Um grupo de pesquisadores baianos está desenvolvendo um estudo sobre como o coronavírus afeta os órgãos de pacientes. Com o objetivo de compreender como o vírus afeta o organismo, reconhecer de forma precoce o caminho da evolução da doença em cada infectado, além de métodos para o tratamento, o grupo, que pertence ao Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia), realizará coletas em pessoas que morreram em decorrência da Covid-19.

Coordenador da pesquisa, o médico Washington dos Santos afirma que a equipe coletará pequenas amostras de órgãos como fígado, coração, baço, rim e pele, além do músculo esquelético. O material será submetido a alguns procedimentos, como a microscopia eletrônica, para avaliar como o vírus age.

“A gente vai fazer uma coleta do local onde está acontecendo a lesão pelo vírus. Isso implica em uma necropsia minimamente invasiva. É como se fizesse pequenas biópsias, o que garante a segurança da equipe, a segurança ambiental, você tem uma série de garantias. Para se fazer uma necropsia convencional, como se faz em hospitais-escolas, se precisaria de uma sala com muitos requerimentos de segurança”, contou o pesquisador. Um microscópio eletrônico será utilizado para avaliar as amostras. Como resultado, será gerada uma imagem que possibilitará aos pesquisadores identificar a composição da célula, assim como partículas virais.

“Essa autópsia vem sendo testada no mundo todo. Faremos aqui para esses casos. A gente precisa saber de duas coisas: primeiro como é exatamente a lesão – vamos estudar isso por microscopia ótica, que é a convencional, e por microscopia eletrônica, que a gente deixa o tecido preservado, depois inclui ele em uma resina e corta secções com alguns nanômetros. Isso é atravessado por um feixe de elétrons. Se tiver alguma parte vazia, o feixe atravessa. Se tiver alguma parte com outro átomo, ele vai se chocar e gerar uma imagem com diferentes graus de cinza. Aí a gente pode ver o tecido e outras coisas. Podemos aumentar, ter nível de resolução muito grande, e ver inclusive a partícula viral”, explicou.

Outro método que os pesquisadores utilizarão para entender melhor o coronavírus será a análise da expressão genica. “Nesse processo, a gente usa substâncias que inativa todas as proteínas do tecido, e separa o material dos genes que têm nesse tecido do resto do material. Ficamos com uma amostra apenas de material genético. Isso pode ser obtido para saber o que o organismo está produzindo para combater a infecção. Estamos interessados nisso, em saber o que nossas células estão produzindo para confrontar a infecção nos locais onde está sendo mais danosa”, contou o pesquisador.

“Em resumo, a gente vai ter como se fosse uma rede, dizendo com o que cada molécula reage. Assim, uma pessoa chegará no hospital, a gente avaliará a presença dessas moléculas e prever o que vai acontecer com aquele paciente, tomar medidas para ajudá-lo, definir métodos de tratamento, como cada um vai evoluir. Outra coisa que podemos fazer é, como conhecemos a redes, definir como podemos ajudar nosso organismo a responder ao vírus. A estratégia de tratamento, como atuar. Poderíamos traçar uma estratégia de tratamento mais eficiente. Isso serve para o coronavírus e outras doenças por vírus, outras epidemias”, completou.

O grupo tem como planos criar subsídios para redirecionar tratamentos e monitorar a toxicidade por drogas ou sobre lesões ainda desconhecidas da Covid-19. “Durante a pandemia, criaremos na página do IGM-Fiocruz um observatório para informar, em tempo real, aos profissionais que atuam no tratamento e pesquisa sobre a covid-19, a respeito de alterações encontradas na análise dos órgãos dos pacientes”, comentou Washington dos Santos.

Na Bahia, o médico coordenará uma equipe de aproximadamente 20 pessoas. O estudo também contará com especialistas que estão nos estados de São Paulo e Minas Gerais. “É uma equipe ampla, multidisciplinar. Tem patologistas, infectologistas, radiologistas, colaboradores de outros estados. Já conseguimos alguns financiamentos. Da Fapesb, do Programa Inova da Fiocruz, recursos do sistema de referência da Fiocruz. Isso dará para começar. Estamos efetuando algumas compras de materiais e equipamentos de proteção, aparelhos de ultrassom”, finalizou o pesquisador. G1