As vinte cidades mais populosas da Bahia agrupam 1.721 dos 1.979 casos do novo coronavírus (Covid-19) registrados no estado até às 17h da última sexta-feira (24), segundo boletim da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) . Destas, apenas Santo Antônio de Jesus não possui infectados. De acordo com a secretaria de saúde do município, a cidade possui 25 casos descartados da infecção pela doença e outras quatro suspeitas.

O motivo para a cidade ser uma exceção dentre o grupo é o trabalho de prevenção realizado de forma antecipada pela secretaria de saúde do município. De acordo com o gestor da pasta, Leandro Lobo, que também é médico emergencista e oftalmologista, a secretaria começou a formular ações de combate ao vírus entre o final de 2019 e o começo deste ano.

“Santo Antônio de Jesus fez uma política de forma adiantada. Quando observamos o movimento dos vírus, começamos a pleitear estratégias para evitar aglomeração e informar sobre a doença. Na virada do ano, montamos a estratégia para a vacinação de casa em casa”, disse o secretário de saúde.

Em 23 e 24 de março, todos os idosos da cidade foram vacinados para H1N1. O serviço foi feito em domicílio e utilizou toda a frota de veículos da secretaria e do poder público municipal. “Antes da campanha se encerrar, cumprimos a meta vacinal em 100% e continuamos vacinando”, afirmou Lobo. Os idosos da cidade também vão receber colírios e outros medicamentos necessários em casa para evitar que eles precisem andar pelas ruas para comprar os remédios.

Em 11 de março, a Organização Mundial de Saúde decretou a pandemia do coronavírus. Um dia depois, em 12 de março, a secretaria de saúde de Santo Antônio de Jesus se reuniu com a sua equipe visando estabelecer um protocolo para atender os pacientes com a doença, estabelecer os fluxos de encaminhamentos e formas de lidar com o atendimento na saúde da família.

“No turno da manhã, as unidades de saúde da família recebe pessoas com sintomas respiratórios. Pela tarde, são atendidos os outros casos. Isso foi pensado para ser mais uma proteção para o profissional da área e para os pacientes. Também aumentamos o prazo de validade das receitas, que passou a ser de 60 dias”, relatou o secretário.

As aulas das faculdades, universidades, cursos e escolas da rede municipal e privada da cidade foram suspensas por 15 dias em 17 de março. As instituições continuaram fechadas e, em 15 de abril, a medida foi prorrogada por mais quinze dias.

O comércio da cidade também foi fechado de forma preventiva em 23 de março. Na data, um decreto da prefeitura determinou a suspensão do comércio, do funcionamento de indústrias e serviços por 15 dias. As únicas exceções eram: mercados, bancos, indústria de alimento e fármacos, farmácias, distribuidoras de gás, postos de gasolina, hotéis, laboratórios, clínicas e hospitais.

“Também conversamos com as cadeias produtivas de Santo Antônio de Jesus. O comércio e as indústrias param em um momento oportuno. Informamos a todos sobre a doença e como ela é transmitida. Agora, estamos flexibilizando o comércio lentamente. As indústrias voltaram a funcionar com um plano de enfrentamento. O comércio também, em especial os gêneros essenciais. Mas ainda temos academias, cinemas e bares fechados”, informou o secretário.

Em 17 de abril, a prefeitura permitiu o funcionamento de lojas de venda e aluguel de automóveis e motos, além dos pet shops de segunda a sábado das 8h às 13h. As entidades religiosas, também puderam voltar a abrir. Para manterem as portas abertas, os estabelecimentos devem adotar as medidas de prevenção ao contágio e contenção da propagação de infecção viral.

Em 20 de abril, novas flexibilizações foram publicadas no Diário Oficial do Município. Com a determinação, lojas da cidade puderam voltar a funcionar em um sistema de escala, com dias e horários determinados para a abertura de certos estabelecimentos. Entretanto, lojas de conveniências, academias, lan houses, bares, restaurantes e clubes de Santo Antônio de Jesus ficam fechados por, pelo menos, mais seis dias a partir de 21 de abril.

Outra ação tomada pela gestão municipal de Santo Antônio de Jesus foi o fechamento de seis entradas menos importante da cidade para enviar o fluxo de entrada no município para locais com barreiras educacionais, disse o secretário. “Temos uma barreira pedagógica, agentes ficam nas entradas da cidade que estão abertas explicando sobre a doença e medindo a temperatura das pessoas. Damos orientações sobre o cenário da doença, explicamos das restrições da cidade e pedimos para o visitante usar máscaras.Assim, também temos um controle dos carros e placas de onde vem as pessoas que chegam em Santo Antônio de Jesus”, disse Lobo.

