Pode parecer incrível, mas amigos garantem ter ouvido de ACM Neto, candidato do DEM ao governo da Bahia, que, na hipótese de um segundo turno entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT), ele não hesitará em apoiar o petista. Para isso, Neto não espera formalizar nenhum pacto com Lula e muito menos contar em que ele adote uma posição de neutralidade em relação à campanha baiana, onde o senador Jaques Wagner (PT) aposta todas as fichas no apoio do correligionário e amigo pessoal para conquistar de novo o governo baiano. A única condição é que Lula dispute a eleição de presidente e não a de governador da Bahia.

Em outras palavras, para defender a eleição do petista num eventual segundo turno como melhor para o país do que a continuidade de Bolsonaro, Neto só espera que ele não o ataque na campanha. Como é largamente sabido, o ex-prefeito acha, como qualquer político de bom senso, Bolsonaro, com sua cruzada contra a racionalidade, indefensável. Além disso, está atentíssimo ao Lula-Neto, movimento pelo qual o eleitor baiano, segundo as pesquisas, aceita a condição da disputa casada, mas se atribui o direito de montar sua própria chapa, marcando Lula para a Presidência e o democrata para o governo.

Como não precisa lutar contra o fenômeno, podendo, pelo contrário, se beneficiar imensamente dele, Neto vai buscar tratá-lo com naturalidade, liberando que votem no petista prefeitos, deputados e todas as lideranças aliadas que desejem trabalhar por Lula. Operadores políticos do democrata estimam que o ex-presidente pode bater a casa dos 80% dos votos dos baianos caso adote a estratégia, que consideram a mais inteligente e, naturalmente, menos onerosa, de aceder ao “Lula-Neto”. A exigência parece favorável ao candidato do DEM porque tanto Lula quanto a equipe que o assessora sabem que vencer Bolsonaro não será fácil.

Neste cenário, priorizar basicamente sua eleição e não a de parceiros tradicionais nos Estados, agregando o maior número possível de apoios, seria de fato o mais sensato para o líder petista. Em tal contexto, não espanta que setores da cúpula do PT nacional emitam sinais de simpatia ou mesmo de desejo de aproximação informal não apenas na direção da Bahia como de outros Estados em que adversários não hostis ao ex-presidente aparecem mais bem colocados nas pesquisas do que os aliados, caso em que se encaixa Neto. O plano do democrata de não se abraçar exclusivamente com nenhum candidato presidencial também o favorece.

Até um texto pronto para eventuais ataques da campanha de Wagner questionando a eventual dificuldade de governar sob um governo nacional lulista já está pronto. Afinal, se foi capaz de ganhar o título de melhor prefeito de capital governando Salvador, que pegou destroçada, sob a gestão de Dilma Rousseff (PT), uma presidente que não passou de um acidente político, não será com Lula que o democrata enfrentará problemas. Portanto, nacionalizar a campanha de sua parte nem pensar. Ainda está muito viva em sua memória a eleição de 2006, que o DEM perdeu depois que o avô a transformou num confronto entre Lula e o democrata Paulo Souto. Política Livre