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Na linha de frente do enfrentamento da pandemia de coronavírus, os profissionais de saúde são cerca de 8,2% dos contaminados pela doença na Bahia, segundo dados do boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) na quarta-feira (4). O informe da pasta aponta que 29.087 trabalhadores da área de saúde foram confirmados para Covid-19 em um total de 355.753 casos com confirmação no estado.

A pasta da saúde explica que estes profissionais estão mais expostos ao risco de contrair a doença, mas ressalta que todos estão atentos aos cuidados com a biossegurança. A Sesab afirma disponibilizar Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e realizar testes regularmente para evitar que os trabalhadores sejam a fonte de transmissão, visto que a maioria deles atuam em diversas unidades. Além disso, ainda são realizadas ações educativas e treinamentos.

A presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Estado da Bahia (Seeb), Lucia Duque, acredita que a enfermagem é a categoria mais acometida pela doença por realizar cuidados contínuos com o paciente. Citando dados da Sesab e do observatório da enfermagem do conselho federal de enfermagem (cofen), ela indica que  um total de 12.197 trabalhadores da enfermagem da Bahia se contaminaram com o vírus até outubro, destes 7.687 eram técnicos em enfermagem.

Até aquele mês, morreram 15 profissionais da área com a doença, segundo a entidade. A dentista e sanitarista ITA, que pediu para ser identificada com a sigla por medo de sofrer retaliações no local de trabalho, acredita que a contaminação foi menor entre os cirurgiões dentistas.

“O percentual de contaminação confirmada é baixo entre os profissionais da odontologia por duas questões. Muitos casos são assintomáticos e não chegam a ser confirmados. Também tem a questão do uso de EPIs. A categoria possui um hábito, por ter uma exposição maior desde sempre, por isso, acredito que seja a categoria que absorveu mais rápido a sobrecarga de se paramentar mais. Não era uma grande novidade”, afirma a dentista, que ressalta que a troca dos equipamentos era mais difícil na rede pública pela escassez dos mesmos.

O número de profissionais da saúde infectados preocupa o tesoureiro do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do Estado da Bahia (Sindsaúde-Ba), Dijalma Rossi. “Já tivemos um número considerável de vítimas porque a rede pública tem uma idade mais avançada devido à falta de concursos”, alega. A entidade não sabe informar quantos trabalhadores da rede pública ficaram doentes pois os dados foram solicitados para a Sesab, que ainda não respondeu.

Para Duque, os meses de maio a agosto foram o pico de contágio de profissionais de enfermagem, a partir daí, as contaminações começaram a cair. Essa redução de casos ativos é percebida na população geral. Segundo a Sesab, atualmente, são 4.928 pessoas com a doença ativa, patamar mais baixo desde 14 de maio, quando foram registrados 4.729 casos ativos, antes de passar de 5 mil e só agora retornar à casa das 4 mil pessoas com sintomas da covid.

Atenção.
Mesmo com a queda no número de casos ativos, o Sindsaúde-Ba continua alerta para a chegada de uma segunda onda de coronavírus na Bahia. “Precisamos nos preparar para o novo aumento no número de casos para preservar o trabalhador. Ainda não temos vacina e muitos dos profissionais possuem comorbidades, isso nos preocupa”, afirma Rossi.

Uma das lutas de ambos os sindicatos foi pelo afastamento de trabalhadores do grupo de risco em meio à pandemia. A presidente do Seeb relembra que havia uma resistência muito grande em afastar os profissionais no começo, mas os esforços das entidades conseguiu mudar este cenário. Ainda de acordo com ela, essa negativa fez com que muitos funcionários trabalhassem doentes espalhando o vírus pelas unidades de saúde.

Junto com outros representantes do setor, as duas entidades trabalharam para fiscalizar a atuação dos hospitais durante a pandemia e as denúncias de infração das regras de proteção do trabalhador. Um dos problemas encontrados no começo da crise de saúde foi a falta de EPIs para todos os funcionários.

“A falta de EPIs foi evidente, mas também faltava infraestrutura e insumos em parte dos locais de trabalho. O desgaste dos profissionais de saúde também era nítido já que estes trabalhavam muito para compensar as equipes reduzidas”, comenta Rossi.

A carga de trabalho era intensificada com os afastamentos dos colegas que ficavam doente e daqueles que integram o grupo de risco. O auxiliar em enfermagem, J.B.O., qeu também pediu para ser identificado com a sigla, lembra de ter que se expor aos riscos desnecessários pela falta de apoio do hospital onde trabalha.

“Muitos profissionais não possuíam os EPIs necessários. A gente não tinha o amparo da unidade de saúde. Logo no começo, parece que a direção do hospital pensava no lado financeiro pois não queria gastar com os equipamentos. Nós, técnicos e auxiliares de enfermagem, fomos os que mais sofremos porque se nem os médicos, que sempre tem regalias, não tinham a quantidade de máscara necessária, imagine a gente”, relata o profissional. Ainda de acordo com ele, parte dos trabalhadores que eram afastados pela pandemia foram demitidos ao retornar ao trabalho.

Para Duque, foi mais no começo da pandemia em Salvador, no mês de março, que a situação era mais crítica pela falta de apoio das unidades de saúde para com os profissionais. “No começo, foi um pânico muito grande, o vírus mostrou que as condições de trabalho eram ruins, que os trabalhadores sempre estiveram expostos”, afirma a presidente da entidade.

Agora, depois de meses de pandemia e inúmeras denúncias por parte da mídia de condutas erradas nos hospitais, os profissionais dizem se sentir mais seguros. A dentista e sanitarista I.T.A. observa que os colegas estão “perdendo o medo” do vírus e afrouxando os cuidados. “Acho que uma parte dos profissionais relaxou com as medidas de proteção e isso é arriscado. Vejo essa conduta no local onde trabalho na área administrativa. Parece que a situação está sendo normalizada. Além disso, ainda existe serviço que não proporciona os EPIs na quantidade necessária, o que também dificulta a prevenção”, comenta.

Tanto a dentista quanto o auxiliar em enfermagem tiveram coronavírus. Ela apresentou todos os sintomas críticos, mas não recebeu a confirmação da doença por exame. Por ter comorbidade, a cirurgiã dentista não está atendendo, mas continua trabalhando na parte administrativa em unidade de saúde. (Correio da Bahia)