O reforço dado à candidatura do deputado estadual Robinson Almeida à Prefeitura de Salvador pela Conferência Municipal do PT, no último sábado, acabou embolando de vez o cenário no campo do governo em relação às definições para a sucessão municipal em Salvador. O quadro era previsível e foi retratado na coluna anterior, que nunca descartou – é bom que se diga – a preferência da cúpula petista pelo nome do vice-governador do Estado, Geraldo Jr. (MDB), para candidato do grupo. Mas os desafios para a consolidação de Robinson, ainda que com as novas credencias lhe atribuídas por um partido unido, como opção de unidade para o campo governista, aumentaram.
Na verdade, há dois cenários estimados sobre o futuro do deputado petista na disputa. No primeiro, essencialmente positivo para ele, de posse da ‘delegação’ petista como candidato, o parlamentar lançaria uma ofensiva para agregar o maior número possível de partidos que integram a base do governo à sua campanha, negociando com eles, por meio de muita conversa e uma simpatia que lhe falta, a vaga de vice em sua chapa. No segundo, mais realista, entregaria ao senador Jaques Wagner e ao governador Jerônimo Rodrigues a tarefa de viabilizá-lo, o que elevaria as negociações à cara dimensão de interesse de Estado, onde o céu é o limite para a barganha dos aliados.
Aparentemente seguro, seria este, sem dúvida nenhuma, o quadro menos previsível. Sabendo-se da falta de interesse de Wagner e, consequentemente de Jerônimo, em que o PT encabece a chapa, além da preferência de ambos pelo nome de Geraldo Jr., qual a garantia de Robinson de que os dois vão ajudá-lo em seu projeto de se constituir como polo da disputa na oposição? As bases petistas batem pé firme de que a ida de Wagner à Conferência de sábado, em que as nove correntes petistas ratificaram o nome de Robinson na frente do senador, responde à pergunta. Depois de comparecer e também defendê-lo, Wagner não teria condições políticas de recuar, abandoná-lo ou pedir que não concorra.
O recuo se revelaria, na visão deles, como uma verdadeira desmoralização para o senador, Robinson e o PT. Mas é exatamente isso que os defensores do nome de Geraldo Jr. aguardam acontecer. Afinal, questionam: o que o governo, sob a intermediação de Wagner, se disporia a oferecer a partidos como o PCdoB e o PV, para ficar na federação liderada pelo PT, e ainda ao PP, ao PSD, ao Avante e ao PSB, que integram o grupo dos mais vistosos, a fim de convencê-los de que Robinson deve ser apoiado em detrimento do nome de Geraldo Jr., cuja articulação seria feita pelo MDB de Lúcio e Geddel Vieira Lima e sem envolver os recursos, em sentido lato, governistas?
É, de fato, uma resposta que só o tempo dará, a qual, no entanto, a depender de quanto demore, pode implicar na inanição de Robinson. Mesmo porque não é difícil detectar resistências a ele entre aliados, para os quais seu interesse maior é usar a campanha para ganhar visibilidade e musculatura para concorrer a deputado federal em 2026. É também este o propósito de Geraldo Jr., tal qual o petista, antecipadamente descrente nas chances de vitória contra o prefeito Bruno Reis (União Brasil) no ano que vem. Mas se Wagner e Jerônimo, no fundo, e o MDB, naturalmente, preferem o emedebista, é esperado que em algum momento, que pode não demorar, Geraldo Jr. prevaleça sobre o petista. Artigo do editor Raul Monteiro/Política Livre