Uma equipe da Fundação Nacional do Índio (Funai) fez contato com índios isolados da etnia Korubo na terra do Vale do Jari, no extremo oeste do Amazonas. A expedição foi realizada pela preocupação com o risco de conflitos entre esse povo e os Matís, que também ocupam a região, às margens do Rio Coari.

Os dois povos protagonizaram um conflito na região em 2014, com mortes nos dois lados. Desde então, representantes Matís solicitam à Funai providências para o estabelecimento do contato. A tensão permaneceu e aumentou recentemente com uma reaproximação dos Korubo isolado da área ocupada pelos Matís e com a possibilidade de uma ação promovida por estes.

“Os Korubo se distanciaram, queimaram suas malocas. Mas voltaram a aparecer, visitando as roças Matís e pegando alimentos e ferramentas. Ano passado quase teve um contato dos Matís”, disse o coordenador de Índios Isolados e e Recém Contatados da Funai, Bruno da Cunha Arújo.

Expedição
A realização de uma expedição começou a ser discutida anos atrás. Com o receio do aumento dos risos de novos conflitos, a Funai decidiu realizá-la. A equipe começou as buscas pelos índios no início de março. Alguns Korubo já contatados auxiliaram, bem como indígenas de outras etnias. Segundo a Funai, os Korubo integraram o grupo motivados pelo desejo de encontrar parentes e amigos.

No último dia 19, foram encontrados alguns Korubo isolados. Outros representantes da etnia apareceram ao longo dos dias seguintes, totalizando 34 índios. Segundo Bruno da Cunha Araújo, coordenador-geral de Índios Isolados e Recém Contatados da Funai, o diálogo foi estabelecido entre os encontrados e os indígenas integrantes da expedição.

Uma equipe de 28 pessoas continua no local para monitorar o caso, dar apoio no atendimento à saúde , como vacinação, e buscar uma interlocução para resolver o conflito com os Matís. Além dos integrantes da expedição, há também uma unidade da Funai na região, denominada Frente de Proteção Ambiental do Vale do Javari.

Segundo o coordenador da Funai, eles pediram aos Korubo isolados que se distanciassem, o que teria tido uma resposta preliminar positiva. Mas o grande desafio, de acordo com o representante da instituição, é encontrar formas para que a etnia e os Matís possam conviver e ocupar a área sem riscos de conflitos.

Interlocução
“Estamos estabelecendo interlocução. Eles falam que vão descer o rio cerca de 10 quilômetros, 15 quilômetros. Mas o que resolve é o diálogo, e não é a distância em si. O nosso papel é tentar facilitar esse diálogo”, explica Bruno da Cunha Araújo. Segundo ele, este processo pode durar meses, ou até mais de um ano.

No domingo (07), o grupo será substituído por uma outra equipe, que já está na região se preparando para assumir a expedição. Eles permanecerão lá por 40 dias. Ao longo desse período, manterão o monitoramento e os esforços de interlocução com as duas etnias, bem como o atendimento de saúde.

Araújo destacou que um ponto importante para que esse trabalho continue sendo feito é garantir estrutura para a unidade da Funai no local. São necessários recursos para viabilizar custos como combustível para o deslocamento dos técnicos, comida para dar suporte às equipes e verba para contratar indígenas experientes.