Presidente do PDT na Bahia, o deputado federal Félix Mendonça Júnior avalia que o Partido dos Trabalhadores “erra ao não abrir espaço para novas lideranças” no Estado. “Os candidatos (a cargos majoritários) são sempre os mesmos na composição das chapas”, critica.

O parlamentar é um dos nomes lembrados em seu partido para compor a vice na virtual chapa a ser liderada pelo presidente nacional do Democratas, ACM Neto, ao governo da Bahia em 2022. Quanto a essa possibilidade, Félix se diz “honrado” por estar dentre as opções para a disputa.

No entanto, prefere não adentrar na discussão. “Ainda é cedo para qualquer definição. O momento agora é de a gente focar no combate à pandemia. Claro que as conversas estão ocorrendo, mas ainda de forma preliminar”, declarou, à reportagem.

Félix concorda com o presidente nacional do seu partido, Carlos Lupi, que disse recentemente que os governos do PT no Estado não valorizaram o PDT. “Claro que poderíamos ter mais espaço, até porque temos nomes qualificados dentro do partido para ocupar cargos públicos”, sugere.

“Um exemplo disso é o desempenho excelente que estamos tendo à frente da Secretaria de Agricultura, a Seagri, e da Junta Comercial”, acrescentou. Após a eleição da pedetista Ana Paula Matos para vice do prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM), a presença do PDT no governo estadual passou a ser reavaliada pelo governador Rui Costa (PT).

Confira a entrevista completa:

Política Livre: O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, disse, em entrevista ao Correio da Bahia, que os governos do PT na Bahia não valorizaram o PDT. O senhor concorda?

Félix Mendonça Júnior: Claro que poderíamos ter mais espaço, até porque temos nomes qualificados dentro do partido para ocupar cargos públicos. Um exemplo disso é o desempenho excelente que estamos tendo à frente da Secretaria de Agricultura, a Seagri, e da Junta Comercial (Juceb). Mas o PDT não se preocupa apenas com cargos e espaços, tanto que, se você observar, a gente não ocupou nem espaço nas chapas majoritárias nas duas eleições estaduais passadas. Procuramos discutir de que forma podemos colaborar melhor com a Bahia. Sobre a ocupação de cargos, o PT fica muito preso a outros partidos.

Há uma tentativa de o PT de associar Ciro Gomes à direita. Uma tentativa de dizer que Ciro é um político de direita. Como o senhor observa isso?

Quando se faz um esforço para enquadrar um político como direita, esquerda ou centro é porque esse político está incomodando alguém. Ciro escolheu o PDT e está contente com o partido. O PDT está feliz com Ciro. Ele é o candidato mais preparado para disputar a Presidência da República e capaz de dialogar em diversas frentes, porque tem um projeto para o Brasil, independentemente de rótulos. As pessoas querem é alguém capaz de construir um país melhor, mais forte, mais humano, socialmente mais justo e com a economia pujante. Ciro é esse nome, tem experiência e qualificações para isso. Temos que deixar o radicalismo de lado porque ele só leva ao erro. O momento é de união das correntes políticas que querem construir um novo rumo para nosso país.

O PT na Bahia erra ao não abrir espaço para novas lideranças e também não apoiar um aliado para o governo da Bahia?

O PT erra sim ao não abrir espaço para novas lideranças. Os candidatos são sempre os mesmos na composição das chapas. Não temos nada contra as pessoas de idade, mas veja o que se discute, para 2022, a formação de uma chapa septuagenária no PT. Isso demonstra que não há renovação. A renovação na política é importante. Claro que aquelas pessoas mais experientes têm valor importantíssimo, inclusive para ajudar a construir novos valores e novas lideranças. No PDT, a gente busca sempre fazer essa mistura de experiência com renovação. Estamos sempre em busca de lançar novos quadros.

O PDT conseguiu fazer a vice do prefeito Bruno Reis. O partido pretende fazer também o vice de ACM Neto?

O apoio a Bruno Reis em 2020, que foi articulado pela Executiva nacional do PDT, e nós indicamos Ana Paula como vice, não está relacionado com 2022. Assim como o apoio a Rui Costa em 2018 também não está relacionado a 2022. São eleições diferentes, e 2022 é 2022. Não somos subordinados a nenhum dos dois lados e estamos conversando com todo mundo.

Desde que o presidente Carlos Lupi mencionou Guilherme Bellintani em uma entrevista recente, há uma especulação de que ele pode ser indicado pelo PDT à vice. É verdade?

Tivemos apenas uma conversa com Bellintani. Se ele procurar o partido, vamos conversar de novo. Agora ninguém entra no partido para ser indicado a vice, ao Senado ou ao governo como condição. Mas estamos sempre de portas abertas para renovar e para receber bons quadros técnicos, que comunguem com nossas ideias. Bellintani, por exemplo, disse que votou em Ciro Gomes nas últimas eleições. Ele seria bem-vindo. Mas isso ainda está sendo discutido de forma preliminar.

Mas alguém pode entrar no partido de uma hora para outra e já ocupar uma posição como essa?

A política é muito dinâmica, muda a cada dia nos partidos. As eleições ainda estão longe, e não temos ideia ainda de composição de chapa. Estamos ouvindo as bases, para ver o que podemos de melhor ofertar à população.

Não seria mais plausível o senhor poder pleitear esta condição?

Fico honrado do meu nome estar sendo especulado. Mas ainda é cedo para qualquer definição. O momento agora é de a gente focar no combate à pandemia. Claro que as conversas estão ocorrendo, mas ainda de forma preliminar.

O senhor apoiou Bruno Reis à Prefeitura contra a candidatura do PT e até hoje ocupa cargos no governo estadual. Renegociou o apoio a Rui Costa ou ele é que quer que o senhor permaneça apoiando ele?

Apoiamos o PT em 2014 e 2018. O PDT foi, inclusive, quem primeiro apoiou Rui Costa em 2014. Eu até brinquei com um deputado, dizendo que o apoio do PDT não era ao PT, e sim a Rui Costa, porque são coisas diferentes. Rui Costa era um bom nome e está fazendo um bom governo. Estaremos no governo até quando o governador quiser. Creio que temos feito um excelente trabalho pela Bahia, com resultados satisfatórios.

O senhor acredita que o governador vai implementar uma reforma administrativa que tirará o PDT de cargos importantes, como a secretaria de Agricultura e a Juceb?

Estamos no governo porque apoiamos Rui Costa em 2018. E temos tido um desempenho exemplar, repito. A Seagri, por exemplo, foi decisiva para que o agronegócio baiano crescesse mais de 5% em 2020 mesmo com a crise sanitária, movimentando mais de R$72 bilhões. A secretaria estimulou a diversificação da produção, o incremento tecnológico, apoiou o segmento e ainda entregou equipamentos, como tratores. Setores como a produção de aves, por exemplo, foram ou estão sendo estimulados em diversas regiões com a implantação de frigoríficos. Na Junta Comercial, a desburocratização e modernização dos processos permitiu com que, no primeiro semestre deste ano, a Bahia registrasse 8,7 mil novas empresas contra 5.700 fechadas, com um saldo positivo mesmo com a crise. Creio que o governador esteja satisfeito com esse desempenho. Mas cabe a ele a decisão de tirar ou não o PDT do governo. Política Livre