O governador Rui Costa planeja mandar um pacote de medidas “mais severas” para a Assembleia Legislativa nos próximos dias. A classificação foi do líder do governo, Zé Neto (PT), que sempre foi cauteloso com o uso de adjetivos para projetos do Executivo. Se até a liderança governista trata o tema como “rigoroso”, os deputados que se preparem para votar medidas impopulares e a população que aguarde arrocho.

 

Ainda não há detalhes sobre quais são essas medidas. O governador deu apenas sinais de que haverá um enxugamento da máquina, privatização de empresas públicas “pouco eficientes”, e extinção e incorporação de companhias. Além, é claro, do aperto aos servidores, perpassando por aumento da contribuição previdenciária e o congelamento de reajustes salariais.

 

A oposição vai tentar fazer barulho. Os governistas até podem tentar engrossar o pescoço, no entanto vão esbarrar em um Rui reeleito com mais de 75% dos votos e muito mais forte politicamente do que em 2015, quando assumiu o Palácio de Ondina. O pacote de austeridade, para usar um eufemismo comum na cena política, vai passar a contragosto dos deputados que dificilmente conseguirão mudar os rumos das propostas do Executivo.

 

O rolo compressor, típico de um governo forte, vai ser a grande marca desse final da primeira administração de Rui. Com o governador amparado nas urnas e com a opinião pública inicialmente favorável, os parlamentares sabem que não podem retesar a relação, sob o risco de perderem espaço político a partir de 1º de janeiro, quando efetivamente começa a nova versão do dirigente reeleito.

 

Para além do déficit previdenciário, a máquina pública estadual é cara e precisará ser revista. A não ser que Rui se desvincule da lógica petista – como tem feito com frequência -, os cortes na própria carne não serão significativos o suficiente para impactar no orçamento. Mesmo que a arrecadação bata sucessivos recordes na comparação com exercícios passados, manter a Bahia é uma tarefa complexa e que exigirá malabarismos da Fazenda para evitar que o estado mergulhe numa crise como outras unidades da federação.

 

A Bahia não está mal das pernas, apesar do tom “dramático” utilizado pelo governador. Se estivesse tão ruim assim, o projeto de reeleição não teria sido vitorioso como foi. No entanto, caso a oposição consiga comunicar a possibilidade de “estelionato eleitoral”, hipótese já aventada pelo prefeito de Salvador e presidente nacional do DEM, ACM Neto, é possível que o mar de rosas entre Rui e os eleitores não dure muito.

 

Não parece ser o caminho que a minoria deve tomar, já que saiu extremamente enfraquecida do pleito de outubro. Enquanto os cacos não estiverem reunidos, o governador tem a vantagem da máquina e do discurso. É provável que os projetos encaminhados por Rui não ganhem o apelido de “pacote de maldades”.

 

As medidas, todavia, precisam dar certo para que os baianos não mudem de humor e a lua-de-mel com o governador não acabe antes do casamento ser consumado. Este texto integra o comentário desta segunda-feira (26) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM, Clube FM e RB FM. Por Fernando Duarte