A remoção de três corpos do cemitério de Candiba, município do Centro-Sul do estado, deu o que falar nesse fim de semana. Moradores acusam o prefeito de trocar os restos mortais de lugar por questões pessoais, enquanto a prefeitura afirma que o procedimento aconteceu dentro da legalidade e que foi realizado para atender a uma necessidade de reorganização do espaço. O procedimento aconteceu na sexta-feira (28).
O caso ganhou repercussão através das redes sociais. Indignada, uma moradora afirmou em uma publicação que o prefeito Reginaldo Prado (PSD) havia ordenado a remoção de três corpos sem a autorização dos familiares para atender a um desejo pessoal.
“Depois de furar a fila da vacina antes de todos os prioritários, agora resolveu mostrar o seu poder novamente. Dessa vez de forma desumana e sem se importar com a dor dos familiares, simplesmente mandou desenterrar três defuntos, que foram enterrados na frente da sepultura do seu pai, que horror e falta de respeito. O cemitério não é mais público, pertence ao todo poderoso dono do município. Isso é uma vergonha”, disse.
A mensagem repercutiu e a prefeitura precisou se explicar. Em nota, o município afirmou que as remoções foram necessárias por conta de obras de ampliação e adequação que serão realizadas no cemitério, e que as famílias foram informadas e autorizaram o procedimento. Segundo a prefeitura, a reforma ficará pronta em até 90 dias.
“Toda a intervenção no cemitério, como a realocação de sepulcros, foi feita em comum acordo com a gestão do local e com as famílias dos entes falecidos, que foram contatadas previamente e que autorizaram a remoção para outro local devido a necessidade de ampliação. Na oportunidade, também estas presenciaram as remoções, que foram feitas com toda a técnica necessária, discrição e respeito que o ato merece”, diz a nota, assinada pelo secretário de Administração, Cláudio Fernandes.
Alguns moradores perguntaram por que a prefeitura permitiu que os corpos fossem sepultados naquele local se sabia que havia um projeto de reforma para aquela região. O gestor afirmou, em outro comunicado, que os sepultamentos foram realizados em um local indevido, por engano.
“O funcionário, por equívoco, abriu essas três sepulturas nesse local [em frente à capela do cemitério]. É um espaço amplo onde as pessoas ficam para fazer as celebrações, por isso, que convidamos os familiares, e eles concordaram em fazer a remoção desses corpos para outro espaço do cemitério municipal”, diz.
A explicação não convenceu. Moradores questionaram o motivo de a remoção ter acontecido a noite, de apenas os corpos que estavam na frente da sepultura do pai do prefeito terem sido removidos, e da necessidade de se fazer esse tipo de procedimento em tempos de pandemia. Algumas pessoas também questionaram se a prefeitura recebeu autorização judicial para fazer a mudança dos corpos.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-BA) informou que as remoções de corpos por falta de vagas ou para reorganização dos cemitérios podem ocorrer sem necessariamente existir uma ordem judicial, mas que a família precisa autorizar. A Ordem frisou que cada caso é um caso, mas que é importante os familiares estarem de acordo com o procedimento.
Desde que as remoções foram realizadas, na semana passada, não houve reclamações. Investigadores da Delegacia de Candiba contaram que nem os familiares nem outros moradores prestaram queixa sobre o procedimento da prefeitura. Questionado se acompanhou o caso, o Ministério Público ainda não se manifestou.
Vacinação
Essa não foi a primeira vez que a prefeitura de Candiba se envolveu em polêmica esse ano. Em janeiro, o prefeito Reginaldo Prado (PSD) furou a fila da vacina e se imunizou antes que os grupos prioritários da cidade, e ainda postou nas redes sociais. O caso teve repercussão nacional.
O município tinha recebido 100 doses da vacina CoronaVac para imunizar o primeiro grupo prioritário, ou seja, profissionais da saúde ou pessoas com 75 anos ou mais. Porém, o prefeito, que tem 60 anos, foi o primeiro da fila. O fato deixou a população indignada e gerou críticas, e a prefeitura desativou a opção de comentários da publicação feita nas redes sociais, mas manteve a postagem.
Após a repercussão negativa, o prefeito apareceu em um vídeo tentando se justificar. Disse que foi convidado para encorajar os profissionais de saúde que estariam preocupados em tomar a vacina e que a atitude foi fruto de uma boa intenção.
“As pessoas que trabalham no posto de saúde, no combate à covid, me convidaram para estar lá com eles. Ao chegar lá, até o pessoal da saúde estava preocupado em tomar a vacina. Eu respondi que não tem nada demais, que eles podem tomar despreocupados. Com isso, no meio de tantas pessoas, perguntaram o motivo de eu não ser o primeiro a tomar. Dei de mim o melhor autorizando a me aplicarem a vacina”, afirma.
O Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público do Estado da Bahia (MP/BA) estão processando o gestor por ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública – princípios da impessoalidade e da moralidade. (Correio da Bahia)