Agência Brasil

Ministros do Supremo Tribunal Federal ouvidos pelo blog não acreditam em eventuais punições jurídicas para o presidente Bolsonaro (sem partido) no inquérito que apura suposta interferência política dele na Polícia Federal e afirmam que, hoje, a tendência é o arquivamento. O inquérito foi aberto em 2020, após o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro deixar o governo Bolsonaro argumentando que o presidente queria fazer trocas no comando da Polícia Federal, subordinada ao Ministério da Justiça, para favorecer aliados e familiares. Bolsonaro resistiu por mais de um ano a depor, mas, na última quarta-feira (3), falou à Polícia Federal. No depoimento, o presidente negou interferência política na PF — e disse que Moro teria usado o comando da PF para negociar uma indicação ao Supremo Tribunal Federal. Moro nega essa versão e disse que não negocia “princípios por cargos”.

Na visão de integrantes do STF ouvidos pelo blog, a investigação tende ao arquivamento, mas eles avaliam que Bolsonaro usou o depoimento à PF como parte de uma estratégia política para “preparar o terreno” contra uma eventual candidatura de Moro à Presidência nas eleições de 2022. Nas palavras de um ministro da corte, o presidente quer desidratar o que sobrou da imagem de Moro como ex-juiz da Lava Jato, defensor da agenda anticorrupção — e “carimbar” sua candidatura como a de um político comum, que negocia cargos. A preocupação do governo é a de que eleitores que apoiam a agenda anticorrupção e votaram em Bolsonaro em 2018 migrem para Moro se ele sair candidato — principalmente entre apoiadores da Operação Lava Jato, comandada por Moro antes de ele abandonar a magistratura para integrar o governo Bolsonaro.

Entre interlocutores de Moro, o depoimento de Bolsonaro foi uma surpresa. Aliados do ex-juiz não aguardam um desfecho com punição a Bolsonaro; no entanto, argumentam que o conteúdo da reunião ministerial é “claro” e que o presidente queria não só interferir na Política Federal para blindar familiares e amigos de investigação, como também para “perseguir” adversários políticos do bolsonarismo. Dentro da Polícia Federal, as trocas recentes de cargos de comando têm rachado grupos da corporação que temem a perda de autonomia e interferência do governo em investigações. Por Andréia Sadi/G1