Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula

Tudo envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece contraditório por natureza. Na quarta-feira (7), a Justiça do Paraná determinou a transferência do petista para São Paulo, onde poderia dividir a cela com outro preso – e, numa penitenciária como Tremembé, poderia até incluir nomes famosos. Porém, ao mesmo tempo em que estar perto da família era um direito até então negado ao ex-presidente, os aliados de Lula pediram que a transferência fosse cancelada, por falta de condições para abrigá-lo em segurança. Após uma sessão rápida, o Supremo Tribunal Federal (STF) acatou o pedido e ele deve permanecer em Curitiba por mais algum tempo.

Não é novidade que o petista desperta amores e ódios. Porém a cada novo episódio envolvendo a prisão dele fico impressionado como as pessoas conseguem enxergar apenas o que lhes convêm, seja para inocentá-lo, seja para condená-lo. Ter um ex-presidente sob cárcere não é algo comum nas democracias. É pouco usual e, portanto, natural que tudo envolvendo Lula apareça com certo ineditismo. Ele não é um preso comum e insistir nessa tese é uma falha grave de quem o trata como um mero pária da nação.

Como ex-presidente, o petista teria direito a uma Sala de Estado Maior para cumprir a pena. Não acontece em Curitiba, onde ele está preso na superintendência da Polícia Federal desde abril de 2018. Não deve acontecer em Tremembé, visto que nem mesmo a juíza que determinou a transferência pediu esse espaço. No entanto, se é um direito ele não permanecer junto a presos comuns, alocá-lo em cela coletiva é, no mínimo, um desrespeito à própria legislação. Infelizmente, é notório que o antipetismo é tão forte que, no submundo das redes sociais, essa possibilidade de Lula dividir cela com qualquer outra figura do sistema carcerário foi registrada como uma celebração. Não dá para agir assim.

Parte desse ambiente de “comemoração” vem sendo construído ao longo dos anos e, aos poucos, vai ganhando contornos cada vez mais desumanos. Tanto que é possível até ver brasileiros ansiando para que o ex-presidente venha a ser vítima de um atentado na cadeia, algo que, infelizmente, tem acontecido com frequência nos complexos penais nos diversos rincões do país. Tais comentários, inclusive, geraram a reação de aliados de Lula, que temem pela vida do petista, em caso do mesmo ser tratado como um preso comum.

A súbita transferência de Lula para Tremembé está sendo questionada judicialmente pela defesa do ex-presidente. Como a família dele mora na região da Grande São Paulo, esse direito de estar perto dos parentes já vinha sendo negado desde a prisão dele. Agora, aparentemente sem estar dentro do radar, a Justiça determinou a transferência. Em um processo eivado de questionamentos, esse é apenas mais um para o rol de dúvidas levantadas por aqueles que veem problemas nele.

Até que a ida para São Paulo seja confirmada – ou negada em definitivo -, muita tensão circulará o noticiário em torno da decisão. Já que essa novela não parece estar perto do fim, é sempre importante fazer uma reflexão. Lula está longe de ser o anjo de candura pintada por aliados, mas também não é o demônio desenhado pelo antipetismo. Esses extremos são, portanto, algo difícil de lidar. Talvez por isso minha gastrite tenha ficado atacada ultimamente. Fernando Duarte/Bahia Notícias