Dez dias após o Corpo de Bombeiros ter localizado um corpo intacto em Córrego do Feijão, em Brumadinho, não houve avanços na identificação de novas vítimas do rompimento da barragem, que ocorreu há quase cinco meses. Vinte e quatro pessoas continuam desaparecidas.

A operação de buscas continua ininterrupta, inclusive aos finais de semana, segundo o Corpo de Bombeiros. Neste últimosábado (15), 124 militares e três cães atuam na região. Cento e trinta e duas máquinas reforçam os trabalhos, revolvendo os rejeitos a procura de vítimas.

O Corpo de Bombeiros também conta com apoio de um drone com sistema magnético de identificação de objetos metálicos. Este recurso permite identificar objetos em até 25 metros de profundidade.

Os militares estão atuando em 17 frentes de trabalho, com atenção a uma área denominada TCF (4), em uma área de interesse apontada pelos cães e avaliada pelo magnetômetro como sendo local onde possam existir corpos.

Outra área de atenção dos militares é um novo trecho da chamada Izapita que, segundo cálculos e estudos de movimentação da lama, indicam que podem ter outras vítimas no local.

Famílias na expectativa

A professora Nathália Oliveira sofre com a falta de notícias da irmã, Lecilda Oliveira, de 50 anos, que está desaparecida na lama. A mulher, que trabalhava há muitos anos na Vale, deixou dois filhos.

“A gente está esperando o telefone tocar e falar que o corpo foi identificado no IML. Estamos esperando fechar este ciclo. Enquanto não enterra, é a coisa mais estranha: um parente seu sai para trabalhar e não volta. A gente sabe que morreu, mas é tudo muito doloroso, muito triste”, disse.

Nathália reclama que, enquanto o Corpo de Bombeiros mantém familiares informados, com reuniões semanais, a Polícia Civil não é transparente no processo de identificação dos corpos.

“Nós familiares não aceitamos que o IML fale que está tudo normal. Bombeiros tem reforços. Todos os dias passam como é operação. A gente sabe o que está fazendo. No IML, não. Eles só falam que está tudo bem. Mas, nós, familiares, não aceitamos esta demora”, disse.

A fisioterapeuta Jéssica Soares Silva sabe muito bem como é a angústia de esperar para ter notícias de um familiar. Ela só teve o alento de enterrar o irmão, Francis Erik Soares Silva, no dia 7 de abril, dois meses e meio após a tragédia. Hoje, restam a saudade e o sentimento de solidariedade àqueles que ainda não tiveram notícias.

“Estamos tentando seguir a vida, apesar de ser muito difícil conviver com esse desastre. Difícil ver o sofrimento dos meus pais e da minha sobrinha. Graças a Deus ele foi identificado, (…) mas o sofrimento maior é para as famílias daqueles que ainda não foram identificados”, concluiu.

Em nota, a Polícia Civil disse que os trabalhos de identificação dos corpos acontece “dia e noite”. “Todos os esforços estão sendo realizados para trazer alento aos familiares de forma ágil e eficaz”, diz a nota.

Ainda segundo a Polícia Civil, os prazos para identificação são variáveis e diferentes para cada caso. A extração de DNA pode ser mais ou menos complexas, precisando de várias repetições em apenas um caso.

De acordo com a nota, “identificações são realizadas quase todos os dias, mas, às vezes, não resultam em novos nomes, ou seja, são segmentos de pessoas que já foram relacionadas na lista.”

Até o momento, 246 vítimas foram identificadas, o que, segundo a polícia, corresponde a 91% das 270 constantes na lista de desaparecidos. G1