O pai da jovem Jamile Sanches Araújo Miranda, de 18 anos, que morreu após ser baleada dentro de um carro com a família, no bairro de São Cristóvão, em Salvador, falou sobre os sonhos e perspectivas dela, na quinta-feira (28). O corpo da garota foi enterrado na capital baiana. Identificado apenas pelo prenome Ricardo, o homem contou que a filha tinha se reencontrado com uma amiga após mais de um ano sem saírem juntas. Elas tinham ido ao cinema e Ricardo foi levar e buscar Jamile.

“É muito difícil essa situação. A gente vê todos os dias notícias, mas a gente não imagina que vá acontecer com a gente. Ela foi ao cinema no Salvador Norte Shopping com uma coleguinha, assistir um filme. Ela estava muito feliz, porque essa colega ela já não via há tempos, elas se viram antes da pandemia, e estavam muito querendo se ver. Aí nós realizamos esse desejo para ela”, contou ele.

“Deixamos ela por volta das 16h no shopping e fomos buscar por volta das 20h, quando terminou o filme. E a coleguinha dela é uma jovem também, tem uns 16 anos, então não seria legal a gente deixar ela pelo caminho. A gente fez questão de deixar ela na porta de casa, como a gente já fez outras vezes. Elas se conheciam há mais de cinco anos”, detalhou. Ao chegar na rua da amiga de Jamile, a jovem aconselhou Ricardo a tomar precauções, para evitar que o carro fosse interceptado por bandidos.

“Ela disse: ‘tio, acenda a luz interna e abaixe o farol’. Eu disse: ‘tia, tá precisando mesmo disso por aqui?’. Ela falou: ‘não, aqui está mais tranquilo, mas é bom para poder ter cuidado’. E nós seguimos. A rua estava bastante tranquila, tinha moradores na rua, tudo muito tranquilo. E nós seguimos. Lá no final só tinha uma volta à esquerda e seguimos, porque a rua dela é a rua interna, a rua de dentro. Rodamos por volta de 200 metros e ela me avisou onde morava”.

Depois de deixar a amiga da filha em casa, a família então seguiu para sair do bairro. Neste momento, eles encontraram dois jovens, supostamente adolescentes, armados. Foi aí que Ricardo começou a ficar com medo.

“Depois que eu deixei ela, nós vimos dois meliantes apontando a arma para a gente, e mandando a gente voltar de ré. Talvez, se eles atirassem de lá, nem pegasse, porque estava longe. Aí eu voltei de ré e, por estar voltando de ré, eu não percebi que estava voltando mais duas pessoas, mas minha esposa percebeu que viram mais dois. Saíram não sei de onde”. Enquanto dava a ré, o pai de Jamile acreditava que os suspeitos não iam atirar contra a família, já que eles estavam saindo do bairro.

“Eu estava dando a ré muito rápido e não percebi. [No total] Foram quatro homens armados e minha esposa disse que acha que foram adolescentes. Fizemos a manobra no final da rua e acreditamos que eles não fossem mais importunar a gente, por nós termos passado um pouco antes e termos passado com sucesso. A gente seguiu. Ao chegar em um certo ponto, eu não vi mais ninguém. Só que eu já estava imprimindo uma velocidade, porque eu estava com muito medo e precisava sair dali. Foi na hora que o meliante saiu e eu não percebi. Ele deu dois tiros”.

“Eu estava nervoso e não vi direito. Nunca imaginei que isso fosse aconteceu, nem imaginei que ele fosse atirar em direção ao carro. Esse tiro pegou o vidro do carro, pegou o encosto de cabeça e atingiu a cabeça da minha filha”. O casal passou pela 49º Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM) e pediu ajuda aos policiais militares, que ajudaram no socorro de Jamile.

“Nós levamos ela rapidamente para o [Hospital Geral] Menandro de Faria, fomos até a 49º e pedimos auxílio aos policiais que nos conduziram a toda velocidade. Ela chegou viva no Menandro, houve a regulação para o HGE, e por volta de 2h ela veio a falecer”, disse Ricardo emocionado.

A gente vê todos os dias assaltos a ônibus, essas mortes, namorados matando jovens, adolescentes, e eu ficava muito preocupado. Nesses 18 anos, eu tentei fazer o máximo possível para não deixar ela em ônibus, andar sozinha, de metrô, essas coisas. Ela, por ter feito 18 anos, estava muito radiante. Ela queria aproveitar isso, porque ela nunca pôde”. G1