Dois dias depois de encadear em uma sequência de tweets os argumentos utilizados pela diretoria de futebol para manter Roger Machado no comando do Bahia, o presidente Guilherme Bellintani anunciou a demissão do treinador. Quer incoerência maior do que essa? O mandatário tricolor falou demais, falou na hora errada e pagou o preço por isso.
Não há problema em demitir Roger, sobretudo depois da apatia generalizada demonstrada na derrota por 5 a 3 para o Flamengo. Essa decisão poderia ter acontecido, inclusive, após a final do Baianão. O problema é usar as redes sociais para defender o trabalho do treinador e demiti-lo logo depois.
Além de uma meta de pontos não revelada, Bellintani afirmou que o clube avaliava questões como a liderança do treinador, respeito do grupo e envolvimento dos atletas. Será que isso tudo ruiu em apenas dois dias? Em um jogo? A verdade é que Roger Machado já sentia o cargo escapar-lhe pelos dedos, por isso disse que pensava jogo a jogo após o empate com o Palmeiras. Falei sobre isso aqui.
E como não se sentir assim quando seu chefe explica para um grupo de torcedores que não seria esperto demitir o treinador se o mercado não oferece opção melhor? Bellintani também expôs o profissional quando disse haver vários motivos para o “Fora Roger”. Certas avaliações devem permanecer do muro para dentro.
Até porque Roger Machado não é o único culpado pelo momento do Bahia. Se há lacunas no elenco, como admitiu Guilherme Bellintani, essa falha também passa pela diretoria de futebol, nas figuras do presidente e de Diego Cerri.
Não me parece razoável que Anderson seja a primeira opção para substituir Douglas, um bom goleiro, mas com histórico de algumas lesões no clube. Na zaga, Roger revezou Ernando e Lucas Fonseca porque não conseguiu encontrar o parceiro ideal para Juninho. Wanderson, contratado pela diretoria, nem opção é. São brechas em uma posição que ajudam a explicar como o Bahia foi engolido pelo Flamengo.
O presidente tricolor tem razão quando se esforça para mostrar que nem tudo é terra arrasada, que o Bahia, de fato, evoluiu nos últimos anos e que é justamente esse salto que faz com que o torcedor anseie por um passo maior. Nesse ponto, é preciso ter cuidado para não dar um passo maior do que a perna. Entretanto, não dá para esconder o fraco desempenho do Bahia no futebol atrás de alguns sucessos, como fez o presidente. Vejamos:
- Melhor colocação na Copa do Brasil seguida de uma eliminação na primeira fase.
- Melhor colocação na Sul-Americana seguida de uma eliminação na primeira fase.
- Duas finais de Copa do Nordeste perdidas, uma delas para uma equipe muito inferior, o Sampaio Corrêa.
- E o tricampeonato baiano…
Então, é bem questionável citar o desempenho em uma competição menosprezada pelo próprio clube. O Bahia agora se movimenta para tentar contratar um treinador até o final de semana. Algumas opções já estão no radar, segundo Bellintani. E contratações não estão descartadas, se assim o futuro técnico desejar. Neste domingo, a equipe vai até Porto Alegre, onde encara o Internacional, líder do Brasileirão. Globoesporte