Depois da sua eleição, em 17 de dezembro de 1989, Fernando Collor viveu um período agitado de cerca de três meses até a sua posse como presidente da República. No começo da transição de governo, ele procurou evitar uma aproximação com o então presidente José Sarney. Outro destaque foi que o edifício conhecido como “Bolo de Noiva”, onde se instalou para trabalhar, passou a ser muito badalado em Brasília.

 

Em meio à preparação para seu novo governo, ele ainda realizou uma viagem a vários países, encontrando-se com líderes como a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher e o presidente americano George Bush. Às vésperas da sua posse, Collor fez com que o governo decretasse três dias de feriado bancário à espera de seu novo pacote econômico.

 

Desde o final do primeiro turno, José Sarney já vinha fornecendo dados sobre a administração aos candidatos. Porém os assessores de Collor, particularmente Zélia Cardoso, evitaram conversas com o governo. Quando venceu a eleição, a equipe do presidente eleito divulgou que a intenção era adotar medidas moralizadoras nos primeiros dias do mandato e que pretendiam criar a operação “pega ladrão” para investigar os atos de Sarney.

 

O então presidente respondeu que nada seria encontrado de irregular e que isso poderia desmoralizar o seu sucessor. Apesar dessa troca de farpas, o governo Sarney sinalizou que queria realizar uma transição tranquila. O ministro-chefe do Gabinete Civil, Luís Roberto Ponte, propôs aumentar o diálogo e a aproximação. Sarney estaria disposto inclusive a implementar as sugestões que Collor fizesse.

 

O seu sucessor, porém, rejeitou qualquer possibilidade de formação de uma espécie de governo de coalização durante a transição. “A responsabilidade do governo eleito se inicia em 15 de março”, afirmou. O líder do PRN na Câmara de Deputados, Renan Calheiros, também foi duro. “Se o presidente Sarney não tem competência para governar, que renuncie. O que ele não pode fazer é transferir a responsabilidade do seu governo para Collor”, declarou.

 

As reuniões entre as equipes de transição começaram no dia 10 de janeiro de 1990. A administração Sarney prometeu passar tudo o que era permitido por lei, em clima de tranquilidade. A equipe de transição de Collor ficou instalada em um edifício no anexo 2 do Palácio do Itamaraty.

 

O prédio passou ser conhecido como “Bolo de Noiva” pelo formato arredondado e por causa dos pavimentos construídos com diâmetros diferentes (vão diminuindo à medida que sobem os andares), formando degraus como as camadas de um bolo. O local foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

 

O gabinete destinado ao presidente eleito era luxuoso, com tapetes persas e obras de arte. Já no primeiro mês de trabalho, o local ficou pequeno para tanto movimento de técnicos, políticos e visitantes que passavam por lá. Com isso, membros da equipe de transição passaram também a ocupar o prédio do anexo 1.

 

Tudo isso fez com que o “Bolo de Noiva” ofuscasse o Palácio do Planalto, com o anexo 2 do Itamaraty ostentando status de sede de um “governo paralelo” ao do Sarney. Em sua sala, Collor recebia políticos e técnicos com frequência parecida ao de um presidente em exercício. A sala de espera foi apelidada de “esperódromo”, pois subiam ao andar do seu gabinete um número de pessoas maior do que a capacidade da agenda do presidente eleito.

 

Collor, que inicialmente havia resistido à ideia de se encontrar com Sarney, cedeu ao ouvir amigos mais fiéis e a sua própria mãe, Leda. No dia 2 de março, Collor e Sarney participaram de uma reunião no Palácio do Planalto por uma hora e 23 minutos. Eles ficaram a sós, a pedido do eleito, na parte final do encontro, por cerca de 30 minutos.

 

Nos últimos dias de governo, Collor fez um acordo com Sarney para que já fosse enviada ao Senado uma mensagem indicando Ibrahim Eris para a presidência do Banco Central e outros três nomes para ocuparem cargos de diretores.

 

A maior surpresa veio às vésperas da saída de Sarney do governo, com o presidente eleito já colocando em marcha seu plano para combater a inflação: foi decretado feriado bancário nos dias 14, 15 (data da posse) e 16 março.

 

Essa medida havia sido acertada entre e Collor Sarney no encontro que tiveram no Palácio do Planalto. A economista Zélia Cardoso de Mello, que estava indicada para ser ministra da Economia, disse que a medida foi tomada para preservar a estabilidade do mercado. Folhapress