Foto: Marcos Corrêa/PR

Considerado um dos avalistas do governo de Jair Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, entrou na onda pouco democrática que permeia o bolsonarismo. Em entrevista coletiva, sugeriu a possibilidade de um novo AI-5 como um desejo da população para evitar uma convulsão social no Brasil semelhante ao que acontece no Chile e na Bolívia. Depois da repercussão negativa, como em tantas oportunidades, Guedes usou o já clássico “não era bem isso que eu queria dizer”.

Arroubos antidemocráticos têm sido excessivamente comuns em figuras ligadas ao governo federal. Se durante o processo eleitoral de 2018 já se temia essa abjeção às instituições em Bolsonaro, os primeiros meses da administração dele confirmam que nomes de grande expressão e com ascendência sobre o presidente não têm qualquer relação próxima com a democracia. Tem sido assim com Olavo de Carvalho, com Carlos e Eduardo Bolsonaro, com Abraham Weintraub e agora com Paulo Guedes. Os sucessivos flertes com posições ditatoriais deixam qualquer democrata de cabelo em pé.

Não que esperássemos muita afeição à democracia em um governo cujo líder exalta a ditadura militar como se tivesse sido uma revolução. Fazer releituras históricas para tentar melhorar a imagem de algo nefasto é uma característica bem comum a tentativas de subverter a lógica de regimes de governo. Foi assim no início da década de 1960, quando a ameaça comunista “justificou” a chegada dos militares ao poder. Algo que durou quase ¼ de século, mas que no campo das ideias seria temporário. Revisionismo é um dos passos para ameaçar as liberdades.

Mesmo que, em discursos, Lula tenha conclamado a população ir às ruas, essa mobilização dificilmente deve acontecer em um curto espaço de tempo. O petismo ainda segue em baixa e, por mais que o governo Bolsonaro tenha muita retórica, até o momento a maior parte dos embates têm permanecido no campo da ideologia. Ainda não houve nenhum tipo de intimidação mais concreta ao ambiente democrático. O receio é que o discurso deixe o campo teórico e se torne palpável. E, com excesso de defensores da democracia sob coação, impossível não ficar preocupado com a eventual naturalização desse discurso.

Guedes pode até funcionar para o campo econômico, mas para a área política é uma crônica de um desastre anunciado. Desde as declarações dele sobre a reforma da Previdência até a fatídica defesa de um possível AI-5, o superministro da Economia não acerta. Se é para ser diferente da velha política, que pelo menos a inspiração seja no futuro e não nesse passado que o Brasil gostaria de esquecer. Porque os satélites em volta de Bolsonaro se comportam como se vivêssemos na década de 1960 ou ainda mais para trás. E, por mais que alguns defendam, não há a mínima condição de voltar a ver o país sob uma ditadura. Independente do que aconteça. Por Fernando Duarte/Bahia Notícias