Santo Antônio de Jesus ainda possui uma sala de crise onde são monitorados os pacientes respiratórios da cidade. Ainda foi formado um gabinete e um comitê de crise para analisar a situação e enfrentar o vírus. A secretaria de saúde aposta na informação dos moradores como uma aliada para evitar o coronavírus, por isso, publicou o plano de enfrentamento da Covid-19 em seu Diário Oficial.

“Tem se preocupado e um desafio muito grande para os gestores de sensibilizar a população, demonstrar que o alvo não é o comércio, mas o vírus. Temos uma campanha de mídia e concedo entrevistas coletivas”, disse o secretário.

As ações de informação da população são de extrema importância no combate ao vírus, relatou a médica sanitarista e professora da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Eliana de Paula. “É necessário educar a população para que ela tenha uma preocupação com os cuidados. As pessoas precisam saber que não pode espirrar e tossir de qualquer jeito. Também não é possível levar a mão ao nariz e a boa e não lavar. Essas são medidas de higiene que todos devemos seguir”, relatou a especialista.

Infecção é questão de tempo

Para a médica, a chegada do vírus nas cidades menores é apenas uma questão de tempo. Devido ao fluxo menor de pessoas, é mais difícil que uma pessoa com a doença chegue ao município e espalhe o coronavírus, ressalta Eliana. “Nas localidades mais distantes dos grandes centros demora mais tempo para a doença chegar. Quanto mais turismo, intercâmbio comercial e acessos rodoviários e aéreos, maior é a chance da cidade ser acometida precocemente. Entretanto, o contágio vem em ondas e começa nos maiores locais até chegar nos rincões mais distantes”, disse.

Até às 17h desta sexta-feira (24), apenas 17,72% das 79 cidades baianas com menos de 10 mil habitantes possuíam infectados, apontam dados do boletim da Sesab. Os outros 65 municípios da faixa populacional não tem doentes.

Na Bahia, são 306 cidades sem casos confirmados da doença. Dentre os municípios que registraram pacientes infectados, 95 têm menos de 100 mil habitantes. Entretanto, estas localidades possuem, juntas, apenas 269 pessoas com coronavírus dentre uma população total de 2.963.291.

Para as cidades que ainda não têm confirmação das doenças, a médica indica que não é necessário proibir a circulação com outros municípios sem infectados. “A vigilância epidemiológica do lugar deve ficar atenta e fortalecer o sistema de notificação. Os moradores devem ser estimulados a informarem os sintomas para que a doença possa ser identificada precocemente. Com o infectado identificado, é a hora de tomar as medidas cabíveis”, indicou.

Eliana também não recomenda um isolamento antecipado em todos os locais sem casos confirmados. De acordo com ela, a medida de isolar a população deve ocorrer no momento certo para que a população consiga ficar em casa pelo tempo necessário. “O isolamento tem uma hora para começar e o momento certo para acabar para que as pessoas não se cansem e parem de se isolar. Se a cidade entra precoce no isolamento, as pessoas se cansam e relaxam. Mas se a medida é tomada de forma tardia, a difusão da doença aumenta”, explicou a médica sanitarista.

Entretanto, não há um livro de regras a serem seguidas na prevenção do coronavírus. Cada município deve analisar o contexto em que está inserido, ressalta Eliana. Uma cidade vizinha a outras com infectados têm mais chances de receber o vírus, por isso, os gestores devem analisar os dados da região e da própria cidade antes de tomar cada decisão.

“Existem casos em que tomar a decisão de suspender o transporte, por exemplo, é um zelo. Estamos em uma guerra e nesse cenário se faz o que é possível. A medidas, entretanto, não garantem que a cidade não vá registrar um caso, mas cabe a cada autoridade decidir com base em dados e na notificação da doença. É preciso estar atento”, ressaltou a médica.

Barreiras sanitárias

Mesmo sem casos confirmados da doença, a prefeitura de Itacaré implantou barreiras sanitárias na entrada da cidade. Com a restrição, apenas moradores e pessoas que comprovem a realização de atividades essenciais podem entrar no local. Todos os veículos autorizados a passar são submetidos a um processo de lavagem, com uma mistura de água e água sanitária.

Em entrevista ao Jornal da Manhã, o prefeito de Itacaré, Antônio de Anízio, afirmou que muitas pessoas estavam procurando a cidade para passar a quarentena. Outro fator que pesou para a instalação das barreiras foi a proximidade com as cidades de Ilhéus e Itabuna, que possuem 134 e 104 infectados pela doença, respectivamente.

