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Diante da saída da União Brasil das negociação de partidos da terceira via, o PSDB optou por manter as conversas com MDB e Cidadania, seguindo um roteiro que deve levar à queda de João Doria (PSDB) e escolha de Simone Tebet (MDB) —e que já vem provocando reações no partido.

Aliados de Doria afirmam não haver chance de que o ex-governador desista e pregam que o PSDB tenha uma candidatura própria, conforme definido nas prévias de novembro vencidas pelo paulista. Eles consideram Doria mais competitivo que Tebet.

Já entusiastas do ex-governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB) também dizem preferir uma candidatura própria, mas não a de Doria —que, na visão deles, prejudicaria a eleição de candidatos a governador e a deputado.

Cresce no partido a cobrança para que tucanos tenham coragem de demonstrar oposição à candidatura de Doria. A costura de uma solução política, afirmam os adversários do paulista, poderia construir outra candidatura tucana em vez de delegar para a terceira via a derrubada de Doria.

Auxiliares de Doria, por sua vez, dizem que o tema da candidatura está superado. Se Tebet for escolhida, afirmam, o natural é que MDB e PSDB se separem e tenham cada um a sua candidatura própria.

Tucanos já desenham um embate na convenção do partido, a ser realizada entre julho e agosto e que conta com o voto de cerca de 500 delegados.

PSDB, Cidadania e MDB acertaram que, no dia 18 de maio, apresentarão o resultado de pesquisas quantitativas e qualitativas que foram definidas nesta semana como critério para a escolha entre Doria e Simone.

Como ambos patinam na intenção de votos e Doria acumula alta rejeição, a aposta é a de que as pesquisas indicarão que a emedebista é mais viável.

Setores do PSDB insatisfeitos com Doria enxergam nesse acordo da terceira via uma saída contra Doria. Por isso, uma ala dos tucanos atua justamente para que o trato não seja desfeito.

Nesta semana, os líderes do PSDB no Senado, Izalci Lucas (DF), e na Câmara, Adolfo Viana (BA), divulgaram uma nota na qual endossam a decisão do presidente do PSDB, Bruno Araújo, de “avançar nas conversas com o MDB e o Cidadania buscando uma candidatura única” sob o argumento de a dispersão da terceira via significa “perder força no cenário nacional”.

O MDB também espera que a escolhida seja Tebet. O presidente da sigla, Baleia Rossi, tem dito que a emedebista é pouco conhecida, mas que tem potencial de crescimento por ter baixa rejeição e ser mulher.

Ainda que a pesquisa encomendada pelos dirigentes partidários esteja concluída no próximo dia 18, o resultado da negociação entre os partidos pode atrasar, de acordo com tucanos.

Se adiantando ao resultado, o deputado federal Aécio Neves (MG), que é inimigo de Doria, defendeu, em reunião da executiva nacional do PSDB na quinta-feira (12), que o partido tenha um presidenciável próprio e disse preferir lançar o paulista a aderir à pesquisa que pode indicar o apoio a Tebet.

Os argumentos do mineiro são de que Tebet não representa grande vantagem eleitoral em relação a Doria e de que o partido precisa lançar um nome diante da polarização. Além disso, boa parte dos tucanos desconfia que o MDB não levará a candidatura da senadora até o fim.

Na prática, os aliados de Leite ainda não desistiram de alavancar sua candidatura nacional, embora o tucano esteja focando sua campanha no Rio Grande do Sul e seja pressionado a concorrer à reeleição lá.

O entorno de Leite reconhece que a esta altura seria difícil viabilizar o nome do gaúcho, mas acredita que mesmo debilitada a candidatura dele seria melhor que a de Doria por evitar comprometer tucanos com uma alta rejeição.

Nesse mesmo sentido, membros do PSDB passaram a citar o nome do senador Tasso Jereissati (CE) como opção presidenciável.

Na reunião da executiva, Aécio e outros tucanos, como o ex-prefeito Nelson Marchezan (RS) e o ex-senador José Aníbal (SP), propuseram que a pesquisa da terceira via inclua também Leite e Jereissati, já que o objetivo é identificar qual é o nome mais competitivo. Aliados de Doria vetaram a ideia.

Outra estratégia cogitada é fazer a composição de uma chapa entre Tebet e Leite —já que Doria não toparia ser candidato a vice da emedebista.

Diante do impasse da terceira via, o ex-senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), da ala histórica do partido, decidiu declarar apoio ao ex-presidente Lula (PT) em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

Doria tem tentado contornar a resistência a ele na sigla. Na semana passada, durante um jantar com parlamentares, ouviu argumentos contrários à sua candidatura, mas pediu mais tempo para demonstrar crescimento nas pesquisas.

Em meio a uma agenda de viagens, que incluiu Bahia, Pará e Nova York, Doria tem batido ponto às quartas-feiras, em Brasília, para reuniões de articulação interna na tentativa de apagar focos de incêndio, nas palavras de um aliado

Membros do PSDB afirmam, nos bastidores, que o partido cumpre um roteiro necessário para tentar diminuir os traumas de retirar a candidatura de Doria.

Isso incluiu o passo atrás de Leite, ao divulgar apoio ao paulista; as inserções de TV; o acordo com a terceira via por Tebet; as reuniões com a bancada e o tempo concedido para demonstrar crescimento nas pesquisas. Depois de tudo isso, dizem, como o cenário não mudou, a ideia é deixar claro a Doria que sua candidatura não é viável.

Como já é previsto que Doria resistirá para manter sua candidatura mesmo com a escolha da emedebista, uma ideia de parte dos tucanos é trabalhar não homologá-lo na convenção e, na ocasião, suscitar outro nome.

A lógica, defendida por integrantes do PSDB como Aécio, é que a sigla tenha candidatura para tentar manter sua relevância nacional.

Integrantes da executiva acreditam que Doria não terá maioria na convenção para impor seu nome. Já aliados do paulista dizem que sim, haverá maioria, apontando que 30% dos delegados são de São Paulo.

Para o núcleo duro da campanha de Doria, no entanto, há uma questão anterior: a de que o regimento do PSDB determina que, no caso de prévias presidenciais, a convenção é homologatória. Ou seja, as prévias já definiram que Doria será o candidato e a convenção não pode mudar essa questão.

Por isso, aliados do ex-governador afirmam que ele não admitirá que outras opções sejam levadas a voto na convenção.

Enquanto parte dos tucanos cobra pressa para a definição do imbróglio da terceira via, a campanha de Doria trabalha com perspectiva de crescimento nas pesquisas somente a partir de agosto e tenta ganhar tempo.

Na tentativa de diminuir a rejeição, Doria tem evitado os holofotes, as polêmicas e as brigas, já que os embates com o presidente Jair Bolsonaro (PL) são lidos como uma das causas de seu desgaste.

Na sabatina da Folha e do UOL, Doria confirmou a mudança de tom e respondeu que “o Brasil está farto de guerra e conflito”. Politica livre