O prejuízo causado pelo incêndio que destruiu 61 ônibus da empresa Salvador Norte, do consórcio Integra, nesta segunda-feira (29) deve chegar a R$ 12 milhões. A informação foi divulgada por um dos diretores da Salvador Norte, Marcelo Santana, de acordo com o levantamento inicial da empresa.

 

Segundo ele, o número é baseado na idade da frota, embora um ônibus novo custe, em média, R$ 400 mil. A Salvador Norte, contudo, ainda não sabe dizer qual era o tempo médio de vida dos coletivos atingidos na garagem que fica na Avenida Santiago de Compostela, no Parque Bela Vista, em Brotas. Nenhum dos veículos tinha seguro.

 

Para a prefeitura de Salvador, contudo, o prejuízo estimado chega a R$ 20 milhões.  “Ainda não sabemos quais são as causas do incêndio, nem onde começou. Quem vai dizer é a perícia do DPT (Departamento de Polícia Técnica). Foi por volta de meia-noite, mas conseguimos tirar boa parte dos carros, só que esses veículos têm muita fibra”, afirmou. A prefeitura de Salvador, por outro lado, informou que 78 ônibus foram destruídos segundo o Correio.

62 tiveram perda total e 16 parcial segundo o Correio da Bahia. Segundo Santana, a garagem abriga cerca de 230 coletivos. No momento em que o incêndio foi percebido, estavam no local a equipe de manobristas e a equipe de operação da garagem, que acionaram a brigada de incêndio do local.  Enquanto a brigada de incêndio tentava conter as chamas, os funcionários retiravam os ônibus da garagem e levavam para a rua.

 

“Foi tudo muito rápido. Uma garagem dessas não fica com menos de 50 pessoas em qualquer horário do dia”, explicou. Ao todo, a Salvador Norte conta com 874 ônibus, além de 80 veículos da frota reserva: Eles ficam em cinco garagens. Além da que foi atingida pelo incêndio, há duas em Pirajá e duas em São Cristóvão.

 

Sem seguro
Segundo o assessor de relações de trabalho da Integra, Jorge Castro, o fato de a empresa não ter seguro para os ônibus não é uma decisão rara. De acordo com ele, a visão geral das empresas de ônibus é de que o valor do seguro é tão alto que não compensa, do ponto de vista econômico.

 

“Ninguém hoje, no Brasil, quer fazer seguro de ônibus. É muito complicado, até porque é muito alto. É igual a um cara que tem uma Ferrari. Eles não fazem o seguro porque é muito caro. Normalmente, o seguro é feito com carros mais baratos”, exemplifica.

 

Ao Correio, o diretor do Sindicato das Seguradoras da Bahia, Sergipe e Tocantins Nelson Uzêda explicou que, até o fim da década de 1980, as empresas de ônibus costumavam fazer a apólice de incêndio de tradicional – até então, essas apólices permitiram que os coletivos estivessem dentro da cobertura do seguro.

 

“Ao longo dos anos, verificou-se que isso era praticamente um erro técnico, porque estávamos fazendo seguro de incêndio e não caberia fazer seguro de bem móvel. É como se fizesse a cobertura de uma casa e já contemplasse a cobertura do carro”.

 

As seguradoras, então, passaram a oferecer os chamados seguros ‘multi risco’, que contemplam incêndios, explosões, danos elétricos, roubos de bens até um determinado valor. Menos o seguro dos ônibus em si – esses teriam que ser adquiridos em uma segunda apólice. Uma empresa segurada por uma das seguradoras do sindicato, por exemplo, que tem cinco garagens (cada uma segurada em até R$ 3 milhões) paga R$ 11 mil por ano no pacote multi risco.

 

“Os ônibus não estão mais aqui. Não é que a seguradora não aceite. A seguradora aceita, mas não na forma e no modelo que era feito antes”. Quanto ao seguro dos próprios ônibus, ele acredita que as empresas não vejam vantagem financeira. A taxa média do seguro de um ônibus hoje fica em torno de 5% a 10% do valor do veículo.

 

Assim, se uma empresa tiver uma frota de mil coletivos que custaram R$ 400 mil cada, o valor chegaria a R$ 40 milhões por ano. Além disso, existe um seguro obrigatório por lei federal, que dá assistência a terceiros em casos de danos corporais ou materiais – é o de responsabilidade civil de operações.

 

Operação de emergência
Agora, segundo Marcelo Santana, a Salvador Norte está operando em um esquema “de emergência”. Por isso, foram deslocados ônibus da frota reserva da própria empresa e de outras bacias. “Nós contamos com a solidariedade de outras empresas e com a equipe da Semob (Secretaria Municipal de Mobilidade), que nos acompanhou desde cedo. Somos uma família de cinco mil pessoas que estão todas unidades neste infortúnio e vamos para frente”, afirmou, sem saber detalhar quantos veículos da frota reserva estão sendo utilizados.

 

Ele acredita que em período entre 24 e 48 horas, a operação de transporte deverá ter sido completamente regularizada. Enquanto isso não acontece, ao longo da manhã desta segunda-feira, o Correio esteve em alguns bairros de Salvador para ver como estava a situação nos principais pontos de ônibus.

 

A empregada doméstica Maria Lima, 53 anos, ficou no ponto de ônibus do final de linha do bairro de Santa Cruz por cerca de 30 minutos esperando o veículo que a levaria até o Iguatemi. A espera de acordo com ela, não é normal, já que, em outros dias, ela costuma esperar 10 minutos. No bairro, era possível ver ônibus de outra empresa circulando – um veículo da empresa Plataforma estava fazendo a linha Santa Cruz-Lapa.

 

“Não sei se tem relação com o incêndio, mas não está normal”, disse Maria. No final de linha da Pituba, o aposentado Antônio Borges, 64, também reclamou da demora. “Olha, eu venho aqui esporadicamente, mas já estou esperando há um bom tempo”, contou o aposentado.

No entanto, outras pessoas relataram que o fluxo de ônibus estava normal. “Vi umas pessoas reclamando mais cedo, mas, pelo horário, aparentemente está tudo normal. Eu, por exemplo, cheguei aqui no horário”, disse a vendedora de lanches Nércia Tereza, 55.

 

Um motorista, que não quis se identificar mas faz a linha Pituba-Lapa, contou que deixou de fazer a primeira viagem. O ônibus que ele circulava ficou queimado. “Deixei que fazer a primeira viagem, mas a empresa me deu um ônibus para que eu pudesse continuar trabalhando. Vamos esperar a poeira baixar, mas, até o momento, ninguém falou em demissão”, disse.

 

Em nota, a prefeitura informou que uma equipe técnica da Semob se reuniu para traçar um planejamento operacional que incluiu o remanejamento de linhas. “Os coletivos atingidos pelo fogo atendiam aos bairros de Brotas, Santa Cruz, Pituba, Boca do Rio, Rio Vermelho, Vale das Pedrinhas e Nordeste de Amaralina. O atendimento a essas localidades não foi interrompido, pois conta com reforço de uma frota reserva”, informam. De acordo com a Semob, o incêndio ocorrido na garagem de ônibus atingiu 78 veículos, sendo que 62 com perda total e 16 parcial.