Agência Brasil

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, afirmou neste último domingo (29) que, se o presidente Jair Bolsonaro ou qualquer pessoa tiver “comprovação de fraude” nas eleições, a Corte vai apurar. Barroso deu a declaração durante coletiva de imprensa, após a realização do segundo turno das eleições municipais deste ano. Ele foi questionado sobre declarações de Bolsonaro sobre a segurança do sistema eleitoral.

“Se o presidente, ou qualquer pessoa, tiver comprovação de fraude, em algum momento, desde 1996 até hoje, eu imediatamente diligenciarei no sentido de apurar. Mas eu sou juiz, eu lido com fatos e provas. Portanto, não posso me impressionar com a retórica política que faz parte de um jogo que não me cabe jogar”, afirmou Barroso. Neste último domingo, depois de votar no Rio de Janeiro, o presidente Jair Bolsonaro afirmou:

“Que nós possamos ter em 2022 um sistema seguro que possa dar garantias ao eleitor que em quem ele votou, o voto foi efetivamente para aquela pessoa. A questão do voto impresso é uma necessidade, está na boca do povo. Desde há muito, eu luto no tocante a isso. E as reclamações são demais. Não adianta alguém querer bater no peito e falar que é seguro, não tem como comprovar. Estamos vendo o trabalho de hacker em tudo quanto é lugar aqui, até fora do Brasil”.

Barroso afirmou que não há possibilidade de fraude ao sistema eleitoral. Disse que há quem ache que a terra é plana e emendou: “Não tenho como controlar o imaginário. Tem gente que acha que o homem não chegou à Lua e que o Trump venceu as eleições”. Ele lembrou que Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma e o próprio Bolsonaro foram eleitos pelo sistema eletrônico.

Voto impresso

O presidente do TSE também afirmou que a adoção do voto impresso no sistema eleitoral brasileiro, defendida por Bolsonaro, “traria grande tumulto” para o processo. “Respeitando a opinião do presidente, respeitando a opinião de todos, eu penso que o voto impresso traria grande tumulto para o processo eleitoral brasileiro”, afirmou Barroso. Ainda sobre o tema, Barroso declarou que o Supremo Tribunal Federal (STF) “já entendeu pela inconstitucionalidade do voto impresso”. E que essa modalidade de votação, além de ter um alto custo de implementação, representaria “risco real para o sigilo do voto”.

“A verdade, porém, é que, objetivamente, o STF já entendeu pela inconstitucionalidade do voto impresso. E entendeu, não apenas, evidentemente, pelo custo de mais de 2 bilhões e meio de reais ao longo do tempo para a sua implantação, mas porque representaria, ao ver do Supremo, um risco real para o sigilo do voto. Portanto, objetivamente, não existe hoje no Brasil a possibilidade de voto impresso”, disse Barroso. “Todo candidato derrotado ia pedir recontagem. Iria haver impugnações, alegações de nulidade e judicialização do processo eleitoral”, acrescentou.

Totalização das urnas

Na entrevista coletiva, Barroso informou que a totalização dos votos se encerrou às 21h11, ou seja, quatro horas e 11 minutos após a finalização da votação na maior parte dos estados. Barroso voltou a ser questionado sobre movimentos de parlamentares e do presidente Jair Bolsonaro a favor da implementação do voto impresso no Brasil. O magistrado, então, fez uma comparação com o processo eleitoral nos Estados Unidos, país que adota o voto em cédula. “Nos Estados Unidos, eles adotam o voto impresso. Hoje [domingo, 29], terminou a apuração no Wisconsin, 26 dias depois da data das eleições. Portanto, se você acha que duas horas e 50 minutos… É só comparar para você ver o que você acha pior e o que você acha melhor”, respondeu Barroso.

Hackers

Rolando Alexandre de Souza, diretor-geral da Polícia Federal, afirmou que está em andamento uma investigação que apura invasões aos sistemas do TSE no primeiro turno. Neste último sábado (28), em Portugal, um hacker intitulado Zambrius, suspeito de fazer um ataque, foi preso em uma operação conjunta entre a Polícia Federal e a Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e Criminalidade Tecnológica da Polícia Judiciária Portuguesa.

“O que temos hoje? Uma investigação do ataque do hacker Zambrius. Esse foi o foco. E a investigação dependeu muito da cooperação da área de informática do TSE, da polícia portuguesa. Agora estamos aprofundando a investigação com o material que foi aprendido. Mas a investigação é focada no Zambrius. Nada mais”, disse o diretor da PF. O diretor da PF afirmou ainda que o cidadão português não agiu sozinho e que contou com a colaboração de outros três hackers. Rolando Souza disse que os hackers são jovens e que interagem, ajudando um ao outro. “Se vangloriam dos ataques que realizam”, declarou.

“Em questão de uma semana, conseguimos as provas para não só demonstrar [o que o hacker fez], mas para dar uma segurança tanto para o Ministério Público, quanto ao Judiciário decidir que aquela pessoa foi a que perpetuou o ataque. Ele não estava sozinho. A princípio, só aparecia na mídia como sendo um português, identificamos que aqui [no Brasil] ele tinha a colaboração de três outros hackers [brasileiros]. E, em função do que a gente colheu de provas, a gente vai aprofundar as investigações porque essa rede de hackers se fala”, afirmou o delegado. De acordo com a PF, houve o cumprimento de mandados de busca e apreensão nos estados de São Paulo e Minas Gerais. G1