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Guilherme Reis, Rodrigo Daniel Silva e Paulo Roberto Sampaio

O deputado federal Daniel Almeida (PCdoB) disse que o pré-candidato a governador da Bahia, ACM Neto (União Brasil), tem tentado se aproximar do ex-presidente Lula (PT) para se dissociar da rejeição do presidente Jair Bolsonaro (PL) no estado.

“ACM Neto tem responsabilidade pela eleição de Bolsonaro. O partido dele participou e participa do governo Bolsonaro. A bancada do União Brasil apoia quase todas as medidas que Bolsonaro encaminha para o Congresso Nacional. O partido que elegeu o Bolsonaro (o PSL) é a maior parte do União Brasil, que é o partido de ACM Neto hoje. Como ele pretende se desvencilhar desse projeto? Ele está absolutamente identificado com esse projeto. Como ele sabe que os eleitores da Bahia rejeitam o Bolsonaro, fica tentando dissimular, fazer malabarismo para descolar a posição dele, do Bolsonaro, e tentar alguma identidade com o Lula. Não vai colar”, disse o comunista, em entrevista à Tribuna.

Daniel Almeida declarou ainda que acredita virada de Jerônimo Rodrigues (PT), que está em segundo lugar, na disputa pelo governo da Bahia.

“A vinculação com o presidente Lula e um projeto político renovador, transformador da Bahia. Isso está mais forte hoje. Lula é mais forte hoje do que era em 2014. O grupo político que defende a candidatura de Jerônimo é mais forte do que o grupo político anterior. Então, eu tenho convicção que essa candidatura crescerá e vai vencer a eleição. Espero que seja possível ainda o primeiro turno”.

Tribuna – O que pensa sobre a PEC dos benefícios sociais? Também chamada de PEC Kamikaze?  

Daniel Almeida – Eu concordo com o mérito social. Atender a demanda de pessoas pobres que precisam ter acesso a esses benefícios. Defendi inclusive que esses benefícios fossem de R$ 600 por um tempo indefinido, e não só até dezembro. Mas discordo da oportunidade de fazer, e do discurso que é feito para justificar a adoção dessa medida.

Tribuna – Se essa proposta for aprovada, o senhor acredita que será sustentável a longo prazo? 

Daniel Almeida – O que eu acho que tem que ser feito é uma política de enfrentamento à fome, à exclusão social. A renda emergencial cumpriu o papel da pandemia. A pobreza com a política de Bolsonaro só aumentou, e é preciso ter políticas de proteção, de pessoas em caráter permanente esse ano e o ano que vem. Esses problemas que não vão ser superado rapidamente. Fazer esta política a três meses da eleição, menos de três meses da eleição, fica como se fosse uma atitude oportunista eleitoreira. O tempo é limitado. (O benefício) acabaria no final de dezembro. Isso tem o objetivo de interferir no resultado eleitoral. Tem potencial de interferir no processo eleitoral. Isso é vedado expressamente pela legislação.

Tribuna – O presidente Bolsonaro já disse, em alguns momentos, que a inflação do Brasil é culpa das medidas restritivas dos governadores na pandemia. Essa tese tem algum fundamento?  

Daniel Almeida – Nenhum fundamento. A pandemia provocou um impacto global, mas vários países do mundo têm a inflação menor do que a do Brasil. Em vários países do mundo, a economia se recuperou mais rapidamente. Vários países do mundo conseguiram deter o empobrecimento. O Brasil não fez isso porque não tem nenhuma política pública feita pelo governo federal. Nem para proteger empregos nem para garantias de direitos sociais, não tem nenhuma política de contenção de preços. Os preços foram elevados em função da falta de ação do governo, de políticas públicas especialmente na área de combustíveis. Não teve nenhuma modificação nos estados, nem de tributos, nem de outras ações dos estados que justificasse já está vendo no Brasil. O problema é falta de ação do governo Bolsonaro.

Tribuna – Os governadores reagiram ao projeto de limitação do ICMS. Qual a sua avaliação sobre esse projeto?  

Daniel Almeida – Olha, o governo Bolsonaro sempre faz de conta que não é com ele. Tenta jogar sempre a culpa nos outros. Os preços, os combustíveis se elevaram por conta da política pela Petrobras, com a orientação do governo de fazer a chamada paridade de preço de importação. Nós produzimos petróleo, refinamos o petróleo e transformamos em derivados aqui no Brasil, e pagamos o preço de importação em dólar. Essa é a – vamos dizer assim – o fator que define o preço dos combustíveis. O ICMS em cada estado não se alterou nesses últimos anos, se manteve instável. E há quatro anos o preço da gasolina era a metade do que é hoje. Então, o que que mudou de lá para cá? Foi a política de preço da Petrobras. Então, essa responsabilidade não pode ser dos governadores. Retirar dinheiro do ICMS é retirar dinheiro da saúde, da educação, da segurança pública porque parte desses recursos ficam no estado para cumprir essas obrigações, e vai para o município também para cumprir essas obrigações que os municípios têm. Então, não é justo tirar dinheiro da saúde, da educação para garantir o lucro dos acionistas da Petrobras, que é predominantemente acionista estrangeiro. Então, a culpa é fundamentalmente do governo Bolsonaro.

