O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), afirmou nesta terça-feira (26), em São Paulo, que o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), precisa construir uma aliança com os partidos políticos para formar uma base no Congresso, caso deseje governar com o apoio dos parlamentares e votar reformas importantes, como a da Previdência.

Maia participou de um evento com investidores e CEOs do mercado financeiro, promovido por um banco, em que defendeu que a Câmara tenha uma agenda de votações para 2019 que vá além da reforma da previdência, contemplando outros setores, como infraestrutura, a área tributária e até mesmo uma nova reestruturação administrativa da Câmara.

Ao falar sobre a formação da base aliada do governo no Congresso, Maia defendeu uma posição mais ativa de Bolsonaro frente aos parlamentares. Ele quer saber como o presidente pretende construir alianças e se pretende governar com ou sem o apoio dos partidos.

“O problema é que o presidente (Bolsonaro), ele está refém do discurso dele de campanha. A sociedade pós eleição gerou muita expectativa do governo do presidente Bolsonaro de que nós teríamos aí um novo país. Só que as mudanças não são tão rápidas em um país democrático. Quando eu falo que ele (Bolsonaro) precisa decidir se ele vai governar como manda a Constituição, quer dizer, junto com o Parlamento, eu não estou aqui dizendo que tem que nomear um assessor de ninguém”, disse Maia, ao ser questionado sobre a forma como o governo está lidando para a formação da base aliada.

“O que os partidos querem saber é qual tipo de aliança o governo pretende construir para os 4 anos com aqueles que vão dar sustentação para a votação de projetos importantes mas polêmicos, e difíceis e com uma grande rejeição ainda na sociedade”, completou Maia.

“A questão mais importante é: qual é a aliança que ele vai construir? E a gente não pode continuar nesta discussão, do meu ponto de vista, do que é a velha o que eu a nova política. Tem a política e o Parlamento é o ambiente mais importante do diálogo ”, salientou o presidente da Câmara, ao afirmar que não teria, atualmente, os votos necessários para a aprovação da reforma da previdência.

Em 18 de fevereiro, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, deixou o cargo, após uma polêmica envolvendo os filhos de Bolsonaro. Até então, era Bebianno e o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que faziam a articulação com o Congresso.

Maia defendeu uma posição mais dura de Bolsonaro em relação ao Parlamento.

“A política precisa compreender de que forma o presidente Bolsonaro pretende se relacionar com o Parlamento, até porque nós também temos nossos eleitores que também nos demandam nos nossos estados. A questão é construir uma aliança. A gente não pode criminalizar a política em todos os momentos”, cobrou Maia.

“De fato, ele (Bolsonaro) precisa organizar a política. Quem organiza a política no Brasil é o presidente da República e ele precisa entender, ver e organizar a política. Não é uma crítica, mas é um tema importante pra ele (Bolsonaro) ele faça”, disse.

Quando questionado sobre quantos parlamentares o governo possui em sua base aliada atualmente, Maia desconversou, afirmando que o Executivo ainda está “construindo” sua estrutura de apoio e que pretende levar todos os partidos de centro-direita para esta coalizão.

“O governo está construindo a base, ela está em formação. Hoje o governo só tem o PSL na base da Câmara. Não adianta eu, para querer ajudar, colocar o DEM na base se, num quadro polarizado, o DEM sozinho não vai resolver o problema do governo. A gente precisa trazer 10, 12 partidos juntos para que a gente tenha musculatura para dizer que agora nós temos condição de não só aprovar a reforma da previdência. Ir sozinho para a base do governo hoje é uma precipitação, um erro. Ou a gente traz todos os partidos de centro-direita, ou a desorganização só será maior nos próximos meses”, acrescentou o parlamentar.

Votação

O presidente da Câmara defendeu que a reforma da previdência só será ganha se as redes sociais forem usadas para atingir “a emoção” da população. “A decisão de voto não é racional, em de sentimento, a gente vota pela sensação que temos deste tema”, disse ele, salientando que os novos deputados que foram eleitos em 2018 para integrar a Casa, ainda sem experiência política, estão trazendo um novo entusiasmo para deputados mais antigos.

Na Câmara, Maia espera colocar em votação a reforma no início ou na primeira quinzena de junho deste ano.

“Se fosse botar na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) hoje (a reforma da previdência) eu acho que perdia ou não votaria, pois a maioria dos deputados iria obstruir para não votar”, disse ele. “Eu espero que até o início de junho, primeira quinzena de junho, a gente está pronto pra votar”, afirmou.

“Este debate de data não é importante”, disse, defendendo que “um mês a mais, um mês a menos” não faria diferença para a votação de um projeto que pretende gerar mudanças em um prazo de 10 anos. Informações do G1 Foto: Cauê Diniz/Divulgação