A sabedoria popular diz que “onde há fumaça, há fogo” e esta linha de raciocínio pode dar conta das disputas internas pelo comando do PSOL na Bahia, ainda que alguns teimem em pintar a imagem de harmonia. No próximo dia 13, conforme nota pública da própria legenda, que o presidente estadual, Fábio Nogueira, nega ser da comunicação oficial, mudanças nos comandos em Salvador e no estado devem ser concretizadas, findando a regência de grupos encabeçados pelo atual presidente.

Nos bastidores, o motivo primeiro para a união de cinco das seis correntes do partido para sacramentar a saída de Nogueira é o descontentamento em relação à forma pouco incisiva em que tem se dado a “oposição” ao governo Rui Costa (PT). “Respeitamos muito o companheiro Fábio, mas acreditamos que precisamos ser mais incisivos”, diz Hilton Coelho, deputado estadual, que na última sexta-feira (27), junto com outros dirigentes do PSOL, participou de agenda especial com o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva.

“Temos um conjunto de questões sobre o estado da Bahia que é muito cruel. É a sexta economia do país, mas o 22º estado em condições sociais de vida. O carlismo deixou a Bahia em 24º e os governos petistas conseguiram reverter isso em apenas dois dígitos. Tem muitas queixas sobre a política de segurança pública, a questão fundiária, as grandes obras, o processos de privatização da saúde, as problemáticas relacionadas à educação …”, elencou o parlamentar.

Hilton acrescenta ainda o que classifica como “questões pontuais”, entre as quais estão a construção da ponte Salvador-Itaparica e o monotrilho do Subúrbio. “Esse conjunto de críticas se avolumou muito a partir de uma análise mais aprofundada dos problemas da Bahia e isso resultou no movimento por uma alternativa”, completa o parlamentar.

Nogueira, no entanto, parece enxergar outra realidade partidária, na qual as decisões tem se dado por meio do diálogo harmonioso. “Eu fico surpreso com esse conjunto de informações. O PSOL passou por um congresso interno agora. A tese do ‘PSOL Popular’ foi a mais votada do estado da Bahia e nacionalmente, mas independente disso, dentro da proporcionalidade das correntes, elas estão dialogando sobre o partido aqui no estado”, avalia.

Para Nogueira, apontar a relação com o governo Rui Costa como justificativa é “personificar” as decisões, quando as tratativas internas são dadas a partir de consulta com os diversos atores da executiva, dos diretórios, não havendo uma “dominância absoluta da figura do presidente”. O presidente estadual destaca que não existe “relação amistosa” com o PT na Bahia, o que há é uma relação de “unidade com o PT no enfrentamento à Bolsonaro”.

“O partido não é uma oligarquia, que tem um dono e essa pessoa se mantém no poder a todo custo. A gente sempre fez o debate internamente não em torno de nomes. O nosso debate está em torno de teses. Estanho também é que o PSOL tem um consenso por uma candidatura própria [na Bahia em 2022]”, avalia Nogueira, relembrando que o que se aproxima é uma renovação das instâncias partidárias e não exclusivamente a eleição de um novo presidente.

Vale ainda relembrar que, no início de agosto, já circulava a ideia de um racha interno, porém pautado na disputa dos deputados petistas Jacó e Valmir Assunção por assumir indiretamente o comando de decisões da legenda. À época, o presidente estadual também afirmou receber com “estranheza e repúdio” a situação. (Bahia Notícias)