A Semana Santa está mais cara – e isso o consumidor já tem percebido  nos últimos dias. Para atrair a clientela, lojas e supermercados oferecem a possibilidade de parcelamento em até dez vezes. A prática deve ser adotada por quatro em cada dez consumidores brasileiros.

Do total que decidiu adiar o pagamento, 50% vai usar o cartão de crédito em parcela única; a outra metade prefere dividir em até quatro vezes. Os dados são do levantamento feito pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).

“Mesmo que a economia venha se recuperando de forma mais lenta que o esperado, as vendas nesta Páscoa podem aquecer o varejo. É momento de o setor investir em promoções para atrair consumidores”, avaliou o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Junior.

A opção de parcelamento, no entanto, divide opiniõesde consumidores e economistas. A professora de Filosofia Ivana Carneiro, 46 anos, foi às compras nesta quarta-feira (17) e, segundo ela, parcelar é criar uma bola de neve.

“Eu já adiantei a compra de alguns produtos e percebi que os preços já estavam mais altos. Os lojistas alegam que se trata da lei da oferta e procura, mas eu não concordo. Tudo o que é da Páscoa sofreu um aumento que eu chamaria de abusivo”, disse.

A professora já não compra os famoso ovos de Páscoa há bastante tempo. “Acho um gasto desnecessário, porque, além de ser chocolate como outro qualquer, não se justifica o valor cobrado. Já avisei a meus sobrinhos que eles vão ganhar dinheiro”, afirmou.

Ilusão
Quanto à possibilidade de parcelar as compras, Ivana foi taxativa: “É uma ilusão. A compra vai ter de ser paga de qualquer jeito e, como comida é algo que a gente compra todos os meses, o parcelamento vai acabar se tornando uma bola de neve”.

O Correio ouviu na quarta-feira (17) consumidores em supermercados da capital baiana e, dos entrevistados, 20% optaram pelo parcelamento. Os 80%, mesmo concordando que os preços estão mais altos, acreditam que a compra parcelada não é a solução. No entanto, não descartam o uso do crédito em parcela única.

Esse é o caso de Florisvaldo Amorim, 45 anos, que estava à procura de um ovo de Páscoa para o filho de 8 anos. “Ele já escolheu esse aqui, gigante”, disse o pai, apontando para um ovo de R$ 38,99.

O filho do comerciante Florisvaldo Amorim já escolheu o ovo deste ano
(Foto: Evandro Veiga/CORREIO)

O comerciante já finalizou as compras e a opção de parcelar foi, de cara, descartada: “Os produtos estão mais caros, mas a gente tenta economizar de outras formas”. A barista Avaneuze de Jesus, 32, não tem a mesma opinião.

“Este mês, eu vou estourar o orçamento com os produtos da Páscoa. Só o ovo de minha filha, de 4  anos, custa R$ 60 e eu ainda estou comprando para dois sobrinhos e afilhados”, disse. Avaneuze vai parcelar as compras.

“Aqui, eu posso parcelar em até seis vezes sem juros e devo dividir em três para aliviar as contas”, afirmou. No carrinho da barista, além dos ovos e caixas de chocolate, tinha peixes, tomates e outros produtos para a ceia de Páscoa. Ela, assim como 86% dos consumidores ouvidos pela CNDL/SPC no Brasil, não dispensou a pesquisa de preço.

A barista Avaneuze de Jesus já sabe que vai estourar o orçamento, então decidiu parcelar as compras
(Foto: Evandro Veiga/CORREIO)

O queridinho
A questão é que nem todo mundo pensa como Seu Pedro e Andreza. O ovo de Páscoa, segundo a CNDL/SPC, continua sendo o favorito de quase oito em cada dez (79%) brasileiros que participaram da pesquisa. “É tradição”, disse a representante de uma marca de chocolates, Ticiane Carneiro, 34 anos.

Segundo ela, uma cliente levou 24 ovos de chocolate, o que representa quatro vezes a média de compra dos brasileiros, que é de seis produtos. “Ela disse que iria presentear a família, amigos, funcionários. Saiu com o carrinho cheio”, contou. Mas, nessa Páscoa, o mercado de ovos artesanais já alcança 48% dos brasileiros – e, se o público for jovem, o número chega a 58%.

