Para quem imaginava que ACM Neto (DEM) teria dificuldades de encontrar candidatos presidenciais para acolher em seu palanque ao governo da Bahia, as perspectivas que se abrem, à medida que o processo avança em relação à sucessão de 2022, são animadoras. Se já contava com a possibilidade de deixar que subam nele Ciro Gomes (PDT), Eduardo Leite, se ganhar as prévias do PSDB, e Henrique Mandetta, também do Democratas, Neto ganha agora a possibilidade muito concreta de apoio do ex-ministro Sérgio Moro, do Podemos, cujo interesse na aliança com o secretário-geral do União Brasil já é conhecido de todos.

Todos os quatro são nomes que estão fora do jogo macabro da polarização representado, por um lado, pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e, de outro, pelo ex-presidente Lula, presidenciável do PT. Por outro lado, não é difícil imaginar que deverá emergir dentre eles, a depender de como o processo se dará e, obviamente, da vontade do eleitor, a chamada terceira via ou um nome melhor que queiram dar a uma alternativa eleitoral viável para votar à Presidência da República no ano que vem. Moro é, até o momento, a grande novidade. E o horror que espalha na classe política, uma prova do quanto é importante.

Os números com que começou a despontar, a partir da filiação partidária, já fragilizaram a candidatura de Ciro, sobre a qual circulam especulações de que poderá ser retirada se o ex-ministro continuar crescendo sobre as intenções de voto do pedetista. Neto, por outro lado, não tem motivos para desconfiar do crescimento do ex-juiz responsável pela maior operação – naturalmente, com seus erros e acertos previsíveis – contra a corrupção já realizada no país, a qual, lamentavelmente, Bolsonaro se encarregou de enterrar, para satisfação plena de corruptos variados de todos os quadrantes da Nação.

Dessa forma, o democrata se livra de vez de qualquer aproximação com o atual presidente na campanha, cujas pesquisas apontam com um disparado índice de rejeição no Estado incapaz, na opinião da maioria, de ser revertido mesmo com o pagamento do eleitoreiro fura-teto Auxílio Brasil. Se, do ponto de vista das alianças nacionais para o palanque, Neto, com a flexibilidade de poder abri-lo para aqueles com que simpatizar e puderem ajudá-lo, não parece ter motivos para se preocupar, ele não pode desconsiderar a surpresa que partidos antes fiéis ao seu projeto político podem representar.

Apesar de jurar que ainda não definiu quem apoiar ao governo da Bahia em 2022, o MDB já começa a entabular conversas com o governador Rui Costa (PT) e o senador Jaques Wagner, virtual candidato do PT a governador. As outras duas legendas que podem lhe pregar uma peça são o PRP, no qual, anos atrás, filiou pessoalmente o então amigo João Roma, hoje ministro da Cidadania que sonha em, para satisfazer Bolsonaro, puxar-lhe o tapete e atrapalhar seu projeto de se eleger ao governo, e o PL, em que o presidente já agendou a filiação e não se sabe se, na Bahia, conseguirá se manter do lado do democrata. Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.