclusão social, uma política que estivesse caracterizada com o compromisso do bem-estar social das pessoas.

Tribuna – Como o senhor observa a questão da segurança pública da Bahia? 

Kleber Rosa – A questão da segurança pública é uma coisa gritante. É uma escolha racional do governo. É uma escolha racional do governo uma política voltada para letalidade, para afirmação do confronto, como mecanismo de combate à violência. Modelo fracassado. É um modelo vencido, inquestionavelmente vencido, que não dá resultado. Ao contrário, tem sido algo de crítica dos mais diversos setores sociais. Então, a insistência desse modelo mostra também um governo quase refém de uma política alinhada com esses setores conservadores. Então, essas são as críticas centrais que a gente faz do ponto de vista de um diagnóstico mais geral da experiência do governo de Rui Costa na Bahia.

Tribuna – O que deveria, então, mudar na Segurança Pública da Bahia? 

Kleber Rosa – O que nós precisamos fazer é: primeiro é fazer uma inversão da opção política de fortalecer o confronto, (hoje está se) priorizando a ação da Polícia Militar e a militarização da segurança pública como um todo. (Temos que) focar, fazer um giro para priorizar a investigação como instrumento principal de enfrentamento à violência ao crime. Isso como um elemento imediato. Como elemento de médio e longo prazo, pensando num modelo de sociedade, numa perspectiva de uma gestão a médio prazo, é investir na inclusão social. A gente sabe que a violência é um fenômeno advindo da natureza pessoal. A violência ela é um fenômeno que é produto de um processo de exclusão social, de vulnerabilidade social, de abandono das pessoas, da falta de acesso das pessoas aos bens, a dignidade da vida humana. Então, nesse sentido, enfrentar o problema na sua raiz. Então, pensar em uma política de inclusão social, pensar uma gestão que foque, que priorize o bem-estar social, a inclusão de renda, a garantia da renda, a garantia do acesso amplo e pleno a educação, uma política de valorização da renda, valorização do salário-mínimo e aí nós temos a proposta de um salário-mínimo regional como forma de colocar o salário-mínimo na Bahia acima do salário-mínimo nacional. A política de valorização regional do salário-mínimo. Isso tem resultados tanto na melhoria da renda da população como na oxigenação da economia local, com o fomento no comércio sobretudo, no comércio e no serviço. Então, assim, para gente discutir segurança pública passa por isso também, a médio e a longo prazo.

Tribuna – O candidato governista à sucessão, Jerônimo Rodrigues, tem sido colocado como um representante do movimento social, indígena… O senhor acha que ele, de alguma forma, tem um perfil, um viés mais voltado à esquerda do governador Rui Costa? 

Kleber Rosa – Olha, pelo perfil sim. Jerônimo é um uma pessoa que tem uma história de militância em movimentos populares. É forjado nos movimentos populares. Então, tem o perfil, pela história dele. A expectativa que se cria é nessa perspectiva. Por outro lado, o que nós temos que analisar, o que nós estamos analisando é: primeiro, as alianças que se confirmaram para garantir a chapa de Jerônimo, que é muito duvidosa com destaque aí para presença de Geddel Vieira Lima. Que é o mais gritante, que é o mais constrangedor para própria militância petista. Tem que engolir no seu arco de aliança de uma figura como Geddel Vieira Lima, condenado, flagrado com prova de roubo, de crime, enfim. Isso sinaliza para gente, sinalizou para gente e deve sinalizar para o povo da Bahia como um todo, um limite nesse perfil de Jerônimo. Ou seja, tem um perfil, mas como é que está sido gestado isso? Isso é o primeiro o elemento. O segundo elemento é o próprio discurso de Jerônimo. A gente tem que analisar como ele está se saindo, se ele consegue se descolar de Rui, identificar pontos críticos do governo e sinalizar possibilidades de mudanças, de melhoras. Ou se ele vai afirmar de forma categórica, de forma intransigente que o governo de Rui Costa foi maravilhoso e vai dar sinais de manutenção, de posições políticas acerca dessas questões. Eu já vi Jerônimo falar, por exemplo, sobre a questão da segurança pública, e ele terminou repetindo um discurso de que tem que ser mais enérgico, que tem que botar nas polícias e tal discurso, um discurso de reafirmação desse modelo. Então, assim dá para gente as sinalizações de que, embora Jerônimo seja essa figura forjada na luta popular, nos movimentos sociais, mas a gente precisa refletir até onde ele está se descolando ou não do que foi a experiência de Rui Costa na Bahia. Nesse sentido, eu particularmente estou vendo um pouco de afirmação do mesmo modelo. É o que eu percebi até agora. Mas a eleição está começando ainda, a gente faz ajustes e tal. A gente fica na expectativa para ver para que lado ele vai.

Tribuna – A Educação também é um gargalo na Bahia, né? 

