O mês de outubro de 2021 terminou com 117 homicídios em Salvador e região metropolitana, um caso a menos que o registrado no mesmo período no ano passado, de acordo com dados da Rede Observatório de Segurança da Bahia. O coordenador do projeto, Eduardo Ribeiro, comentou a onda de violência na capital.

De acordo com o estudo, o número de assassinatos ainda poderia ser maior. Isso porque o número de sobreviventes de disparos de arma de fogo passou de 13, em outubro de 2020, para 38 casos no mesmo período deste ano. Para o coordenador, a violência cresce devido à uma política fracassada “de guerra às drogas”.

“A opção pela guerra é uma escolha que o estado fez, onde tenta resolver o acesso a substâncias ilícitas a partir da ação armada”, explica. Eduardo Ribeiro reforça ainda que há um processo de reorganização das facções criminosas em todo território nacional, e que novas localidades estão sendo ocupadas. Segundo ele, para lidar com isso, é necessário investir em inteligência e coleta de dados.

“Existe uma reorganização das organizações ligadas ao comércio ilícito de drogas, em tem ocupado novos territórios, e a gente precisa responder com inteligência, ciência, com pesquisa e com dados. Não com frases de efeito e termos que não apresentam resultado de fato”, ressalta. O especialista ressalta ainda que diante dos números atuais, ninguém está seguro, nem dentro de casa. Mas que as comunidades negras são as mais afetadas pelo aumento da violência em todo estado. “Seja pelo aumento das chacinas ou violência armada. E seja também pela ocupação de territórios, justificado pela ideia de Guerra às Drogas”.

Insegurança

Dados do Departamento Penitenciário Nacional revelam que, até dezembro de 2020, apenas 9,3% das pessoas encarceradas no Brasil praticou homicídio. A baixa quantidade de assassinos presos revela o medo dos familiares de vítimas da violência: a impunidade, que também faz crescer a sensação de insegurança. “Eu não consigo dormir e nem sair na rua, fico assustada”, revela Jucilene Escaldaferi, uma vítima de bala perdida durante uma ação policial, no bairro de Paripe, no Subúrbio Ferroviário de Salvador.

A jovem foi baleada em maio deste ano, quando estava no sétimo mês de gravidez. Após o acidente, ela perdeu o bebê, um rim, parte do fígado e do baço. Mãe de dois filhos, conta que tem muito medo de ser vítima da violência de novo. “Quando tem ação policial eu fico nervosa, com medo, me tremendo”, conta. Segundo Jucilene, a rotina da família mudou completamente desde o incidente. Até o momento, os responsáveis pelos tiros não foram punidos. “Nós cremos em Deus, mesmo que a Justiça do homem seja falha, a de Deus não. Mas nós também esperamos que a Justiça dos homens seja feita”, conclui Ângelo Escaldaferi, marido de Jussilene. G1