Carolina Antunes/PR

Jair Bolsonaro negou, ao ser questionado na Índia, que seu ministro Sergio Moro esteja na frigideira. “Eu não preciso fritar ministro para demiti-lo. Nenhum ministro meu vive acuado com medo de mim. Minhas ações são bastante pensadas e muito bem conversadas antes”, afirmou. Não é exatamente o que aponta reportagem da Reuters. Confira:

A intenção de se recriar o Ministério da Segurança Pública arrefeceu na manhã desta sexta-feira com o recuo do presidente Jair Bolsonaro que, logo ao chegar à Índia, disse que a chance de a proposta vingar “no momento é zero”, mas o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, vai continuar numa espécie de “frigideira” na tensa relação com seu chefe.

“A chance no momento é zero. Tá bom ou não? Tá bom, né? Não sei amanhã. Na política tudo muda, mas não há essa intenção de dividir. Não há essa intenção”, disse Bolsonaro a jornalistas.

“Há interesse de parte de setores da política. Nós simplesmente aceitamos recolher as sugestões, educadamente dizemos que vamos estudá-las, e os ministérios continuam sem problema”, acrescentou.

Bolsonaro havia afirmado na véspera que estudaria recriar o Ministério da Segurança Pública, depois de receber pedido de secretários estaduais da área nesse sentido na quarta-feira. O presidente, no entanto, adiantou que Moro seria contra a mudança.

A avaliação de uma fonte ligada a Moro, que pediu para não ser identificada, feita à Reuters na quinta-feira é que o episódio sobre a recriação da pasta da Segurança Pública faz parte de mais um lance da tentativa de desgastar o ministro, no momento em que pesquisas de opinião o apontam como mais popular que o presidente.

Além disso, embora afirme que apoiará a reeleição de Bolsonaro, Moro é visto como um potencial candidato no pleito presidencial de 2022.

Nesta sexta, a fonte disse que o ministro afirmou a interlocutores que pediria demissão do cargo caso Bolsonaro levasse adiante o plano de separar as pastas da Justiça e da Segurança Pública. Essa estrutura única fez parte do acerto que o então presidente eleito ofereceu a Moro —então principal juiz da operação Lava Jato— para deixar décadas de magistratura e assumir o cargo no Executivo Federal.

O ministro da Justiça não recebeu nenhuma ligação do presidente para conversar sobre o assunto ao longo da quinta-feira, segundo a fonte. Nesta sexta pela manhã, ele foi ao gabinete do presidente em exercício, o vice Hamilton Mourão, para um encontro fora da agenda oficial de ambos.

Moro não falou com a imprensa nem na chegada nem na saída do encontro com o vice-presidente. Alvo de críticas de aliados do presidente por uma atuação independe no início do governo, Mourão submergiu nos últimos meses e recentemente se aproximou de Moro.

“Se o presidente perguntar minha opinião, e aliás já conversamos, ele sabe que eu considero que a situação atual que estamos vivendo é um time que está vencendo. Usando aquele velho chavão, time que está ganhando a gente não mexe”, disse Mourão a jornalistas após o encontro.

“O ministro Moro é uma pessoa muito tranquila, um homem acostumado a sofrer a pressão. Isso aí não abala ele”, resumiu o presidente em exercício. O ministro não vai comentar o assunto oficialmente, segundo a assessoria de imprensa.