Tribuna – A candidatura de Jerônimo Rodrigues para o governo da Bahia. O senhor acredita que ainda tem chance de crescer nas intenções de votos aí nos próximos meses?  

Daniel Almeida – Eu tenho certeza, e ela vai crescer e vai ganhar a disputa eleitoral. Ela tem um comportamento hoje absolutamente semelhante ao comportamento de outras candidaturas do campo da esquerda. Se a gente olhar a candidatura de Wagner em 2006, teve exatamente esse comportamento. Cresceu lentamente e chegou na reta final ganhando a eleição do primeiro turno. A campanha de Rui em 2014 começou muito desacreditada, e com resultados muito abaixo das pesquisas e cresceu rapidamente e ganhou a eleição no primeiro turno. Rui era também em 2014 pouco conhecido. A força que entregou a essa vitória estava relacionada com os candidatos, que eram bons candidatos, e relacionada com o projeto político que essas candidaturas defendiam. A vinculação com o presidente Lula e um projeto político renovador, transformador da Bahia. Isso está mais forte hoje. Lula é mais forte hoje do que era em 2014. O grupo político que defende a candidatura de Jerônimo é mais forte do que o grupo político anterior. Então, eu tenho convicção que essa candidatura crescerá e vai vencer a eleição. Espero que seja possível ainda o primeiro turno.

Tribuna – Alguns integrantes do União Brasil não têm descartado a possibilidade de ACM Neto apoiar Lula em um eventual segundo turno contra Bolsonaro. É viável? 

Daniel Almeida – ACM Neto tem responsabilidade pela eleição de Bolsonaro. O partido dele participou e participa do governo Bolsonaro. A bancada do União Brasil apoia quase todas as medidas que Bolsonaro encaminha para o Congresso Nacional. O partido que elegeu o Bolsonaro (o PSL) é a maior parte do União Brasil, que é o partido de ACM Neto hoje. Como ele pretende se desvencilhar desse projeto? Ele está absolutamente identificado com esse projeto. Como ele sabe que os eleitores da Bahia rejeitam o Bolsonaro, fica tentando dissimular, fazer malabarismo para descolar a posição dele, do Bolsonaro, e tentar alguma identidade com o Lula. Não vai colar. Lula tem candidato e é Jerônimo, que tem um projeto na Bahia que se identifica com o Lula. E é isso que eu acho que o eleitor vai perceber quando o debate eleitoral ganhar corpo.

Tribuna – A gente vê o presidente Lula aí liderando as pesquisas de intenção de votos, com diferença razoável em relação ao Bolsonaro. Apesar disso, o senhor acredita que ainda há chance de Bolsonaro vencer a eleição em outubro? 

Daniel Almeida – Eleição só se define quando abre a urna e conta os votos. Ninguém ganha de véspera nem perde de véspera. Mas as pesquisas, mas não só as pesquisas, o sentimento que a gente percebe na população, é que não há razões para votar em Bolsonaro, a não ser aqueles apaixonados, de forma fanática acompanha o Bolsonaro. Mas há muitas razões para votar no Lula, porque as pessoas sabem quem é Lula, o que representa seu governo, a segurança que ele traz para a recuperação do nosso país em todas as áreas. Portanto, acho que as coisas ficam muito claras quando os dois projetos são confrontados. E o cenário de hoje indica que a maioria dos eleitores, cerca de 75% dos eleitores, já definiu o seu voto e não tem pretensão de alterar essa definição. Então, tudo se conduz para uma eleição com o grau de polarização, mas com larga de vantagem para a candidatura de Lula. Com esse grau de polarização, mas com larga vantagem para a candidatura do Lula. É isso que está sinalizado, e eu acho que tende a permanecer assim. Se você olhar a trajetória das pesquisas nos últimos 12 meses, ela se mantém neste patamar. A diferença, e a consolidação dos votos já definido. Então, vai se materializando.

Tribuna – Existe algum tipo de ameaça à segurança das eleições ou até as instituições a depender do resultado das eleições?  

Daniel Almeida – A vontade de Bolsonaro é de não ter eleição. Se ele tivesse força para dar um golpe, dar uma virada de mesa, ele faria isso, mas não acredito nisso. Acho que independente dessa vontade, as instituições brasileiras estão fortes. Têm se mantido com solidez suficiente para respeitar a institucionalidade, a Constituição. O Bolsonaro é uma figura isolada institucionalmente, isolada na opinião pública e internacionalmente. Não tem nenhuma – vamos dizer assim – nenhuma interrupção no ambiente internacional que possa dar o mínimo de segurança e sustentação a um golpe de força, que ele possa pretender. Então, eu tenho convicção de que a eleição vai acontecer, e nós vamos respeitar o resultado eleitoral, como deve ser.

Tribuna – Qual a expectativa do PCdoB da Bahia para eleição deste ano? 

Daniel Almeida – O PCdoB é parte dessa disputa. Tem, além de defesa do projeto nacional do Lula, um projeto local com Jerônimo. Temos muito interesse em crescer nessa disputa eleitoral, eleger uma bancada maior, eleger 2 a 3 deputados federais, e cinco deputados estaduais.

Tribuna da Bahia