Kleber Rosa – A educação é parte desse processo de inclusão e de garantia da dignidade, combater o analfabetismo, o número de analfabetos na Bahia é algo também gritante. E aí nós temos governantes que desdenham da educação. A gestão carlista desdenha da educação. Eles fecharam no final do ano passado mais de quarenta escolas de educação de jovens e adultos, escolas noturnas. Quer dizer o EJA é o que se tem de política de combate ao analfabetismo, que é por onde o adulto e o jovem que não tiveram acesso no tempo regular retornem para a escola. Então, fechar a escola é condenar essas pessoas ao analfabetismo, e mais é dizer para quem não está na escola que continue sem vir para escola. A justificativa de que não completou turma, que tem poucos alunos é absurda, porque na verdade o que o estado precisa fazer é promover uma política de estímulo, de convencimento das pessoas para voltar para escola, para vir para escola, para se matricular. Então, é necessário ter uma política de estímulo. Não estou falando só do ponto de vista do marketing. Mas mesmo de condições para que as pessoas venham, pensarem em uma bolsa que possa substituir a necessidade do trabalho ou a do transporte. Então, isso é garantir o combate ao analfabeto. Nesse sentido, não podemos deixar de colocar no rol de soluções para Bahia a gestão carlista em Salvador, como exemplo negativo. Se o ACM hoje quer se colocar como alternativa, ele não é alternativa para o que não está dando certo. Ao contrário, o carlismo é responsável por esse quadro de abandono e de exclusão que a nossa população vive. Carlismo é uma política que está sendo engendrada, desenvolvida na Bahia há mais de setenta anos. Há sete décadas que essa oligarquia liderada pelo carlismo dirige a Bahia. E eles são responsáveis por esse desenho social que a Bahia de exclusão, de falta de acesso à terra. Então, assim, se o PT falhou, e a meu ver falhou, na necessidade de buscar resolver esses problemas de garantia e inclusão, a volta do carlismo é a pior alternativa porque na verdade é uma política convicta de que é necessário beneficiar pequenos grupos políticos em detrimento da inclusão da maioria vulnerável da população. Por isso a gente apresenta uma alternativa popular, que retome as esperanças de combater a desigualdade, mas que a gente não sucumba as velhas oligarquias que não têm compromisso com o povo.

Tribuna – Como o senhor viu a decisão do PSOL nacional de apoiar Lula? 

Kleber Rosa – O PSOL ao longo da nossa existência, 18 anos, a gente tem tido candidaturas próprias para o governo federal. Temos defendido um projeto muito próprio nosso para o Brasil, como estamos fazendo agora para Bahia. No entanto, nós não podemos minimizar o perigo que nós estamos vivendo hoje no Brasil, com o avanço de uma política autoritária centrada numa lógica fascista. Que é a existencial do outro, do diferente. Então, assim, a gente percebe isso no discurso de Bolsonaro, contra as demandas da população negra, dos grupos LGBTQI, as mulheres. Bolsonaro praticamente escolheu as mulheres como o seu principal alvo para destilar sua propaganda de ódio. Então, essa tendência fascista na prática bolsonarista somada ao seu viés autoritário, que visa fragilizar os espaços democráticos, a democracia. Não podemos negligenciar o perigo e o risco que nós vivemos. Sem contar que Bolsonaro afundou o país numa crise social sem precedentes. Nós temos 33 milhões de pessoas passando fome. Nós temos mais da metade da população, muito mais da metade da população total do Brasil vivendo insegurança alimentar, e as pessoas comem hoje e não sabem o come amanhã. Então aqui em Bolsonaro é um risco muito grande para o Brasil. Já impôs o Brasil nessa instabilidade econômica e política, e a possibilidade de uma reeleição de Bolsonaro é intensificar tudo isso de uma forma ainda mais grave. Então, para nós, é tarefa central no Brasil hoje é derrotar Bolsonaro. Então, por isso nós fizemos a opção de apoiar Lula num esforço de garantir que a eleição nacional se resolva no primeiro turno, para diminuir qualquer risco de Bolsonaro crescer, do bolsonarismo se intensificar no processo e de evitar que a eleição se torne um campo de disputa violenta. Então, tudo isso coloca a gravidade da situação. Isso explica, justifica nosso esforço, nossa decisão de apoiar presidente Lula.

Tribuna – O senhor acha que o Lula tomou a decisão acertada ao escolher Alckmin como candidato a vice?  

Kleber Rosa – Não. Claro que não. Alckmin é a espinha na garganta. Alckmin representa a elite paulista que é muito semelhante inclusive ao que ACM representa na Bahia. Alckmin representa a elite paulista, que opera ali os setores industriais, que desdenha da fome no Brasil, que forja a sociedade baseada na falta de direitos trabalhistas, no lucro do rico e total desdém para a qualidade de vida do povo. É o que representa também na essência ACM Neto na Bahia, que ele é herdeiro dessa oligarquia baiana. Então, assim isso é muito ruim, isso inclusive revela o pouco do esforço que Lula está fazendo para garantir a eleição dele conseguindo aí gerir em torno dele setores como nós da esquerda e setores mais conservadores. Isso explica em alguma medida o esforço e a movimentação de Lula, e a nossa presença explica o quanto para gente é importante derrotar Bolsonaro, porque em outro cenário a gente jamais toparia estar numa chapa, está apoiando uma chapa com a presença de Alckmin. O explica por exemplo a gente ter candidatura própria na Bahia. Na Bahia, o cenário é outro, e a gente avaliou que tem espaço para defender o nosso projeto. Não sucumbir a experiência ruim de Rui Costa aqui na Bahia, e manter a nossa posição política de não permitir que as velhas oligarquias, as elitistas excludentes voltem ao controle do estado.  A nossa presença tem uma importância muito grande porque ela reafirma a persistência em não abandonar a necessidade de inclusão, de não sucumbir ao governismo e a nossa crença de que é possível recomeçar. A experiência do governo de Rui Costa na Bahia está aquém daquilo que nós do campo da esquerda desejávamos. Não acreditamos que a continuidade desse governo dê conta das nossas demandas históricas de luta popular, de luta social pelo direito do povo a terra, a casa, a comida e nesse sentido a nossa presença é um exercício, é uma militância pela esperança