Unidos de Padre Miguel, Acadêmicos da Rocinha e Inocentes de Belford Roxo se destacaram no primeiro dia de desfiles na Sapucaí, que começou na sexta-feira (1) com as apresentações das escolas da Série A.

A abertura do carnaval de 2019 no Rio teve ainda Unidos da Ponte, Alegria da Zona Sul, Acadêmicos da Santa Cruz e Acadêmicos do Sossego.

Os desfiles atrasaram 30 minutos devido ao temporal que transformou a avenida da Sapucaí em “rio”. No meio da madrugada, a chuva já estava mais amena.

Na noite deste sábado, outras sete escolas encerram o carnaval da série A deste ano: Unidos de Bangu, Renascer de Jacarepaguá, Estácio de Sá, Unidos do Porto da Pedra, Império da Tijuca e Acadêmicos do Cubango.

No primeiro dia, três das sete escolas estouraram o tempo máximo de 55 minutos: Alegria da Zona Sul (um minuto), Acadêmicos de Santa Cruz (dois minutos) e Padre Miguel (três minutos). Veja abaixo um resumo da apresentação de cada escola.

Unidos da Ponte

Rosana Farias, rainha da Unidos da Ponte — Foto: Marcos Serra Lima/G1
Rosana Farias, rainha da Unidos da Ponte — Foto: Marcos Serra Lima/G1

Sob chuva, a primeira escola abriu a noite depois de 35 minutos do horário previsto inicialmente. Com “Oferendas”, a Unidos da Ponte reeditou o enredo de 1984 no carnaval deste ano. A escola de São João do Meriti, na Baixada Fluminense, subiu para a série A em 2018.

Rituais e oferendas feitas para cada orixá nas religiões de matrizes africanas, como umbanda e candomblé, foram representadas pelos carnavalescos Rodrigo Marques e Guilherme Diniz. Com 21 anos, Diniz é o representante mais novo desse carnaval a conduzir uma escola. Ele começou aos 17 anos.

A bateria foi destaque do desfile com dez timbais que ajudavam a fazer as “paradinhas” para cada orixá durante o samba-enredo. O mestre contou que bateu o pé para ir para a avenida com timbal e não atabaque, como o resto da diretoria queria. Feliz escolha, porque a chuva comprometeria o som do instrumento, que tem pele de couro. Já o revestimento do timbal é de nailon.

Em 1984, a escola desfilou no grupo especial. Logo, tinha mais tempo na avenida. Cada orixá tinha sua ala e, na sequência, era acompanhada pela oferenda. No desfile deste ano, ambos estavam juntos na mesma ala. A tonalidade das fantasias estava diretamente ligada às cores das entidades.

A Unidos da Ponte desfilou com 21 alas, 4 alegorias e 1.700 componentes e encerrou seu show dentro do tempo. Mestre-sala, porta-bandeiras e passistas usaram sapatos com solados antiderrapantes por conta da chuva.

Alegria da Zona Sul

Anny Santos, rainha da Alegria da Zona Sul — Foto: Marcos Serra Lima/G1
Anny Santos, rainha da Alegria da Zona Sul — Foto: Marcos Serra Lima/G1

A segunda escola exaltou a umbanda, religião de matriz africana, com o enredo “Saravá, Umbanda!”, do carnavalesco Marco Antônio Falleiros.

Homens da bateria homenageavam o sábio Preto Velho, e as mulheres estavam fantasiadas de cambones, que historicamente os acompanhavam. Os integrantes chegaram 4 horas antes no sambódromo para fazer a pintura corporal.

A comissão de frente trouxe os símbolos da umbanda e reproduziu o canzuá, local onde as entidades de luz orientam a todos para que os caminhos do bem sejam trilhados.

Já as baianas representaram a Preta Velha Maria Conga, guia espiritual que vem de Aruanda e trabalha nas giras do Preto Velho. Ciganas, entidades importantes da umbanda, tinham uma ala no desfile. Os componentes usaram suas próprias roupas.

O sétimo desfile da escola na Série A foi preparado em um terreno na Avenida Brasil sem estrutura nenhuma, pois a escola perdeu seu barracão. Membros da escola estavam bastante emocionados com a apresentação.

A Alegria da Zona Sul desfilou com 19 alas, três alegorias e 1.600 componentes e foi penalizada em um décimo por ter excedido em um minuto seu tempo de apresentação.

Acadêmicos da Rocinha

Comissão de frente da Acadêmicos da Rocinha — Foto: Rodrigo Gorosito / G1
Comissão de frente da Acadêmicos da Rocinha — Foto: Rodrigo Gorosito / G1

A terceira escola da noite chegou com o enredo “Bananas para o preconceito”, com o objetivo de combater o racismo e valorizar ações afirmativas para o cidadão negro. “Tire seu preconceito do caminho que eu quero desfilar com a minha cor”, são versos do samba.

A comissão de frente misturou a realidade com a ancestralidade primata para mostrar que as pessoas são iguais na raiz. 14 integrantes estavam bem coreografados, e a ideia foi bem desenvolvida na avenida.

Por falar na fruta, componentes de uma das alas desfilaram com bananas “de verdade”. O carnavalesco Júnior Pernambucano diz que o caso de preconceito contra o jogador Daniel Alves em 2014 foi inspirador para o enredo.

