Reprodução

Entre 2 e 4 mil turistas deixaram Morro de São Paulo nesta semana enquanto a ilha penava sem energia elétrica por mais de 48 horas. Essa é a estimativa da Associação Comercial Empresarial de Cairu (ACEC), que considera a situação como uma catástrofe sem precedentes. “Sem energia, não tinha bomba para encher o tanque de água, não tinha como conservar os alimentes e os restaurantes abrirem. Os turistas ficaram sem opção a não ser voltar para casa”, disse Christian Willy, presidente da instituição.

A Prefeitura ainda não tem uma estimativa de quanto foi o prejuízo financeiro, mas os comerciantes tem na ponta da língua as perdas. Dos 20 clientes que estavam hospedados no estabelecimento de Fabrício Matos, 18 foram embora sem pagar, pois, sem energia, não era possível fazer o pagamento por cartão de crédito ou pix.

“Alguns abordamos depois e todo mundo pagou. Teve também os que tinham a reserva ativa e tivemos que fazer o estorno dos dias que eles não ficaram. Outros viriam para cá nesse período e cancelaram a viagem”, diz o empresário, que calcula um prejuízo de cerca de 50% do seu faturamento normal. “Também perdi alimento que estragou e ficamos sem água”, lembra.

É que, sem energia elétrica, não era possível funcionar as máquinas de abastecimento de água na ilha. Os únicos locais que conseguiram funcionar foram os que tinham geradores. A energia na cidade foi interrompida as 18h dessa segunda-feira (19) e só retornou por volta das 20h30 da quarta-feira (21).

Uns dos turistas que deixaram o local foi o casal Samila Ferrer e Guilherme Paiva, que vieram de São Paulo para conhecer pela primeira Morro de São Paulo. “A gente chegou no sábado e logo na segunda acabou a energia. Logo depois acabou a água. Na terça-feira, ainda fizemos um passeio, pois pensávamos que fosse voltar, mas nada. Na quarta de manhã não tivemos outra opção a não ser ir para Salvador”, descreve. É na capital baiana que o casal está atualmente.

“De certa forma, foi bom, pois estamos conhecendo locais novos aqui”, diz Samila, que apesar dos problemas vividos em Morro de São Paulo, vai continuar recomendando a cidade. “Tudo é realmente muito bonito, o pessoal é acolhedor, atende bem e não tivemos problemas. A gente recomenda sim, apesar dessa situação. Mas recomendo também a pessoa sempre levar um carregador portátil e ter ações para se prevenir de eventualidades como essa”, explica.

Engenheiro teve que paralisar obra que acontecia em Morro de São Paulo

Os turistas que puderam ir embora da ilha se livraram do problema que é ficar sem energia e água. Já quem mora no local teve que encarar o perrengue. O engenheiro Luiz Heleno Fernandes, 59 anos, por exemplo, precisou paralisar a obra que realizava em Morro de São Paulo, uma vez que todos os equipamentos movidos a energia elétrica deixaram de funcionar.

“Aliás, esse foi o grande problema da cidade. Comércio, pousada e também as obras ficaram prejudicadas. Não tinha como tirar dinheiro, não tinha como usar máquina, celular descarregado. Não tinha bomba para mandar água para os reservatórios”, lembra o rapaz, que teve a situação amenizada por causa da ajuda de amigos e vizinhos.

“Como morador, já conheço todo mundo e fui fazendo um vale para pagar depois as despesas. Os operários conseguiram ser atendidos pela empresa de alimentação. A gente se organizou, levou água para eles. A prefeitura também deu um apoio, mas tudo dependia mesmo da Coelba, que não dizia claramente o que estava acontecendo”, afirma.

A Coelba, inclusive, foi procurada, mas não respondeu. Na quarta-feira (21), a pasta publicou uma nota que afirma ter mobilizado um contingente com mais de 70 profissionais, entre eletricistas, operadores e engenheiros, em revezamento desde o início da ocorrência, para atuar na recomposição da rede elétrica danificada.

“A hipótese mais provável é que tenha sido causado por uma intervenção externa que provocou esforço mecânico na estrutura da linha de transmissão. As dificuldades de acesso ao local e as condições adversas do terreno – localizado em área de mata fechada e alagado devido às fortes chuvas -, dificultam a chegada de equipamentos e, consequentemente, da conclusão do serviço”, disseram.

Falta de energia na ilha é recorrente

Segundo os moradores, essa não é a primeira vez que Morro de São Paulo sofre com falta de energia. “O problema é que passa ano, entra ano e a Coelba não dá solução definitiva. Eles reestabeleceram a energia e ainda continuam partes sem luz, o que é corriqueiro. O ano todo tem isso. É tanta gente nos procurando preocupados, dizendo que vão perder carne, comida. Nesse momento de pandemia, é triste demais”, desabafa o secretário especial de Morro de São Paulo, Eduardo Ferraz.

O empresário Fabricio Matos também reclama da Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia. “Esses cortes de energia geram uma bagunça total e quem paga somos nós moradores, que vivemos do local. Eu já perdi ar condicionado, TV, frigobar, máquina de lavar, geladeira, videogame, computador, notebook… fora os clientes que não entendem a falta de energia e ainda processam a gente”, disse o dono de pousada.

O presidente da ACEC espera que, após esse apagão de mais de 48 horas ter atingido a ilha, a Coelba faça os investimentos necessários para que não haja esse problema em Morro de São Paulo. “Eu imagino que agora, após essa catástrofe, os investimentos vão ocorrer em velocidade maior para que evite esse problema que dura 10 anos. A infraestrutura não acompanha o desenvolvimento de Morro de São Paulo, mas precisamos fazer uma virada e não perder os turistas”, defende.  (Correio da Bahia)