À vista
De acordo com a pesquisa, 78% dos consumidores que vão às compras farão o pagamento à vista, seja em dinheiro (66%) ou no débito (28%). A professora Mariluce Costa, 47, nem pensa em tirar o cartão de crédito da carteira: “Vou pagar à vista”.

O aposentado Pedro Guerra, 62, já havia separado dois vinhos, pescados e uma caixa de chocolate tamanho família, com 1kg de bombons, para a filha Andreza, 16. “É muito mais vantajoso”, disse. A adolescente concordou com o pai: “Eu vou comer um quilo de chocolate e vai ser muito bom”.

Barras e bombons são opção
A pesquisa da CNDL/SPC Brasil apontou que barras e bombons são alternativa para 71% do público que vai às compras nesta Páscoa. Apesar de o ovo dominar a preferência, o chocolate em barras é uma boa opção para quem busca economia. O consumidor chega a pagar mais de 40% de imposto na compra de um ovo de chocolate, segundo a empresa BDO, que atua na área de consultoria e auditoria.

Como alternativa, muita gente está recorrendo às caixas e barras de chocolate ou deixando para comprar a lembrança depois da Páscoa, quando os valores tendem a baixar. Para o advogado Gutemberg Barros, essa pode ser a melhor escolha.

“Os consumidores podem optar por alternativas mais baratas, para que a data não passe em branco. Quem não abre mão da tradição do ovo de Páscoa pode pesquisar produtos em formatos menores, que acabam saindo mais em conta”, sugeriu.

Dica de especialista
A expectativa para a Páscoa é que 113,2 milhões de pessoas façam compras em todo o Brasil, com gasto médio de R$ 195,52. Dessa forma, sete em cada dez consumidores vão sair à procura de produtos – 86% vão pesquisar antes.

A pesquisa apontou que 35% dos compradores pretendem desembolsar a mesma quantia do ano passado, 32% devem gastar mais e 25% menos.

Mas há quem não vá gastar nada – são 23% dos consumidores, que disseram priorizar o pagamento de dívidas. Já 21% mencionaram que estão desempregados e não vâo às compras.

“O consumidor brasileiro vem aprendendo que para conquistar uma vida financeira saudável, o segredo é administrar bem o orçamento. Evitar comprar logo na primeira loja e buscar preços que caibam no bolso são atitudes inteligentes. Outra dica é se planejar com antecedência, usar a internet para pesquisar e só tomar decisões depois de ter comparado os preços praticados em vários lugares”, orientou a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.

O aposentado Pedro Guerra vai comprar uma caixa de bombons de 1 kg para a filha Andreza
(Foto: Evandro Veiga/CORREIO)

Algumas lojas e supermercados oferecem condições especiais. A rede Walmart divide em até dez vezes no cartão da loja os ovos de Páscoa, peixes, bacalhau, vinhos e destilados – parcela mínima de R$ 30.

No Extra, compras acima de R$ 200 (ovos, bolos de Páscoa, chocolates, bacalhaus, azeites, pratos prontos, bolos gelados e vinhos brancos e verdes) são divididos em até dez vezes no cartão da loja. No GBarbosa, ovos de Páscoa, azeites, chocolates e vinhos são divididos em seis vezes no cartão da loja – com parcela mínima de R$ 24.

O valor mínimo da parcela é legal desde junho de 2017, sgeundo a diretora de atendimento e orientação ao consumidor Procon-BA, Adriana Menezes: “Todas as orientações sobre as formas de pagamento devem estar visíveis de forma clara e ostensiva. O consumidor tem que ser informado se há juros, diferença de preço”.

Mas o economista  e planejador financeiro pessoal, Edísio Freire orientou os consumidores a evitar o parcelamento sempre que possível.

“Se for inevitável parcelar, é preciso que a pessoa se organize para que o valor do parcelamento entre de forma natural nas contas, sem comprometer outras partes do orçamento”, disse.

O economista professor de economia da Unifcas, Gustavo Casseb Pessoti, concorda com a visão do colega e não aconselha o parcelamento de alimentos. “O parcelamento só deveria ser escolhido para comprar bem durável com o valor elevado, não para alimentos”, detalhou. Informações do Correio da Bahia