A ala das baianas, que normalmente tem fantasias luxuosas, apareceram com retalhos de carnavais passados e tom de protesto. Várias ofensas que representavam o que as mães solteiras enfrentam na favela estavam escritas na saia, assim como fotos de crianças mortas ou desaparecidas.

A escola é a que vem com menos componentes, 1.200, limite mínimo previsto pelo regulamento. Foram 4 alegorias e 22 alas.

Acadêmicos de Santa Cruz

Ruth de Souza emocionada durante desfile da Santa Cruz — Foto: Marcos Serra Lima/G1
Ruth de Souza emocionada durante desfile da Santa Cruz — Foto: Marcos Serra Lima/G1

A Acadêmicos de Santa Cruz homenageou Ruth de Souza, ícone das artes cênicas do Brasil. Aos 97 anos, a primeira atriz negra do Theatro Municipal, primeira protagonista negra de uma novela e primeira negra a conquistar o Kikito, mais importante prêmio do cinema nacional, desfilou em um carro alegórico.

Com o enredo “Ruth de Souza – Senhora liberdade, abre as asas sobre nós”, a Acadêmicos de Santa Cruz teve problemas em todos os carros para entrar na Sapucaí. A dificuldade acabou comprometendo a evolução da escola, que apresentou buracos entre as alas.

Isabel Fillardis saiu na comissão de frente que representava um episódio triste da vida de Ruth: o cortejo de canoas que acompanhou o corpo de seu pai. O carnavalesco Cahê Rodrigues disse que esse foi o momento em que ela mais se emocionou em todas as conversas.

As atrizes Lucélia Santos e Cris Viana saíram desfilando no chão.

A agremiação desfilou com 20 alas em quatro alegorias e 2.400 componentes, a maior escola da noite. Por conta dos atrasos com os carros, o desfile foi finalizado em 57 minutos, 2 a mais do que o tempo regular. A escola será punida com 1 décimo por minuto.

Unidos de Padre Miguel

Comissão de Frente de Padre Miguel na Série A do Carnaval 2019 — Foto: Rodrigo Gorosito
Comissão de Frente de Padre Miguel na Série A do Carnaval 2019 — Foto: Rodrigo Gorosito

A escola da Zona Oeste do Rio de Janeiro homenageou a vida e a obra de Dias Gomes, dramaturgo e autor de novelas, no enredo “Qualquer Semelhança Não é Mera Coincidência”.

Vinte anos depois da morte de Dias Gomes, a agremiação retomou temas como intolerância religiosa, sátira política, falsos heróis e ecologia presentes nas obras do autor. “O Bem Amado”, “Roque Santeiro” e “Saramandaia” são trabalhos que influenciaram e ajudaram a construir o desfile.

A escola de Padre Miguel conseguiu o vice-campeonato em 2015, 2016 e 2018 e esteve no Grupo Especial pela última vez em 1972. João Vitor Araújo é o carnavalesco.

Com 23 alas, quatro alegorias e 1.900 componentes, a agremiação foi penalizada em três décimos por terminar o desfile com 58 minutos, três a mais que o permitido. Quando faltava um minuto para o fim do tempo regular, o terceiro carro ainda estava passando pela dispersão.

Inocentes de Belford Roxo

Inocentes de Belford Roxo traz enredo sobre o cangaço nordestino — Foto: Rodrigo Gorosito/G1
Inocentes de Belford Roxo traz enredo sobre o cangaço — Foto: Rodrigo Gorosito/G1

Cangaço, Nordeste, Maria Bonita e Lampião são palavras-chave para entender o enredo “O frasco do bandoleiro (baseado num acuso com a boca na botija)”, apresentado pela Belford Roxo.

A escola foi a penúltima a se apresentar nesta sexta, já sem chuva. Os ritmistas da bateria estavam de bandoleiros, fiéis escudeiros do rei do Cangaço.

Marcus Ferreira conduziu como carnavalesco da escola pela primeira vez. Em 2017, ele conquistou com o Império Serrano o retorno ao grupo especial.

A comissão de frente focou na dança, e não em shows pirotécnicos, com o objetivo de mostrar os cangaceiros e seus frascos, onde guardavam suas fortunas. Ainda é possível fazer um paralelo com a corrupção atualmente.

O desfile da Belford Roxo teve 19 alas, quatro alegorias e 2.000 componentes e foi encerrado dentro do tempo regular.

Acadêmicos do Sossego

Dany Storino, rainha do Sossego — Foto: Marcos Serra Lima/G1
Dany Storino, rainha do Sossego — Foto: Marcos Serra Lima/G1

A escola de Niterói encerrou o primeiro dia da série A com o enredo “Não se meta com minha fé, acredito em quem quiser”. Várias divindades foram retratadas, como Jesús Malverde, do México, além de Javé, Alá e até um Budalorixá.

Partindo do pressuposto que nenhuma crença é melhor do que a outra, a agremiação seguiu firme no discurso contra a intolerância religiosa.

Ritmistas da bateria do Sossego estavam fantasiados de Jesús Malverde, cultuado no México por ter roubado de ricos para dar para os pobres, como Robin Hood.

Um dos carros alegóricos tinham 80 mil copinhos de café como parte da decoração. A comunidade se envolveu no trabalho manual para o desfile. Outra alegoria quebrou no meio da avenida e foi empurrada até a dispersão. O desfile teve 19 alas, 4 carros alegóricos e 1.800 componentes. Informações do G1