Ainda de acordo com o prefeito, moradores de Ilhéus, Itabuna e Salvador têm tentado alugar imóveis em Itacaré. “Eles estão buscando alugar casa e hospedagem aqui para fugir das cidades. As pessoas estão querendo aproveitar para vir fazer turismo em Itacaré, e não podemos expor nossa população ao risco de contrair coronavírus”, comentou Anízio em entrevista ao Jornal da Manhã.

Para a médica sanitarista, as barreiras sanitárias são mais uma medida disponível na luta contra o vírus, mas também devem ser aplicadas no momento certo. “Não é algo inoportuno, mas é preciso fazer as barreiras sanitárias no tempo certo. Depois que o vírus entrou na cidade já era. É importante lembrar que estamos diante do desconhecido e está todo mundo aprendendo. Algumas medidas podem ter sido restritivas demais e outras de menos, mas só os resultados dirão. Sabemos que o uso de máscaras é efetivo, mas em que percentual? As barreiras também, mas qual é a proporção disso? Os estudos só estão sendo concluídos agora”, disse Eliana.

Apesar de ainda não se saber a dosagem certa de cada medida de prevenção, as gestões municipais cidades buscam formas de evitar a disseminação do vírus nas suas cidades. A médica aponta que o treinamento da equipe de saúde deve ser feito o mais rápido possível para estruturar o serviço que irá receber o paciente infectado.

Na guerra contra o coronavírus, a médica sanitarista indica o acompanhamento da situação nas cidades vizinhas e também uma ação detalhada da vigilância epidemiológica para identificar possíveis casos. “Deve haver uma articulação com o estado para ter leitos para atender a população. As cidades precisam educar a população sobre os riscos da doença e como se prevenir. Para os maiores de 60 anos e as pessoas no grupo de risco, a indicação é ficar em casa. Quem tem que sair para trabalhar deve prestar atenção para a higiene respiratória e ficar atento a possíveis sintomas para buscar um serviço de saúde. Junto com a prefeitura, a população deve fazer sua parte para evitar o contágio pelo vírus evitando ficar em aglomerações”, assinalou a especialista.

Casos por população

A cidade de Santo Antônio de Jesus também é o único município entre os 17 com mais de 100 mil habitantes da Bahia sem casos confirmados da doença. Os dados populacionais são uma estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) da população residente nos locais em 2019.

Na outra ponta da lista das 417 cidades da Bahia, a cidade de Aiquara é a menor dentre as que possuem casos confirmados. Dentre a população de 4.446, foi notificado um paciente com testagem positiva para o coronavírus. O local faz parte das 14 localidades com menos de 10 mil habitantes com infectados.

Entre as cidades de até 20 mil habitantes, são 143 sem casos confirmados do coronavírus. Destas, vinte e duas possuem infectados. Dentre elas, está Una, que registrou dois casos da doença entre seus 19.002 moradores.

Ainda não possuem doentes com coronavírus 56 das 77 cidades baianas com até 30 mil habitantes. Na faixa populacional dos municípios com menos de 40 mil moradores, são 18 locais sem confirmação do vírus e 14 com infectados.

Nos municípios com população a partir de 40 mil até 100 mil habitantes, foram registradas 24 localidades com pacientes acometidos pela enfermidade. Os outras 23 cidades nessa faixa populacional não têm doentes.

As cidades de Candeias, Luís Eduardo Magalhães e Valença possuem 87.076, 87.519 e 96.562 habitantes, respectivamente. Elas estão entre as 20 maiores em termos populacionais do estado e registraram juntas 11 casos confirmados do coronavírus.

De acordo com boletim da Sesab, os municípios de Bom Jesus da Lapa, Cristópolis, Inhambupe, Saubara e Saúde registram um infectado cada. Entretanto, os pacientes possuem local provável de infecção em Salvador.

Confira abaixo a lista das 20 cidades mais populosas da Bahia e o número de infectados:

Habitantes Cidade Infectados*
2.872.347 Salvador 1218
614.872 Feira de Santana 66
338.480 Vitória da Conquista 23
299.132 Camaçari 35
216.707 Juazeiro 7
213.223 Itabuna 104
198.440 Lauro de Freitas 40
162.327 Ilhéus 134
160.487 Teixeira de Freitas 9
155.966 Jequié 25
155.439 Barreiras 1
151.596 Alagoinhas 7
148.686 Porto Seguro 17
134.377 Simões Filho 6
117.782 Paulo Afonso 2
113.380 Eunápolis 16
101.512

Santo Antônio de Jesus

96.562 Valença 4
87.519 Luís Eduardo Magalhães 2
87.076 Candeias 5