Imagem: Ricardo Albertine/Câmara dos Deputados

Aqui e ali, petistas passaram a alimentar a expectativa de que a grande polarização na Bahia em 2022 não se dará com o ex-prefeito ACM Neto, presidente nacional do DEM, mas com o ministro da Cidadania, João Roma. A simulação conta com o aval informal do ex-governador e senador Jaques Wagner, principal interessado, por motivos óbvios, em que a disputa ganhe, mais do que um contorno antes inesperado, um novo titular. Como se sabe, o senador pretende concorrer pela terceira vez ao governo do Estado e sabe que, eventualmente, enfrentar Roma deve ser muito mais fácil do que Neto.

No presente momento, os números não favorecem o senador. A primeira pesquisa sobre a sucessão baiana realizada e divulgada em março mostrou que o democrata é franco favorito a suceder o governador Rui Costa (PT). Nela, o então recém-empossado ministro não chegou sequer a figurar. Mas, paciente como um monge oriental, Wagner acha que pode aguardar o momento fazer a hora enquanto se envolve em articulações com partidos que hoje fazem parte da base de Neto, como o MDB e o PSL. Recentes atritos entre o ex-prefeito e players nacionais importantes do DEM e do MDB também o animam.

Mas é a possibilidade de o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) jogar suas fichas no ministro na Bahia para a disputa de 2022, uma situação que definitivamente o petista não controla, que se apresenta, neste momento, como principal conteúdo das conversas que o senador tem com aliados e correligionários sobre os planos de voltar ao governo do Estado. Num prenúncio de explicação para o fato de não ter defendido a CPI da Covid-19 no Senado, na contramão do comportamento do resto da bancada petista, Wagner não se dispõe a apostar uma bagana de cigarro na ideia de que as investigações levem o presidente a cair.

Pelo contrário, acha que ele seguirá como um jogador importante para a eleição presidencial, precisando, para isso, da montagem de palanques quando nada estruturados, principalmente, em estados nordestinos, onde programas sociais como os pilotados por Roma por meio do Ministério da Cidadania terão papel fundamental. Daí porque acompanha de longe os passos do ex-aliado do ex-prefeito de Salvador e acredita que, se souber administrar bem a vida no ministério na relação com a Bahia por meio principalmente dos prefeitos, o ministro poderá se sair melhor do que muitos imaginam.

Neste particular, o senador concorda com uma parcela dos aliados de Neto que o desaconselharam a romper com Roma por causa de sua inesperada composição com Bolsonaro. Ainda que o hipotético cenário em que o ministro substituiria Neto num quadro de polarização com Wagner pareça hoje excessivamente imaginoso para ser levado a sério, nada impede que, distanciando-se definitivamente do ex-prefeito, o atual ministro seja incentivado por Bolsonaro a entrar na briga pelo governo, constituindo-se num terceiro pólo político no Estado que dividiria forças com o ex-aliado. Basta isso para contentar Wagner. Política Livre