O ex-presidente da Petrobrás e professor da UFBA Sergio Gabrielli, que ocupou o cargo de 2005 a 2012, criticou, em entrevista à TV 247, o desmonte da companhia observado durante os governos pós-golpe de 2016. Para ele, os problemas vão muito além da política de preços atual, estando relacionados à venda dos principais ativos estratégicos da companhia. A privatização dos setores de gás e de distribuição, aliada à diminuição da capacidade de refino, inviabilizam qualquer política de preços, advertiu Gabrielli.

“O governo está colhendo o que plantou. Na medida em que o governo impediu a expansão da capacidade de refino no Brasil, em que o governo estimulou a criação de novos importadores de derivados e abriu crescentemente o Brasil à importação de derivados, na medida em que a Petrobrás privatizou a BR distribuidora, em que privatizou a Liquigás e em que a Petrobrás reduziu as cargas processadas nas suas refinarias e está num processo de desmonte de seu parque de refino, o país começou a ficar dependente do preço internacional do petróleo”, disse.

As pressões negativas sobre a Petrobrás também vêm de fora. O ciclo de aumento nos preços do petróleo e gás deve durar pelo menos mais dois anos, alertou o ex-presidente da Petrobrás. “Se você não analisa esse conjunto de políticas tomadas pelo governo Temer e pelo governo Bolsonaro, você não vai entender se focar apenas na política de preços. A política de preços é uma consequência desse tipo de situação”, afirmou. De acordo com Gabrielli, caso o desmonte continue, a Petrobrás se tornará no futuro próximo uma mera exportadora de petróleo, ao contrário de suas principais concorrentes, que seguem o caminho da integração das operações.

“A Petrobrás está passando por um processo de esquartejamento. Ela está se reduzindo a uma empresa produtora de petróleo do pré-sal e exportadora do petróleo cru. Essa é a tendência da Petrobrás no momento. Ela vai sair cada vez mais do refino, já saiu da distribuição, e se tornar uma empresa exportadora de petróleo cru. Isso significa que ela está na contramão do que as grandes empresas de petróleo, privadas e públicas, fazem no mundo. A maior parte das grandes empresas do mundo são empresas integradas, que produzem, refinam e distribuem o petróleo e derivadas”, completou.